A morte de Prigozhin dá mais poder à mão de Putin?

ZAP // Alexei Druzhinin / Sputnik / Kremlin

O líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, com o presidente da Rússia, Vladmimir Putin

Yevgeny Prigozhin, o homem que com a sua força mercenária desafiou Putin como nenhum outro, está morto (aparentemente). O que significa a sua morte para a Rússia e para a guerra na Ucrânia?

Yevgeny Prigozhin foi dado como morto esta semana e muitos já esperava esse desfecho, mas o que aparentemente surpreendeu a maioria foi a forma como tal aconteceu.

“O facto de ele ter sido morto de forma tão espetacular é algo novo,” disse a jornalista investigadora russa Irina Borogan à DW esta quinta-feira, acrescentando que as circunstâncias exatas podem nunca vir a ser esclarecidas.

Poucos duvidam que o líder do notório Grupo Wagner esteja mesmo morto e é improvável que a sua morte tenha sido acidental. Há uma alta probabilidade de ter sido um “assassinato contratado pelo Presidente russo Vladimir Putin”, o responsável, disse o especialista político austríaco Gerhard Mangott, sugerindo ainda que a ação pode ter sido um ato de vingança por parte de Putin pelo embaraço durante a tentativa de golpe de Prigozhin em junho — bem como um “aviso aos críticos em posições de liderança.”

O co-fundador da Wagner, Dmitry Utkin, também estava a bordo

Além de Prigozhin, Dmitry Utkin — que co-fundou o grupo mercenário e cujo pseudónimo “Wagner” deu o nome à milícia — também estará entre as vítimas do incidente. Crescem as provas de que o avião em que seguiam explodiu.

Durante algum tempo, parecia que o conflito entre Prigozhin e Putin estava resolvido. O primeiro, que se mudou para a Bielorrússia, foi visto a movimentar-se livremente e até publicou vídeos onde parecia estar a recrutar tropas para novas missões, incluindo em África.

Quando, no final de junho, Prigozhin liderou uma revolta armada contra a liderança militar da Rússia, ocupando o centro de comando em Rostov-on-Don sem encontrar resistência, marchando parte do seu exército privado para Moscovo e abatendo o avião e os helicópteros que tentavam detê-lo, Putin apelidou-o de traidor. Mas não houve confronto; houve um acordo: a Prigozhin foi prometida imunidade de processos, em troca do exílio na Bielorrússia.

O desafio militar a Putin deixou a Rússia atónita

O incidente deixou a Rússia atónita. No auge da guerra contra a Ucrânia, Prigozhin ousou desafiar o líder do Kremlin como nenhum outro, com meios militares. Durante várias horas, Putin pareceu fraco e impotente.

Nos meses anteriores, Prigozhin havia confrontado o aliado próximo do presidente, o Ministro da Defesa russo Sergei Shoigu, e o Chefe do Estado-Maior do Exército Russo Valery Gerasimov, acusando ambos de incompetência militar, atacando também Putin indiretamente, ao questionar o seu raciocínio para a guerra em público.

Em tempos fora considerado um servidor leal e os seus mercenários fundamentais para ajudar o exército russo a conquistar território na Ucrânia, mais recentemente na cidade de Bakhmut no final de maio. Prigozhin, cuja relação com Putin remonta aos anos 90, foi o primeiro a ter permissão para formar uma força privada para missões em nome de Moscovo na Ucrânia, no Médio Oriente e em África.

Embora os apoiantes de Prigozhin possam estar frustrados, Putin provavelmente não terá que se preocupar com uma segunda revolta, disse Marina Miron da Universidade de Londres, informando a DW de que o líder da Rússia terá encontrado uma maneira “de controlar o grupo.”

Guerra vai sentir o abalo?

Poucos especialistas acreditam que o incidente terá impacto na guerra da Ucrânia, considerando que o agora líder do Grupo Wagner já tinha sido gravemente enfraquecido durante os intensos combates na primavera passada. O exército russo tem lutado sem a ajuda do Grupo Wagner nos últimos três meses e está numa posição melhor aos olhos de Putin.

“A questão é o que acontecerá às missões da Wagner em África, porque o grupo fez muito trabalho sujo para o governo russo e fortaleceu significativamente a influência da Rússia nos estados africanos,” disse Mangott.

Resta saber se o chefe do Kremlin continuará a apoiar o seu ministro da defesa. Prigozhin não foi o único a pedir a substituição de Shoigu; vários nacionalistas e bloggers da guerra cujo apoio é essencial para Putin, que já se terá encontrado com alguns deles pessoalmente, fizeram o mesmo.

// DW

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