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No meio da pandemia, há uma comunidade de vítimas “esquecidas”

A pandemia de covid-19 está a correr o mundo desde dezembro de 2019, mas há uma comunidade que está a ser esquecida. Entre sinais diferentes, terminologia médica nova e a falta de intérpretes, a comunidade surda sente-se isolada.

Nanette Harmon diretora do programa de American Sign Language (ASL) e Estudos para Surdos da Universidade de Niagara, é uma em 48 milhões de pessoas surdas ou com deficiências auditivas na América e em 466 milhões de pessoas globalmente.

À medida que o mundo enfrenta uma crise de saúde pública histórica que já matou mais de 40 mil vidas norte-americanas, os especialistas temem que a comunidade surda enfrente barreiras de comunicação, tornando ainda mais difícil a sua navegação pela pandemia.

De acordo com o Ozy, devido à nova terminologia médica em torno do novo coronavírus, as legendas na televisão podem ser imprecisas. As notícias locais são legendadas ao vivo apenas nos 25 principais mercados, segundo Howard Rosenblum, CEO da Associação Nacional de Surdos, deixando os restantes com legendas imprecisas.

Isto coloca a comunidade em risco de ser mal orientada e deixa-a sem acesso a notícias locais sensíveis.

Aliás, de acordo com um artigo publicado recentemente na revista científica Nature, existem pelo menos 15 sinais diferentes a ser usados em todo o mundo para designar “coronavírus”, aumentando a confusão.

Craig Radford, diretor do Connect Direct no Serviço de Comunicação para Surdos, disse que vários pedidos inundaram a sua linha direta de coronavírus, desde perguntas gerais sobre sintomas e diretrizes locais até pedidos de subsídio de desemprego.

Para a maioria das pessoas surdas que usam serviços de linha direta de coronavírus fornecidos em ASL, o inglês é a sua segunda língua. Muitos membros na comunidade têm baixos níveis de leitura em inglês – o equivalente ao 4.º ano.

Assim, mesmo que as legendas da televisão sejam aprimoradas, isso não será suficiente. Embora todos os estados norte-americanos tenham incluído recentemente um intérprete, não são totalmente acessíveis. É o caso do intérprete do estado de Nova Iorque, que só tem sido visto nas transmissões online, deixando para trás aqueles não veem as conferências de imprensa pela Internet.

Rosenblum insiste na necessidade de garantir que informações precisas sejam totalmente acessíveis à comunidade através de intérpretes certificados, sempre presentes em conferências de imprensa e briefings importantes.

Diante de uma crise de proporções globais, sinais internacionais comuns são importantes. A Federação Mundial dos Surdos pediu à Organização Mundial da Saúde (OMS) o uso de sinais internacionais para as informações de saúde pública sobre a atual crise. Porém, a OMS ainda não anunciou um sinal global para a pandemia.

Atrasos e barreiras

Johannes Fellinger, especialista no Hospital St. John of God, na Áustria, afirmou que a comunicação individualizada também é crítica, especialmente quando se trata de serviços de saúde e durante consultas médicas e emergências médicas. Normalmente, a comunidade surda sofre um atraso significativo ou uma falta de serviços de interpretação para perceber conversas médicas sensíveis.

Radford denunciou mesmo que alguns dos seus amigos surdos com emergências relacionadas com o novo coronavírus foram classificados como “não-prioritários” e colocados em salas de espera enquanto a equipa esperava por intérpretes.

E, mesmo quando há intérpretes, comunicar usando máscaras não é ideal, uma vez que muitas pessoas surdas seguem o movimento dos lábios e das expressões faciais para entender o que se está a dizer.

As barreiras de comunicação amplificam emergências globais de saúde para a comunidade surda. Se o vírus não discrimina as pessoas, o mundo também o deveria fazer.

MC, ZAP //

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