O vice-presidente da Comissão Europeia (CE), Valdis Dombrovskis, estima uma “severa recessão” na Europa em 2020, mas considera que Mário Centeno “está a fazer um trabalho realmente bom” na resposta à crise da covid-19, tanto como ministro das Finanças português, como enquanto presidente do Eurogrupo.
Sublinhando a “forma confiante e competente” como Centeno tem dirigido os trabalhos do fórum informal de ministros das Finanças da zona euro na resposta de emergência à crise provocada pela pandemia, o vice-presidente executivo escusa-se, no entanto, a pronunciar-se sobre uma eventual recondução do ministro português como presidente do Eurogrupo, por motivos “institucionais”.
“Centeno está a fazer um trabalho realmente bom na resposta à crise em Portugal, mas também na resposta à crise na Europa, tendo facilitado um acordo sobre um pacote substancial de resposta à crise”, apontou Dombrovskis em entrevista à Lusa, referindo-se ao compromisso alcançado a 9 de Abril no Eurogrupo em torno de três “redes de segurança” para apoiar Estados, empresas e trabalhadores, num montante global de 540 mil milhões de euros.
Dombrovskis sublinhou que Mário Centeno irá agora “trabalhar também na parte da recuperação”.
Portugal com “economia mais resiliente” não se livra de ano complicado
O vice-presidente da CE considerou ainda, na entrevista à Lusa, que Portugal entra na recessão gerada pela covid-19 com uma “economia mais resiliente” face à anterior crise financeira, mas recomenda ao país que recorra aos instrumentos europeus para mitigar consequências.
Destacando as reformas estruturais feitas após a crise de 2009, na qual Portugal foi um dos países europeus mais afectados, o responsável notou que tais medidas “ajudaram a aumentar a resiliência da economia portuguesa e a sua competitividade”.
“Em termos das políticas orçamentais, Portugal era um dos países mais endividados e foi capaz de reduzir substancialmente a sua dívida nos anos de crescimento económico o que, infelizmente, não aconteceu em todos os países endividados”, afirmou Dombrovskis.
Ainda assim, de acordo com o vice-presidente do executivo comunitário, Portugal “não escapa ao restante panorama” de recessão dos países da zona euro e da UE, pelo que Bruxelas estima uma “situação complicada” este ano no país devido aos efeitos da pandemia.
Para evitar consequências graves, “encorajamos Portugal a fazer uso dos instrumentos europeus que estamos a disponibilizar” a nível europeu, destacou Dombrovskis à Lusa, aludindo ao programa comunitário «Sure», que visa salvaguardar postos de trabalho através de esquemas de desemprego temporário, às linhas de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade, o fundo de resgate permanente da zona euro, e ainda às operações de emergência para garantir liquidez aplicadas pelo Banco Central Europeu.
O vice-presidente da CE exortou ainda o Governo português a “utilizar a flexibilidade dos fundos estruturais”, medida introduzida por Bruxelas para permitir a reafectação destas verbas comunitárias à resposta à pandemia.
“De acordo com a informação de que disponho, Portugal poderá realocar entre 2 a 3 mil milhões de euros de verbas da coesão para responder à crise, para aplicar na resposta sanitária, mas também económica, ao nível das pequenas e médias empresas e dos esquemas de desemprego temporários e outras medidas possíveis”, elencou Dombrovskis.
Em perspectivas económicas divulgadas em meados de Abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) antecipou uma recessão de 8% da economia portuguesa e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020, devido à pandemia.
Além desta queda acentuada do Produto Interno Bruto (PIB) português e do aumento do desemprego, o FMI estimou também para este ano uma deflação de 0,2% e um saldo da conta corrente positivo em 0,3% do PIB.
Para 2021 o cenário inverte-se, com a instituição liderada pela búlgara Kristalina Georgieva a apontar para uma recuperação de 5% do PIB, uma taxa de desemprego de 8,7%, uma inflação de 1,4% e um saldo da conta corrente a voltar para o negativo, nos 0,4% do PIB.
Em 2019, o crescimento do PIB foi de 2,2% e a taxa de desemprego foi de 6,5%.
Estas foram as primeiras previsões para Portugal de uma instituição internacional no âmbito da pandemia de covid-19, e seguem-se às do Banco de Portugal (BdP), que, no final de Março, estimou uma queda do PIB nacional de 3,7% num cenário base e de 5,7% num adverso.
No que toca ao desemprego, os economistas do banco central projectaram uma taxa de desemprego de 10,1% em 2020, no cenário base, e de 11,7% no adverso.
Para 2021, o BdP apontava para um crescimento de 0,7% do PIB no cenário base e 1,4% no adverso, e quanto ao desemprego o banco central estima uma taxa de 9,5% no cenário base e 10,7% no adverso.
O FMI projectou para Portugal uma dívida pública de 135% do PIB e um défice de 7,1% em 2020 devido à pandemia.
“Severa recessão na Europa” em 2020
Dombrovskis estima uma “severa recessão” na Europa em 2020, com uma queda em torno de 7,5% no Produto Interno Bruto (PIB) da zona euro, e novo pico do desemprego .
“No que toca às previsões económicas, esperamos uma recessão severa este ano em todos os Estados-membros da União Europeia [UE], e a magnitude dessa recessão está em linha com as recentes previsões do FMI que apontam para 7,5%” na zona euro, disse em entrevista à agência Lusa, em Bruxelas.
Após este período negro, a CE prevê “uma substancial recuperação no próximo ano“.
Mas “claro que isso depende de certos cenários […] porque a retoma económica vai mesmo depender de como as medidas de confinamento forem levantadas“, ressalvou Dombrovskis, frisando que, “assim que haja uma contenção a nível epidemiológico e as medidas começarem a ser retiradas, é de esperar uma recuperação europeia bastante forte”.
Já questionado pela Lusa sobre as consequências da pandemia no desemprego, Dombrovskis admitiu “um aumento substancial” desta taxa em 2020, após ter atingido níveis mínimos na zona euro e na UE.
“Esta é uma situação sem precedentes e há medidas restritivas em toda a UE e em todo o mundo, pelo que o pico no desemprego é já uma realidade”, referiu.
Dombrovskis defendeu, por isso, ser “necessário minimizar” esta subida no desemprego, recordando as medidas já adoptadas pela CE.
ZAP // Lusa
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