Melissa Weiss/Centro de Astrofísica | Harvard & Smithsonian

Há algo de muito suspeito na forma como esta estrela morreu — e os astrónomos estão estupefactos. Em vez de ser destroçada, uma supernova começou a tentar alimentar-se do pequeno buraco negro perigosamente próximo que a deveria ter engolido.
Os astrónomos descobriram o que poderá ser uma estrela massiva a explodir enquanto tenta engolir um buraco negro que a acompanha, oferecendo uma explicação para uma das mais estranhas explosões estelares alguma vez observadas.
A morte estelar é um processo complexo e misterioso — mas no caso da supernova conhecida como SN 2023zkd, tudo foi mais macabro do que qualquer astrónomo alguma vez tinha testemunhado.
Como o próprio nome indica, esta supernova — o termo astronómico para a explosão que marca a morte de uma estrela — foi detetada pela primeira vez em 2023, quando o Zwicky Transient Facility a identificou graças a novos algoritmos de inteligência artificial desenvolvidos para detetar este tipo de explosões brilhantes.
Um novo algoritmo de Inteligência Artificial concebido para detetar explosões invulgares em tempo real foi o primeiro a detetar a explosão, e esse alerta precoce permitiu que os astrónomos iniciassem imediatamente observações de acompanhamento – um passo essencial para captar a história completa da explosão.
Quando a explosão terminou, já tinha sido observada por um grande conjunto de telescópios, tanto no solo como a partir do espaço.
No entanto, esta supernova revelou-se diferente.
Num novo estudo, publicado na semana passada no Astrophysical Journal, cientistas de Harvard, do Smithsonian e do Massachusetts Institute of Technology ficaram estupefactos com o que estavam a observar a 730 milhões de anos-luz de distância.
Segundo explicam os investigadores num comunicado do Center for Astrophysics Harvard & Smithsonian, a estrela parecia estar perigosamente próxima de um pequeno buraco negro — mas, em vez de ser destroçada, tudo indica que a supernova começou a tentar alimentar-se daquilo que deveria tê-la destruído.
“Não é assim tão invulgar ver buracos negros e supernovas próximos um do outro”, explica ao The Washington Post a astrofísica Ashley Villar, investigadora de Harvard e co-autora do artigo.
“Ambos foram, presumivelmente, estrelas, e algumas teorias sugerem até que as supernovas podem ser parte do processo de formação de buracos negros”, detalha.
No caso da SN 2023zkd, contudo, as coisas pareceram descarrilar muito antes da sua estranha dança com o buraco negro vizinho.
O algoritmo dos cientistas detetou inicialmente o esperado clarão luminoso da supernova — mas, ao analisarem dados de arquivo, descobriram que esta tinha vindo a aumentar de brilho lentamente durante cerca de quatro anos, muito mais tempo do que é habitual neste tipo de fenómenos.
Ainda mais curioso: a SN 2023zkd voltou a brilhar inesperadamente enquanto os astrónomos acompanhavam a sua evolução — um “reacendimento dramático”, como lhe chamam os investigadores, aparentemente relacionado com uma nuvem espessa e em forma de disco detetada perto do local da explosão.
“Pensamos que a fonte de luz resulta de material que colide ao tentar escapar“, explica Villar ao Washington Post. “A explosão atinge esse disco e agora vemos toda esta luz adicional.”
De acordo com uma das teorias, todos esses detritos estariam a tentar libertar-se da força gravitacional do buraco negro companheiro da supernova.
Se análises futuras confirmarem esta hipótese, este comportamento singular poderá ser “um dos sinais mais claros que alguma vez vimos de uma estrela massiva a interagir com um companheiro nos anos que antecedem a explosão”, diz Villar .
Esta é provavelmente uma forma cautelosa de sugerir que poderá ter sido a primeira vez que os cientistas viram uma supernova a tentar devorar um buraco negro, diz o Futurism.
Embora seja provável que já tenham sido observados indícios de interações estranhas entre estes dois tipos de astros extintos, tecnologias como a inteligência artificial usada para descobrir a SN 2023zkd facilitarão a deteção destes fenómenos em flagrante.
“Estamos a entrar numa era em que podemos detetar automaticamente estes eventos raros no momento em que acontecem, e não apenas depois”, explica por seu turno Alexander Gagliano, também co-autor do estudo e investigador da National Science Foundation’s Institute for Artificial Intelligence and Fundamental Interactions.
“Isso significa que podemos finalmente começar a ligar os pontos entre a vida e a morte de uma estrela — e isso é incrivelmente entusiasmante”, conclui Gagliano.