Médicos exigem “ministra não incompetente”

Estela Silva / Lusa

A ministra da Saúde, Ana Paula Martins.

Federação Nacional dos Médicos diz que obrigar hospitais a alterar férias para evitar problemas nas escalas não vai mudar grande coisa. E quer, na pasta de Ana Paula Martins, uma ministra “que perceba de Saúde”.

Se a ministra acha que há administrações “incompetentes” nos hospitais do país, os médicos têm exatamente o mesmo adjetivo para a descrever. E se a bolha de Ana Paula Martins rebentou quando viu as urgências de portas fechadas, a dos médicos rebentou graças ao novo despacho que altera as férias dos profissionais de saúde.

“Acima de tudo, o que exigimos é uma ministra que perceba de saúde, que consiga liderar o Ministério da Saúde com competência — que não tem”, começou por dizer Joana Bordalo e Sá à RTP.

“A única coisa que [a ministra da Saúde] publica são este tipo de diplomas unilaterais, abusivos, lesivos para os médicos e que ainda os vai fazer sair mais do Serviço Nacional de Saúde”, sublinhou ainda a médica e presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM).

Joana Bordalo e Sá referia-se ao despacho que será publicado em breve pelo ministério liderado por Ana Paula Martins, que prevê, segundo o jornal Público, que os hospitais sejam obrigados a alterar as férias dos médicos e enfermeiros, caso as escalas das urgências não estiverem garantidas no inverno. “Sempre” que seja detetada uma situação que “inviabilize a composição integral da equipa” da urgência deve-se “proceder à respetiva revisão” das férias, lê-se no despacho citado pelo matutino.

Recorde-se que os médicos vão voltar a fazer greve na próxima terça e quarta-feira, 24 e 25 de setembro.

A paralisação é convocada “face à total ausência de soluções por parte do Ministério da Saúde (MS) de Ana Paula Martins para a melhoria das suas condições de trabalho (…) O Ministério da Saúde da Ana Paula Martins agravou o caos instalado no Serviço Nacional Saúde (SNS)”, lê-se na convocatória.

 

“Temos de encontrar soluções”

“Há situações em que temos muito falta de recursos humanos, sobretudo em algumas zonas do país e essas zonas preocupam muito e Lisboa e Vale do Tejo é uma dessas zonas. Temos a necessidade absoluta de com três meses de antecedência garantir que temos as escalas completas e, quando não as temos, garantir que conseguimos encontrar soluções. É esse o grande objetivo do despacho”, disse Ana Paula Martins à SIC Notícias este sábado.

A ministra salvaguardou que no despacho estão “previstas situações de exceção”, nomeadamente quando, por “questões familiares ou pessoais”, o profissional de saúde precise de férias naquele momento — mas “nada é absoluto”, reforça.

O murro na mesa da “dama-de-ferro”

Como o ZAP já tinha noticiado, a ministra Ana Paula Martins terá chegado ao seu limite quando se acumularam as urgências fechadas, depois de deixar claro que há “lideranças fracas” no SNS — especialmente nos hospitais — e de ter dito que a pasta que herdou estava num ponto muito mau.

A “limpeza” que vem aí já começou no Garcia da Orta, surpreendendo os seus dirigentes. Pelo menos nove unidades vão mudar de direção: Guarda, Cova da Beira, Aveiro, Leiria, Arco Ribeirinho (Barreiro), Lezíria (Santarém),Oeste, Médio Tejo e Trás-os-Montes e Alto Douro.

A “dama-de-ferro” já tinha dito, este mês, o seguinte sobre a gestão dos hospitais públicos: “Isto não pode acontecer. As unidades locais de saúde têm de garantir a sua missão de serviço público e uma gestão eficaz dos seus recursos humanos”.

Tomás Guimarães, ZAP //

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