Uma única dose de LSD reduz a ansiedade (sem efeitos secundários)

Cerca de metade das pessoas com perturbação de ansiedade generalizada não responde aos tratamentos habituais com antidepressivos, mas os psicadélicos podem trazer alívio.

Segundo um novo estudo, apresentado nesta quinta-feira na JAMA, uma única dose da substância psicadélica LSD parece reduzir a ansiedade sem provocar efeitos secundários duradouros.

“Este é o primeiro ensaio moderno a analisar especificamente o LSD, ou qualquer psicadélico, no tratamento específico da ansiedade generalizada”, afirma Dan Karlin, investigador da biotecnológica MindMed, em Nova Iorque, e co-autor do estudo, citado pela New Scientist.

Esta perturbação caracteriza-se por uma preocupação excessiva com múltiplos aspetos da vida, como o trabalho ou as relações pessoais.

O tratamento de primeira linha inclui fármacos que atuam no humor, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (SSRIs) e outros antidepressivos, bem como terapias de apoio psicológico.

Mas cerca de metade dos doentes não responde a estas opções, explica i investigador. “Para muitas pessoas, os SSRIs não são muito eficazes, provocam efeitos secundários intoleráveis, como a sensação de entorpecimento emocional, porque têm de ser tomados diariamente, e só funcionam enquanto a medicação está a ser administrada”.

Estudos anteriores já sugeriam que o LSD poderia ser uma alternativa. Usado frequentemente em contexto recreativo pelos seus efeitos alucinatórios, pensa-se que atue aumentando os níveis de serotonina no cérebro, o que, em alguns casos, desencadeia experiências emocionais profundas.

Karlin acrescenta que a substância pode ainda potenciar a capacidade do cérebro para se reorganizar e criar novos padrões de pensamento.

Até agora, porém, nenhum ensaio clínico tinha comparado a administração de LSD com placebo em pessoas com ansiedade generalizada.

Para colmatar esta lacuna, Karlin e a sua equipa recrutaram 198 adultos com este diagnóstico. Os participantes foram reduzindo gradualmente a medicação ansiolítica que utilizavam, embora quem estivesse em psicoterapia tivesse mantido as sessões.

Num questionário clínico, avaliaram a gravidade de 14 sintomas, como preocupação, tensão ou dificuldades de concentração, numa escala de 0 a 4. A pontuação média foi de 30 em 56 possíveis, acima do limiar de 24 pontos que define ansiedade grave.

De seguida, os investigadores dividiram os participantes em cinco grupos, que receberam LSD em diferentes doses (25, 50, 100 ou 200 microgramas) ou placebo, sem saberem qual lhes tinha sido atribuído. Um dia depois, apenas os grupos que tomaram 100 e 200 microgramas relataram melhorias nos sintomas, refere Karlin.

Um mês mais tarde, os mesmos grupos registaram reduções médias de 21 e 19 pontos na ansiedade, respetivamente, melhorias que se mantiveram até ao fim do estudo, três meses após a administração.

Cerca de 46% destes participantes entraram em remissão.

Já os que receberam placebo ou as doses mais baixas registaram uma descida entre 14 e 17 pontos, com apenas 20% a atingir a remissão, o que sugere que as doses menores não proporcionaram benefícios adicionais face ao placebo.

Segundo Sunjeev Kamboj, da University College London, os resultados nos grupos de doses mais altas representam uma melhoria significativa em relação ao placebo. “É uma melhoria clinicamente relevante em termos de incapacidade e sofrimento”, sublinha.

A melhoria observada no grupo placebo, fenómeno comum em ensaios sobre ansiedade, terá resultado de uma combinação de fatores, incluindo o acompanhamento e a atenção recebidos durante o estudo, acrescenta Kamboj.

A maioria dos participantes conseguiu adivinhar se tinha tomado LSD ou placebo, algo também frequente nos ensaios com psicadélicos devido aos efeitos alucinatórios. Em todos os grupos, alguns participantes sentiram náuseas e dores de cabeça nas 12 horas seguintes ao tratamento.

As alterações visuais, como alucinações, foram muito menos frequentes entre os que receberam placebo ou doses baixas, em comparação com os grupos de doses elevadas.

Isto levanta a dúvida sobre se os benefícios se deveram às expetativas dos participantes em função dos efeitos sentidos ou a uma ação direta da substância no cérebro, observa Kamboj.

Apesar dessa incerteza, o estudo constitui uma das provas mais sólidas até agora de que o LSD poderá vir a ser útil no tratamento da ansiedade. “É um resultado muito promissor: uma redução rápida dos sintomas pode ter enorme impacto para os doentes”, defende Kamboj.

ZAP //

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