Os documentos do escândalo Panama Papers revelaram que o presidente da FIFA, Gianni Infantino, terá intermediado, enquanto dirigente da UEFA, um negócio de cedência de direitos televisivos com uma sociedade offshore, por um montante bastante abaixo dos valores de mercado.
De acordo com o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, o recém-eleito presidente da FIFA assinou em 2006 e 2007, enquanto responsável do departamento jurídico da UEFA, contratos de cedência de direitos televisivos relativos a três temporadas da Liga dos Campeões.
Os contratos terão sido assinados com a empresa Cross Trading, dos empresários argentinos Hugo e Mariano Jinkins, que alegadamente compraram os direitos televisivos por 111 mil dólares (cerca de 97,5 mil euros) e os revenderam por mais de 311 mil dólares (273 mil euros).
Os dois empresários são acusados pela justiça norte-americana de subornos no quadro do escândalo de corrupção que abalou o organismo máximo do futebol mundial e levou à demissão de Blatter.
A UEFA reagiu, entretanto, alegando que, à época, “não eram conhecidos os verdadeiros proprietários da empresa”.
“Gianni Infantino foi um relevante membro da UEFA durante muitos anos, bem como alguém que agiu sempre com total profissionalismo e integridade. Este ataque ao seu caráter e à reputação da UEFA, baseado em provas inexistentes, representa um dia triste para o futebol e para o jornalismo”, pode ler-se numa nota de imprensa divulgada pela UEFA.
O órgão de cúpula do futebol europeu admitiu que deu no passado “respostas inicialmente incompletas” quando questionado sobre transações comerciais com empresas ou indivíduos indiciados pela justiça norte-americana no âmbito do escândalo de corrupção na FIFA: “Não tivemos tempo inicialmente de verificar todos os milhares de contratos e, por isso, a resposta que demos foi incompleta.”
A UEFA admite, relativamente ao contrato em questão, que o convénio foi o resultado de um concurso realizado por uma empresa externa à organização e que a empresa Teleamazonas/Cross Trading venceu, porque “apresentou a oferta de mais elevado valor”.
A organização afirma-se “totalmente disponível” para “discutir e explicar” este e outros assuntos.
Gianni Infantino nega ter cometido “qualquer ilegalidade”
O presidente da FIFA, Gianni Infantino, negou esta terça-feira ter cometido “qualquer ilegalidade” enquanto antigo responsável jurídico da UEFA, no âmbito da assinatura de um contrato duvidoso com uma sociedade offshore de cedência de direitos televisivos.
“Pessoalmente, nunca tive nenhum contacto com a empresa Cross Trading nem com os seus proprietários, já que o processo foi conduzido por uma empresa de marketing em nome da UEFA. Estou conternado, nada sugere que qualquer ilegalidade tenha sido cometida por mim ou pela UEFA e não aceitarei que a minha integridade seja posta em causa. Tanto mais que a UEFA já deu a conhecer todos os pormenores relativos a estes contratos”, afirmou, em comunicado.
Os Panama Papers são o resultado da maior investigação jornalística da história, divulgada na noite de domingo, envolvendo o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), com sede em Washington.
Na investigação são destacados os nomes de 140 políticos de todo o mundo, entre eles 12 antigos e atuais líderes mundiais.
A investigação resulta de uma fuga de informação e juntou cerca de 11,5 milhões de documentos ligados a quase quatro décadas de atividade da empresa panamiana Mossack Fonseca, especializada na gestão de capitais e de património, com informações sobre mais de 214 mil empresas offshore em mais de 200 países e territórios.
A partir dos Documentos do Panamá (Panama Papers, em inglês) como já são conhecidos, a investigação refere que milhares de empresas foram criadas offshore em paraísos fiscais para centenas de pessoas administrarem o seu património, entre eles rei da Arábia Saudita, elementos próximos do Presidente russo Vladimir Putin, o presidente da UEFA, Michel Platini, e a irmã do rei Juan Carlos e tia do rei Felipe VI de Espanha, Pilar de Borbón.