Tiago Petinga / Lusa

O ex-primeiro-ministro José Sócrates
“Quando alguém quer provar que é inocente, quer ser julgado. Ele faz tudo para não provar essa inocência. É mesmo psicopata”, acusa Manuela Moura Guedes, alegando que José Sócrates tenta distrair a opinião pública do que é essencial.
Foi retomado, esta terça-feria, o julgamento da Operação Marquês, onde o Ministério Público (MP) confrontou José Sócrates com escutas em que este combinou um jantar, em 2014, em casa do ex-banqueiro Ricardo Salgado.
Nas interseções telefónicas datadas de abril de 2014 e reproduzidas esta terça-feira no julgamento da Operação Marquês, o antigo primeiro-ministro (2005-2011) aceita, através da sua secretária, jantar em casa de Ricardo Salgado, em Cascais, num encontro para o qual terá também sido convidado o então presidente executivo da Portugal Telecom (PT), Henrique Granadeiro. Mas, mesmo com as escutas, José Sócrates garante que o jantar não aconteceu e que esteve apenas com Ricardo Salgado.
“Fui convidado para jantar, mas o jantar não aconteceu, e estou convicto de que não aconteceu justamente porque o dr. Henrique Granadeiro não apareceu”, reiterou José Sócrates, desvalorizando o facto de, no dia seguinte à data marcada, ter sido escutado a dizer que a refeição em casa do à data presidente do Banco Espírito Santo (BES) ocorrera.
Esta quarta-feira, o Sócrates voltou a ser apanhado em contradições. Depois de ter garantido o contrário, afinal, o ex-governante tinha o número de Salgado guardado antes do alegado jantar.
“Se tinha não me lembro. Eu lembro-me de receber uma chamada e nem saber quem era”, justificou Sócrates, depois de as perícias ao seu telemóvel mostrarem que o número já estava registado.
José Sócrates, de 67 anos, está pronunciado (acusado após instrução) de 22 crimes, incluindo três de corrupção, por ter, alegadamente, recebido dinheiro para beneficiar em dossiês distintos o grupo Lena, o Grupo Espírito Santo (GES) – ligado ao BES, à data acionista da PT – e o empreendimento Vale do Lobo, no Algarve.
Ricardo Salgado, de 81 anos e doente de Alzheimer, e Henrique Granadeiro, da mesma idade, são outros dos 21 arguidos no processo.
Os 21 arguidos – que respondem globalmente por 117 crimes económico-financeiros – têm negado, em geral, a prática de qualquer ilícito.
“Psicopata. Dominava a comunicação social”
Na noite desta terça-feira, em entrevista à SIC Notícias, Manuela Moura Guedes chamou psicopata a José Sócrates.
“Quando alguém quer provar que é inocente, quer ser julgado. Ele faz tudo para não provar essa inocência. É mesmo psicopata. Faz espetáculo, porta-se terrivelmente no tribunal. Tenta distrair a opinião pública do que é essencial”, analisou.
Apesar de uma carreira marcada pelas investigações ao ex-governante, a jornalista revelou que sempre teve um trabalho muito dificultado pelo próprio José Sócrates, que “dominava praticamente toda a comunicação social”.
“Eu tinha de fazer as notícias sob completo segredo”, disse, revelando que no dia seguinte às investigações saírem, o resto dos media não replicava as notícias; e só mesmo a sua equipa tinha acesso às informações.
“A comunicação social não fazia eco de notícias tão espantosas, com provas, com documentos e gravações, em que se dizia que o primeiro-ministro era corrupto”, lamentou.
A jornalista afirmou que, naquele tempo, o Supremo Tribunal e o Ministério Público estiveram do lado de Sócrates: “Na altura, o procurador-geral era Pinto Monteiro e não me deixou pôr um processo de atentado contra o Estado de Direito. Nem sequer a queixa seguiu (…) “Tentaram tudo para travar tudo o que dissesse respeito ao primeiro-ministro”, disse.
Manuela Moura Guedes confessou que a sua saída do jornalismo, graças a estes casos, a deixou com uma mágoa que não consegue ultrapassar. A jornalista alega que a administração espanhola da TVI não quis que o jornal que coordenava regressasse por causa da pressão exercida por José Sócrates.
Caso José Sócrates
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3 Setembro, 2025 “Psicopata. Sócrates dominava a comunicação social”, revela Manuela Moura Guedes