A empregada do bar JP, em Ansião, contou à Polícia Judiciária tudo o que sabia sobre os preparativos de João Paulino, alegado cabecilha do assalto a Tancos, para roubar as armas de guerra.
De acordo com o Expresso, foi uma das três pessoas próximas dos assaltantes que não ficou em silêncio nos interrogatórios e a que mais pode sofrer represálias.
Numa escuta recente, um dos principais suspeitos, António Laranginha, ligou à namorada da prisão para lhe revelar que a mulher que quase todos sabiam ser a amante do alegado líder do roubo “enterrou toda a gente”. Ao telefone, a interlocutora respondeu que sabia da existência de “chibos”, de “gente estúpida que falou” e que ia “dar cabo dessas pessoas”, mencionando especificamente o nome dessa mulher.
Segundo o Ministério Público, existe uma “clara vontade” da namorada de Laranginha de “exercer uma ação violenta” contra esta testemunha-chave do caso, com o objetivo de “a intimidar e pressionar a não colaborar mais com a Justiça”- sobretudo “a prestar declarações que não impliquem” o companheiro naquele crime.
Desconhece-se se a mulher tem neste momento algum tipo de proteção pessoal. Um dos argumentos dos três procuradores do caso para o juiz de instrução João Bártolo de não atenuar as medidas de coação aos ladrões de Tancos é precisamente para que não possam coagi-la a alterar o testemunho que prestou em dezembro do ano passado. Ainda assim, nada impede que pessoas próximas deles o possam fazer.
A empregada de mesa de Ansião revelou aos inspetores da unidade de contraterrorismo da Judiciária que acompanhou João Paulino duas vezes a uma loja que vende equipamento militar situada na Margem Sul.
Na primeira vez, três meses antes do furto dos paióis, o ex-fuzileiro e dono do bar JP comprou uma caixa “de grande volume” para armazenar armas e munições, ideal para ser enterrada debaixo de terra, tal como veio a acontecer. A segunda visita à loja aconteceu um mês depois de Paulino ter entregado grande parte do material bélico à GNR de Loulé e à Polícia Judiciária Militar (PJM). Dessa vez, adquiriu várias caixas próprias para armazenamento de munições, que o MP suspeita terem servido para guardar o material que não entregou na madrugada de 18 de outubro de 2017.
A testemunha disse ter notado uma alteração notória no comportamento de Paulino durante o verão desse ano, aquando da realização do assalto e da posterior negociação com a GNR e com a PJM para devolver o armamento.
Nessa altura, “ouviu muitas vezes” conversas do grupo liderado por Paulino sobre Tancos que, aparentemente, demonstravam “muita preocupação” sobre o assunto, nomeadamente acerca de “um indivíduo de alcunha ‘Fechaduras’”. Paulo Lemos, que tinha sido contratado por Paulino para abrir as fechaduras dos paióis de Tancos, acabou por recusar o serviço e trabalhar como informador para a PJ.
Nas viagens que fez com Paulino ao Algarve, a mulher recorda-se de o dono do bar de Ansião dizer que se queria encontrar com “o amigo da GNR”. Paulino referia-se ao militar Bruno Ataíde, de quem fora colega da escola e que foi o elemento de contacto para se livrar do armamento roubado.
A testemunha chegou a identificar João Paulino como “o grande traficante de droga de Ansião”, contando vários episódios de troca de pacotes suspeitos por dinheiro entre Paulino e outras pessoas, algumas que a mulher também conhecia.
Várias vezes acompanhou Paulino e o seu namorado Pedro Marques à herdade da avó do ex-fuzileiro, perto de Tomar. Foi naquele local que as autoridades suspeitam que Paulino guardou o armamento roubado entre final de junho e outubro de 2017.
A última vez que lá esteve foi “dois ou três dias” antes de Paulino ser detido, em setembro de 2018, no âmbito da Operação Húbris, juntamente com os militares da GNR de Loulé e da PJM que receberam das mãos dele as armas roubadas. Segundo o Expresso, João Paulino seria o único elemento do grupo de assaltantes que defendia a restituição das armas às autoridades.
De acordo com a testemunha, receava não ter compradores para aquele material. “O único que quis que aquilo aparecesse foi o João Paulino. Os outros não queriam que aquilo aparecesse nem nada.”
O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos, foi noticiado em 29 de junho de 2017 e parte do equipamento foi recuperado quatro meses depois.
O caso ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.
A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos, pedida pelo CDS-PP, vai decorrer até junho de 2019, depois de o parlamento prolongar os trabalhos por mais 90 dias.
Bem …agora aparecem amantes e laranginhas, este caso está-se a tornar um verdadeiro vaudeville ou mais uma tele novela com vários episódios. Somos especialistas em tele novelas !
Tendo este artigo a data de 12 de outubro, deviam alterar a frase no final: “A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos, pedida pelo CDS-PP, vai decorrer até junho de 2019,(…)”