Arrancaram em Lisboa as celebrações dos 99 anos do PCP que só vão terminar daqui a dois anos. Com muitos beijos e abraços, apesar das recomendações contrárias por causa do Covid-19, e com Jerónimo de Sousa a garantir que a sua tosse nada tinha a ver com o coronavírus, depois de disparar em todas as direcções, com críticas para todos os gostos.
Jerónimo de Sousa, secretário-geral comunista, abriu, nesta sexta-feira, o comício dos 99 anos do partido, em Lisboa, com a evocação de “um partido comunista digno desse nome” que “continua de pé”.
No Pavilhão dos Desportos, em Lisboa, onde o PCP fez o seu primeiro congresso após o 25 de Abril, em Outubro de 1974, decorado em tons de um vermelho forte e com alguns milhares de militantes e simpatizantes, o líder dos comunistas lembrou a história do partido, da fundação em 6 de Março de 1921 à luta anti-fascista, do “luminoso tempo da revolução” dos cravos à actualidade.
“Quase um Século depois da sua fundação, aqui estamos. Somos o Partido Comunista Português. Um partido comunista digno desse nome“, vincou, para depois sublinhar que o PCP “não se deixou, nem se deixa intimidar” e “continua de pé, determinado, confiante e combativo a olhar e a caminhar para a frente”.
Pelo meio do discurso, Jerónimo tossiu duas ou três vezes, mas tratou de descansar os ouvintes. “É uma mera tosse, não se preocupem”, apontou numa altura em que os casos de doentes com coronavírus continuam a aumentar em Portugal.
Jerónimo ataca “os peões de brega” Chega e IL
Durante o seu discurso, o secretário-geral comunista disparou para todos os lados, da esquerda à direita, acusando o PS de ter uma “assumida convergência nos seus eixos essenciais com o PSD, o CDS e agora também com os peões de brega do Chega e do Iniciativa Liberal”.
Na tauromaquia, os peões de brega são os toureiros, consideradas figuras subalternas, que, a pé e com a capa, ajudam na lide de um cavaleiro ou a posicionar o toiro para a pega pelos forcados.
Perante os assobios da assistência, Jerónimo referiu aos “camaradas” que “como eles são, não vale a pena assobiar nem gritar, é desmascarar porque os objectivos deles são iguais aos do PSD e do CDS, contra os trabalhadores, contra o nosso povo, contra a Constituição”.
A outra referência aos partidos dos deputados André Ventura e João Cotrim Figueiredo foi feita quando o líder dos comunistas acusou o “grande capital” de “tirar partido” da actual situação política e do Governo do PS, e “patrocinando o branqueamento de PSD e CDS, promovendo o Chega e a Iniciativa Liberal e difundindo concepções reaccionárias e anti-democráticas”.
O discurso de Jerónimo de Sousa demorou 45 minutos, rodeado por membros da direcção dos comunistas e da JCP, e também não poupou o Governo nas críticas, sublinhando que há “graves problemas económicos e sociais” e “profundos défices estruturais que estão na origem da grande dependência do país” do exterior. Falou de “insuficientes níveis de crescimento económico”, de “profundas desigualdades sociais” e da “degradação dos serviços públicos”, criticando “uma política que, ao longo de décadas, tem servido os interesses do grande capital e submetido o país às imposições da União Europeia e do Euro”.
“Não é possível continuar a iludir que a solução dos problemas nacionais não encontra resposta com a actual política e com o actual quadro de constrangimentos”, referiu Jerónimo, criticando o PS pela “obsessão pelo défice”.
A solução, segundo o líder comunista, passa por uma “política patriótica e de esquerda, em ruptura com a política de direita, por uma democracia avançada, pelo socialismo e o comunismo”.
No final, e como é hábito neste tipo de comício, todos cantaram os hinos “Avante, camarada” e “A Internacional”, com a inovação de serem acompanhados por uma guitarra eléctrica e um violino, e, por fim, cantou-se o Hino de Portugal, sem acompanhamento musical.
ZAP // Lusa
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