No discurso na tomada de posse do Governo, que está marcada para esta tarde, Marcelo vai lembrar a António Costa que continua presente e que está de olho aberto relativamente a quaisquer abusos de poder.
Será hoje às 17 horas, no Palácio da Ajuda, a tomada de posse do novo Governo, mas o discurso de Marcelo Rebelo de Sousa também estará no centro das atenções.
Perante a maioria absoluta do PS, o Presidente da República antecipou no início da semana que já tem o discurso escrito há bastante tempo e que acha ser agora o “momento adequado” para abordar os desafios do futuro.
Depois de ter tido um primeiro mandato bastante mediático e onde era uma figura muito presente no panorama político, Marcelo já deixou avisos de que não pretende passar para o pano de fundo no que resta do seu segundo, escreve o DN.
Isto apesar de, nas palavras do próprio em 2015, quando era ainda só um candidato à Presidência, “se houver uma maioria absoluta de um partido ou de uma coligação, muito coesos e com um líder forte no Governo, o Presidente tende a apagar-se“.
Agora, o chefe de Estado tem deixado claro que o “namoro” que teve com António Costa nos anos da geringonça chegou ao fim — “namoro” esse que muito deu que falar, com a troca de elogios mútuos e até com o PS a prescindir do apoio a um candidato nas presidenciais, mesmo com a ex-socialista Ana Gomes na corrida.
Marcelo vai agora lembrar a importância do papel da oposição e sublinhar que uma maioria absoluta não é sinónimo de poder absoluto, uma mensagem que o próprio primeiro-ministro ecoou logo no discurso de vitória na noite das eleições.
O primeiro sinal da mudança da relação entre Belém e São Bento chegou já na semana passada, com Marcelo a mostrar-se irritado por não ter sido informado primeiramente do elenco do Governo, tendo a SIC avançado com a sua publicação antes da formalidade da entrega da lista por parte de Costa, o que fez com que o Presidente cancelasse abruptamente a reunião.
Assim, num dia em que a atenção seria toda do Governo, Marcelo apareceu para recordar a Costa que não se vai deixar apagar e que vai endurecer o papel de fiscalizador, deixando avisos sobre quaisquer tendências para pisar o risco ou atropelar o diálogo entre partidos.
O chefe de Estado deu ontem mais pistas sobre o conteúdo do discurso na tomada de posse desta quarta-feira, dizendo que também deixará uma mensagem para os outros partidos, lembrando que “a função do Presidente não é ser líder da oposição“.
“A oposição tem de fazer oposição da maneira como entender que deve fazer. As várias oposições, que agora naturalmente há várias oposições, terão de escolher isso”, antecipou.
Marcelo deve também falar sobre a importância da aplicação certeira dos fundos comunitários e lembrar ao Governo que agora não há desculpas ou margem para erro. Questionado sobre se este contexto exige um PR que fique mais de olho no executivo, Marcelo adiantou que falará também disso no discurso de hoje.
Até aqui tem sido colaborante, será desta que passará a ser fiscal?