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Sócrates quebra o silêncio

José Goulão / Flickr

Ex-primeiro ministro e ex-líder do PS, José Sócrates

O ex-primeiro-ministro José Sócrates classifica de “absurdas, injustas e infundamentadas” as acusações que lhe são dirigidas no âmbito do processo de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção, afirmando que o caso “tem também contornos políticos”.

Numa carta de oito parágrafos, ditada esta tarde ao jornal Público pelo seu advogado, e também enviada à TSF, o ex-primeiro-ministro queixa-se de “humilhação gratuita”, promete “desmentir as falsidades” que lhe são apontadas e “responsabilizar os que as engendraram”.

Segundo o jornal Público, o texto foi ditado por José Sócrates ao seu advogado a partir de uma cabine telefónica da prisão de Évora, onde se encontra detido preventivamente desde segunda-feira.

José Sócrates, que responde no âmbito de um processo por fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção, responsabiliza o Ministério Público pela acusação, que diz ter “também contornos políticos“. “A minha detenção para interrogatório foi um abuso e o espetáculo montado em torno dela uma infâmia”, sustenta o ex-chefe do Governo entre 2005 e 2011.

O ex-primeiro-ministro do Partido Socialista afirma que ao fim de cinco dias “fora do mundo”, decidiu, em “legítima defesa“, comunicar que as acusações de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais são “absurdas, injustas e infundamentadas”.

 

Há cinco dias “fora do mundo”, tomo agora consciência de que, como é habitual, as imputações e as “circunstâncias” devidamente seleccionadas contra mim pela acusação ocupam os jornais e as televisões. Essas “fugas” de informação são crime. Contra a Justiça, é certo; mas também contra mim.

Não espero que os jornais, a quem elas aproveitam e ocupam, denunciem o crime e o quanto ele põe em causa os ditames da lealdade processual e os princípios do processo justo.

Por isso, será em legítima defesa que irei, conforme for entendendo, desmentir as falsidades lançadas sobre mim e responsabilizar os que as engendraram.

A minha detenção para interrogatório foi um abuso e o espectáculo montado em torno dela uma infâmia; as imputações que me são dirigidas são absurdas, injustas e infundamentadas; a decisão de me colocar em prisão preventiva é injustificada e constitui uma humilhação gratuita.

Aqui está toda uma lição de vida: aqui está o verdadeiro poder – de prender e de libertar. Mas em contrapartida, não raro a prepotência atraiçoa o prepotente.

Defender-me-ei com as armas do estado de Direito – são as únicas em que acredito. Este é um caso da Justiça e é com a Justiça Democrática que será resolvido.

Não tenho dúvidas que este caso tem também contornos políticos e sensibilizam-me as manifestações de solidariedade de tantos camaradas e amigos. Mas quero o que for político à margem deste debate. Este processo é comigo e só comigo. Qualquer envolvimento do Partido Socialista só me prejudicaria, prejudicaria o Partido e prejudicaria a Democracia.

Este processo só agora começou.

Évora, 26 de Novembro de 2014

José Sócrates

 

/Lusa

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