O director de neuropediatria do Hospital de Santa Maria, Levy Gomes, mostra-se surpreendido e até em “choque” com a notícia sobre a recusa do Hospital D. Estefânia em dar o tratamento com um dos medicamentos mais caros do mundo às gémeas luso-brasileiras.
“Não sabia de nada”, refere Levy Gomes em entrevista à TVI depois de se ter noticiado que os pais das crianças tentaram, por várias vezes, receber o medicamento Zolgensma no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa. Mas quatro médicos manifestaram a sua objecção e, por isso, o Hospital recusou o tratamento.
“Nunca tinha ouvido falar” dessa recusa, garante Levy Gomes à TVI, reforçando que se o serviço de neuropediatria do Hospital de Santa Maria tivesse tido conhecimento, isso “faria pensar três vezes” e faria “brutalmente” diferença na análise do caso.
“Foi um choque até” conhecer essa recusa, acrescenta o médico, que diz confiar “imenso” no seu “colega do D. Estefânia” e que continua a reafirmar que houve “pressões” no sentido de agilizar o tratamento das gémeas luso-brasileiras no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Médico ameaça divulgar emails “se houver mentiras”
Levy Gomes também revela, na mesma entrevista, que entregou todos os emails que lhe passaram pelas mãos, incluindo os que trocou com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o caso, à Inspeção Geral de Actividades em Saúde (IGAS).
O médico diz ainda que entregou igualmente “a célebre carta que desapareceu” e que foi enviada pela Casa Civil da Presidência da República, através do chefe de Gabinete do primeiro-ministro, para o Ministério da Saúde.
Também haverá emails perdidos no meio do processo. “Ao mesmo tempo que desapareceram alguns emails, outros emails meus, esotéricos, encontrou-os”, refere Levy Gomes numa referência que seria dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa.
“Ele pode estar descansado que não vou divulgar nenhum email, excepto se houver mentiras“, atira ainda o médico.
Levy Gomes critica conferência de Marcelo
Levy Gomes também critica a conferência de imprensa de Marcelo Rebelo de Sousa, onde este assumiu que recebeu um contacto do filho a propósito do caso das gémeas, considerando que foi “extremamente inconveniente”, uma vez que ocorreu na “véspera” da ida de vários elementos do Santa Maria à IGAS para “prestar declarações na auditoria” que está a decorrer.
“Pode parecer um condicionamento das nossas respostas”, analisa o médico sobre o posicionamento público do Presidente da República.
Levy Gomes também se refere ao filho de Marcelo como alguém “muito interventivo, muito activo, como o pai, provavelmente, hipercinético”.
“Provavelmente, agarrou no telefone e começou a falar para todo o lado, à espera que acontecesse alguma coisa – e basta dizer: aqui Nuno Rebelo de Sousa, as pessoas põem-se logo em sentido”, realça o director da neuropediatria do Santa Maria.
A família das crianças desmentiu, entretanto, que conheça o filho do Presidente da República. Mas, neste caso, uma eventual intervenção de Nuno Rebelo de Sousa é “ainda mais grave”, defende Levy Gomes.
“A que título é que uma pessoa vai intervir – ou é um coração de ouro, um homem fabuloso, amigo de todos os pedintes que encontra na rua, ou então, tem que se perceber, falar com ele, perguntar por que é que se interessou tanto por este caso não conhecendo ninguém na família”, constata o médico.
Director clínico do Hospital “é que sabe tudo”
Levy Gomes também nota que o director clínico do Hospital “é que sabe tudo”. É “a peça-chave” do caso, uma vez que foi “o pivô entre o Ministério, ou o doutor Rebelo de Sousa pai, e o filho, e quem recebeu a mensagem e quem a transmitiu à minha directora que marcou a consulta”, aponta o médico.
O Expresso adianta que foi António Lacerda Sales que era Secretário de Estado da Saúde no final de 2019, altura em que as gémeas receberam o tratamento, que pediu ao Hospital de Santa Maria para marcar essa consulta.
Lacerda Sales já disse que não se lembra de ter pedido para marcar qualquer consulta, e realçou que isso não passa pelas mãos de um Secretário de Estado e que seria “eticamente reprovável” para os médicos aceitarem qualquer indicação nesse sentido.
“Nunca eu podia negar nada sem ter acesso a documentos de há quatro anos e com uma pandemia pelo meio“, frisou, contudo, Lacerda Sales citado pelo Expresso, notando que é preciso esclarecer se o pedido “foi de facto feito” e “se foi enviado por e-mail e de que caixa”.
Marta Temido era a ministra da Saúde aquando dos factos e já garantiu que o processo seguiu os trâmites “habituais”.
Caro Senhor Dr. Levy Gomes, muito obrigado pelo esclarecimento. O Portugueses sabem que o pedido foi feito pelo PR, não adianta a espertalhice dele andar a dizer que não se lembra e até pode sair ileso desta trama, mas não nos engana. Se tiver um pingo de vergonha, demita-se. O Senhor enganou roubou os Portugueses para favorecer um cidadão estrangeiro. e não deve ser gratuitamente.
Tenha vergonha, demita-se.
Qual cidadão estrangeiro?