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Atrasos reduzem vacinas para metade. Alunos de enfermagem pedem para serem prioritários

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Christian Bruna / EPA

O calendário previsto para as entregas das vacinas não será cumprido. O atraso das farmacêuticas vai fazer com que, até final de março, cheguem cerca de dois milhões de doses a Portugal, metade do que foi previsto em dezembro.

Em declarações ao Jornal de Negócios, Francisco Ramos, coordenador do plano de vacinação contra a covid-19, confirmou que o calendário previsto para as entregas não será cumprido. No início de dezembro, estimava-se que, durante o primeiro trimestre do ano, iriam chegar mais de quatro milhões de doses, mas, com o atraso das farmacêuticas, deverão chegar apenas cerca de dois milhões até março.

Se o plano inicial indicava o envio de 1,5 milhões de doses da Pfizer até março, agora, segundo Francisco Ramos, Portugal não deverá receber mais do que cerca de 200 mil. O calendário da Moderna deverá ser cumprido, com a entrega de 227 mil doses no primeiro trimestre deste ano.

Já em relação à AstraZeneca, estava previsto que chegassem a Portugal 1,4 milhões de doses, mas os atrasos revelam que o número cai agora para cerca de 700 mil recebidas. As cerca de um milhão de doses da vacina Janssen/J&J também não vão chegar em março, sendo que, na melhor das hipóteses, chegam em junho.

Alunos de enfermagem

Os estudantes de enfermagem, inseridos em ensaio clínico, lançaram uma petição pública para serem incluídos no grupo prioritário. Já conta com mais de 11 mil assinaturas.

“É com tristeza que, enquanto estudantes de enfermagem, constatámos que não fomos contemplados nos Grupos Prioritários da Vacinação contra a COVID-19. Estamos presentes na prestação de cuidados, seja em meio hospitalar ou comunitário, pelo que, apesar de ainda não sermos profissionais de saúde, estamos expostos aos mesmos riscos e contactos. Além disso, constituímos possíveis veículos de transmissão do vírus”, lê-se.

Segundo o Expresso, o Ordem dos Enfermeiros já tinha defendido que este grupo de estudantes deveria constar no grupo prioritário de vacinação. Ana Rita Cavaco chegou a enviar um ofício à ministra da Saúde, Marta Temido, a apelar para que a situação seja tida em conta.

“Discriminação muito forte” dos profissionais dos privados

Depois de um encontro com Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS, Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), disse que “há aqui uma discriminação muito forte em relação aos profissionais dos hospitais privados”.

Considerando que “a vacinação contra a covid é absolutamente essencial”, o líder da APHP salientou que “os médicos e os enfermeiros não são médicos do privado, são médicos que trabalham para os cidadãos portugueses”. Por isso, defendeu que “não há nenhuma razão pela qual esses médicos não estão a ser vacinados, ao contrário dos seus colegas do SNS” e alertou que “90% dos profissionais de saúde dos privados ainda não foram vacinados”.

Aos jornalistas, o presidente da APHP também da falou da primeira fase da pandemia e disse que os hospitais privados disponibilizaram “um total de 354 camas”, mas foi-lhes dito “que não era necessário, em abril de 2020″.

“Nós não desertámos, nós fomos desmobilizados, foi-nos dito que não era necessário os hospitais privados darem esse tipo de apoio”, adiantou Óscar Gaspar, ressalvando que “a partir de novembro, na ARS norte e agora mais recentemente na ARS LVT [Lisboa e Vale do Tejo] tem de facto havido uma solicitação bastante mais forte“.

De acordo com o responsável, o setor particular tem “à volta de 900 camas que estão afetas ao SNS” e cerca de “170 doentes covid internados”, referindo que os seus associados estão “a dar toda a colaboração que é possível, quer em termos dos doentes covid como em termos de doentes não covid”, e que “a colaboração é forte“.

“Ainda hoje, é público que o Hospital da Luz disponibilizou uma ala de enfermaria para receber doentes que tiveram ontem [terça-feira] de ser transferidos do Amadora-Sintra. Há vários hospitais cá de Lisboa que estão a receber doentes covid do SNS, para além de também terem doentes covid que vêm das seguradoras ou que são particulares, e no norte também estamos a tratar doentes covid”, exemplificou.

Questionado sobre um cenário de requisição civil, Óscar Gaspar advogou que “não faz nenhum tipo de sentido” e “não se justifica de todo” porque “não teria nenhum tipo de efeito”, uma vez que “as camas dos hospitais privados estão ocupadas”.

“O Estado não ganharia uma cama sequer pelo facto de recorrer a um mecanismo mais musculado”, garantiu, justificando que “as camas estão ocupadas com aquilo que são doentes que habitualmente procuram os hospitais privados”.

Ainda assim, aponta que quando há solicitações, tem existido “todo o esforço de reorganização de atividade, no sentido de mais e mais” poder afetar camas ao SNS.

No que toca ao combate à pandemia, pediu a apresentação “dentro de poucas semanas” de um plano para a primavera e verão, à semelhança do que foi feito para o outono-inverno, advogando que o “planeamento, para ser eficaz, tem de ser atempado”.

Liliana Malainho, ZAP // Lusa

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