Aguiar-Branco chumbado. PS e Chega batem o pé

José Sena Goulão/Lusa

Ventura diz que AD desmentiu acordo PSD-Chega anunciado de manhã e o candidato proposto pelos sociais-democratas foi chumbado na primeira votação secreta. Candidatura foi retirada pelo PSD. É raro — mas não é a primeira vez no Parlamento (nem no PSD).

À segunda… não é de vez. Era o nome mais provável para suceder a Augusto Santos Silva, mas não vai acontecer. Depois de falhar a eleição para novo presidente da Assembleia da República, com 89 votos a favor, 134 brancos e sete nulos, José Pedro Aguiar-Branco viu a sua candidatura ser retirada pelo PSD e não será o novo presidente da Assembleia da República.

No dia em que arranca a XVI Legislatura, o comunista António Filipe, ainda a dirigir os trabalhos, declarou o candidato proposto pelo PSD, que precisava de 116 votos para ser eleito… “não eleito”.

Meia hora depois de lhe ser negada a presidência do Parlamento, os 230 deputados voltaram para uma segunda votação, mas já não aconteceu. O Presidente do Grupo Parlamentar do PSD Joaquim Miranda Sarmento anunciou a retirada da candidatura do ex-ministro da Defesa Nacional.

Criado o impasse, os trabalhos vão continuar ainda hoje para decidir o futuro presidente da Assembleia da República.  Foi acordado que devem ser apresentadas novas candidaturas até às 21h, sendo Às 22h é feita nova votação.

“Se nenhum dos candidatos obtiver esse número de votos, procede-se imediatamente a segundo sufrágio, ao qual concorrem apenas os dois candidatos mais votados que não tenham retirado a candidatura. Se nenhum candidato for eleito, é reaberto o processo”, é o que refere o Regimento.

Chega mostra força: “AD disse que não havia acordo”

O PSD, CDS-PP e Chega somam no total 130 parlamentares, mais do que suficiente para eleger quem quisessem, mas… o voto é secreto.

O chumbo inicial foi encarado como um primeiro aviso do Chega ao PSD. Após dar instruções de voto aos seus deputados para votarem no deputado único, André Ventura quis deixar claro que a AD não consegue qualquer ação sem o Chega.

André Ventura anunciou, de manhã, que o PSD viabilizaria os candidatos do Chega para a mesa do parlamento e indicou que, “no seguimento desta informação”, iria transmitir aos seus deputados que apoiassem também os nomes dos social-democratas; ao mesmo tempo, o PSD votaria no candidato do Chega, Diogo Pacheco de Amorim, para vice-presidente do Parlamento.

No entanto, entre votações, o líder do Chega disse que “o PSD passou a manhã inteira a dizer que não havia acordo.”

“Dirigentes da AD apressaram-se falsamente a desmentir a existência de um acordo”, disse aos jornalistas após o primeiro chumbo. Um dos culpados? Nuno Melo.

“Nuno Melo e outro dirigente vieram dizer que não havia nenhum acordo e que era dispensável”, acusou Ventura.

O deputado do Chega Pedro Frazão chegou a questionar, na rede social X: “Não é não? Então?”

“Aliança de bloqueio”

O presidente da Iniciativa Liberal — cujos deputados terão votado a favor da eleição de Aguiar-Branco — não tardou a atacar a amizade do Partido Socialista (PS) e do Chega.

“Há uma maioria entre o Chega e PS. O Chega não é um partido confiável, a qualquer momento rói a corda, não cumpre o que publicamente tinha dito ainda há poucas horas”. Rui Rocha garante: PS e Chega têm uma “aliança de bloqueio” no Parlamento.

“O Chega votou contra, não é preciso um espírito demasiado agudo de análise para chegar a essa conclusão”, rematou, enquanto sublinhava que a indicação dada aos oito deputados da IL foi votar a favor de Aguiar-Branco.

“Temos que perceber que aquilo que está em causa é uma disponibilidade permanente do Chega para se entender com o PS, para bloquear o país, para contrariar aquilo que foi a decisão dos portugueses de mudança de ciclo político”, concluiu.

“Começou. Avisei na passada semana de que iria haver uma maioria socialista e chegana. Cá está ela”, escreveu no X o vice-presidente da IL Bernardo Blanco.

Fernando Nobre foi chumbado duas vezes

É preciso recuar a 2011, na XII legislatura, para lembrar um candidato único a presidente da Assembleia da República a falhar uma eleição.

Fernando Nobre foi chumbado duas vezes — e à segunda com menos um voto do que à primeira (106 para 105).

Nem os votos do seu partido conseguiu, numa altura em que o PSD e CDS-PP tinham maioria absoluta, e acabaria por renunciar ao cargo.

Tomás Guimarães, ZAP //

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