Amadeu Guerra conseguiu algo raro na política

Manuel Almeida / Lusa

Amadeu Guerra, futuro procurador-geral da República

Tentemos encontrar uma crítica à escolha de Luís Montenegro para novo PGR. Vêm aí milhares de inquéritos pendentes para o procurador.

Sexta-feira, 27 de Setembro, foi um dia muito cheio – especialmente para os jornalistas, que a certa altura não sabiam a que assunto deveriam dar prioridade.

Já se sabia que Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos estariam juntos para conversar sobre o Orçamento do Estado para 2025. Mas também houve decisões importantes na Assembleia da República, esperadas audições à actual ministra da Justiça (sobre fuga ou incêndios) e à antiga ministra da Saúde (gémeas), além de anúncios relevantes do presidente da República.

Entre tantos acontecimentos, alguns a decorrer em simultâneo, a nomeação do Procurador-Geral da República nem teve o natural destaque que teria num dia mais tranquilo.

Amadeu Guerra foi a personalidade escolhida pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, na sucessão há muito aguardada (ou desejada) de Lucília Gago.

Tem 69 anos e foi procurador distrital de Lisboa e director do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP). Jubilou-se há quatro anos, depois de ter estado no Ministério Público durante mais de 40 anos. Liderou a investigação de processos como Operação Marquês, Operação Fizz e Vistos Gold.

É conhecido por ser trabalhador, discreto, eficaz. Tem currículo, tem óbvio conhecimento da área da Justiça e é respeitado. Por (quase) todos, aparentemente.

Além dos elogios esperados por parte do PSD – Hugo Soares falou em “escolha extraordinária” – o PS nada tinha a criticar a esta opção de Montenegro, o Chega acha que é uma “boa escolha para Portugal”, a IL apresentou um “voto de confiança”, o Livre falou em “novo paradigma” e o PAN vê no novo procurador um nome forte.

E até o PCP elogiou Amadeu Guerra. O deputado António Filipe destacou a sua carreira e lembrou que o novo procurador “conhece bem” o Ministério Público.

“Se o PCP elogia, é quase como se fosse uma aprovação papal”, brincou o comentador Luís Rosa na rádio Observador.

Ou seja, Amadeu Guerra conseguiu algo raro na classe política em Portugal: aprovação geral, quase unanimidade.

Entre figuras públicas ligadas à política, aparentemente a única crítica surgiu de Ana Gomes: “Vai ser um fartote de arquivamentos… como os “voos da tortura” e os submarinos…”, escreveu no X a antiga eurodeputada do PS, fazendo alusão ao arquivamento do suspeito processo dos dois submarinos, que foi arquivado há 10 anos pelo Ministério Público – quando Amadeu Guerra era director do DCIAP.

Já nesta segunda-feira, o Correio da Manhã reforça que o novo Procurador-Geral da República vai encontrar milhares de inquéritos pendentes, além de faltarem cerca de 200 magistrados e de funcionários judiciais.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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