“O destino de Judas não é invejável”. Aliados do grupo Wagner prometem vingar Prigozhin

As notícias da morte do líder mercenário espoletaram uma onda de luto na Rússia, com vários aliados do grupo Wagner a prometer não deixar impunes os responsáveis.

Há relatos contraditórios sobre o que terá acontecido, mas a alegada morte de Yevgeny Prigozhin, o oligarca de 62 anos e controverso líder do grupo Wagner, desencadeou uma inesperada onda de luto na Rússia e promessas de vingança entre os seus apoiantes.

Em São Petersburgo, terra natal de Prigozhin, os apoiantes do líder mercenário organizaram uma vigília à porta de um centro de recrutamento do Wagner. Rosas vermelhas e emblemas com o inquietante logótipo de caveira e mira do grupo foram deixados por pessoas que foram prestar homenagem. A antiga sede de Prigozhin também assinalou a ocasião sombria, iluminando os escritórios em forma de crucifixo.

Na internet, as conspirações e especulação sobre o que provocou o acidente de avião não tardaram. Os canais de redes sociais do grupo Wagner insinuaram que o acidente não foi um acaso, com o canal do Telegram Grey Zone a declarar que Prigozhin tinha sido assassinado por “traidores da Rússia“.

“O facto de que os nossos melhores soldados morreram em batalha é a vontade de Deus. Provavelmente quem organizou isto acha que ganhou, mas não ganhou. Se foi uma facada nas costas, a pátria sobreviverá, mas o destino de Judas não é invejável“, escreveu ainda o canal do Telegram “Pátria”.

Alguns indivíduos até sugeriram que o destino de Prigozhin poderia ter sido diferente se ele não tivesse instruído os seus combatentes a abandonar a marcha sobre Moscovo em junho, após um acordo de última hora negociado pelo Presidente bielorrusso Alexander Lukashenko.

Outros também apontaram o dedo à Ucrânia e sugerem que Kiev quis matar Prigozhin a tempo das celebrações do seu Dia da Independência esta quinta-feira, relata o Politico.

O futuro do grupo Wagner

A questão que agora se impõe é o que será do grupo Wagner sem o seu líder. Muitos bloggers militares pró-guerra da Rússia, que muitas vezes elogiaram o grupo Wagner pelo seu envolvimento na Ucrânia, ficaram notavelmente em silêncio sobre o assunto. No entanto, um comentador online, Igor Girkin, suspeito de crimes de guerra que já foi preso por criticar Putin, celebrou a notícia com um emoji de taça de champanhe.

O canal VChK-OGPU observou sombriamente que “Wagner foi decapitado.” Jade McGlynn, especialista na Rússia no King’s College de Londres, aconselhou os antigos tenentes de Prigozhin a manterem-se discretos, mas observou que para os combatentes, a vida “continua como o costume“.

Embora proibido de operar na Rússia e na Ucrânia, o império mercenário global do Wagner continua, particularmente em África, onde o grupo mantém contratos lucrativos com vários Governo e milícias. Apenas na semana passada, Prigozhin fez uma rara transmissão de um discurso a partir de África, anunciando enigmaticamente: “O papá está no edifício.”

Durante a sua vida, a propaganda russa retratou Prigozhin como um patriota e figura essencial na tentativa de Moscovo controlar a Ucrânia. No entanto, a sua morte foi recebida com uma resposta abafada na imprensa estatal.

O canal de notícias Rossiya-24, por exemplo, limitou-se a apresentar os factos do acidente antes de seguir em frente, um contraste acentuado com as emoções demonstradas por aqueles que foram para as ruas e para as redes sociais expressar o seu luto e suspeitas.

As circunstâncias misteriosas em torno da aparente morte de Prigozhin e do futuro do Grupo Wagner prometem continuar a dar muito que falar.