Médica das gémeas confirma que Lacerda Sales a forçou a marcar consulta (mas ordem veio de cima)

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Carlos M. Almeida / LUSA

António Lacerda Sales, ex-secretário de Estado da Saúde

Pedido “irritou um pouco” a neuropediatra, que descreveu o pedido do ex-secretário de Estado da Saúde como “atípico”. Mas o pedido teve origem “superior à secretaria de Estado” da Saúde.

A neuropediatra que acompanhou as gémeas luso-brasileiras confirma que foi pressionada para marcar uma consulta para as crianças após indicação do antigo secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales, afirmando o pedido a “irritou um pouco”.

No entanto, o pedido teve uma origem “superior à secretaria de Estado” da Saúde, embora não saiba de quem, diz a profissional de saúde.

Lacerda Sales disse-lhe que “tinha de marcar” consulta

Ouvida na comissão parlamentar ao caso das gémeas esta sexta-feira, Teresa Moreno, que trabalhava, à data dos factos, no Hospital de Santa Maria e no Lusíadas, disse ter recebido um telefonema da diretora de departamento, após instrução do diretor clínico do hospital e no seguimento de uma solicitação de Lacerda Sales, a dizer que “tinha de marcar” uma consulta para as gémeas por indicação do então secretário de Estado.

A médica admitiu não ter contactado diretamente com o antigo governante, nem com “nenhum dos intervenientes”, mas que essa solicitação vinda de um secretário de Estado a “irritou um pouco” e, por isso, referiu essa questão nos relatórios da consulta.

Teresa Moreno descreveu ainda o pedido como “atípico”, mas acabou por agendar uma consulta para as gémeas para o dia 5 de dezembro de 2020, esclareceu, em resposta ao deputado do CDS-PP, João Almeida.

Ordem veio da ministra… ou de Marcelo

Teresa Moreno disse que, depois de dois telefonemas da diretora de departamento a pedir a marcação de consulta para as gémeas luso-brasileiras a pedido da secretaria de Estado da Saúde e de Lacerda Sales, lhe foi dito, num terceiro contacto, que o pedido teve um origem superior, que não foi identificada.

A neuropediatra declarou que foi a sua diretora de departamento, Ana Isabel Lopes, que lhe passou essa informação, anteriormente transmitida pelo diretor clínico, Luís Pinheiro.

A médica explicitou, em resposta ao deputado socialista João Paulo Correia, que não sabia a quem se referia a diretora de departamento quando falava de alguém “acima da secretaria de Estado”, mas que em conversas informais entre profissionais do hospital se afirmava, embora sem qualquer informação concreta e apenas no “plano da confabulação”, que “acima da secretaria de estado estão a ministra e o Presidente”.

“Estamos a entrar no plano da confabulação, que é uma coisa que não é lógica. Eu digo o que eu ouvi. O que os outros sabem, compete-vos a vocês investigar, não é?”, disse, dirigindo-se aos deputados da comissão de inquérito.

O deputado João Paulo Correia afirmou, após esta resposta, que “não era por acaso que corriam pelos corredores do Hospital de Santa Maria os rumores de que teria havido uma interferência do Presidente da República”, frisando que isso foi dito pelo então presidente do Hospital numa reportagem televisiva, embora não houvesse qualquer evidência.

A neuropediatra garantiu também, em resposta ao deputado do Livre, Paulo Muacho, que “não houve distinção” no tratamento médico das gémeas e que tomou conhecimento da consulta marcada, e posteriormente desmarcada, no Hospital dos Lusíadas apenas através da comunicação social.

Recorde-se que a mãe das gémeas, Daniela Martins, disse na comissão de inquérito que não sabe quem marcou a primeira consulta das crianças em 2019 no Hospital de Santa Maria e não se recorda quando recebeu a confirmação da consulta no Hospital Lusíadas e como chegou à neuropediatra Teresa Moreno.

No entanto, a mãe explicou que a marcação da consulta  aconteceu porque conhecia o trabalho da médica, através de um email do hospital a dizer que o pedido “seria direcionado pela diretoria”.

Quando questionada pela IGAS, a mãe admitiu trocar emails frequentes com Teresa Moreno, mas disse não se recordar de ter feito tal afirmação.

ZAP // Lusa

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