Contabilização da primeira semana de debates. E houve uma interrupção particularmente perigosa: “Tenha tento no que diz”.
Um debate é um debate. É suposto as duas (ou mais) pessoas falarem, por vezes ao mesmo tempo, em confronto de ideias.
E não adianta disfarçar: todos os políticos interrompem os outros. Uns mais do que outros, mas todos falam por cima de todos.
Mas há um que se destaca em interrupções: André Ventura.
Já era visível nos debates na Assembleia da República e, talvez entusiasmado com as sondagens, estes recentes debates televisivos acentuaram essa tendência.
E isso viu-se logo na estreia, no primeiro debate. Foi com Inês de Sousa Real, na segunda-feira (dia 5). Como se lê na revista Sábado: “Primeiro debate de André Ventura, primeiro duelo aos berros“.
Na manhã seguinte a esse debate inaugural, Sara Antunes de Oliveira mostrou o seu desagrado: “É uma gritaria encenada, de café. Mas não é surpresa e vai ser sempre assim”.
E a especialista apontou outra crítica central: retirando algumas excepções, os àpartes e as interrupções constantes do líder do Chega não apresentam argumentos, não acrescentam propostas, não explicam posições; servem sobretudo para atacar a nível pessoal, apontar o dedo. “Quem grita muito tem muito pouco para dizer”, acrescentou na rádio Observador.
Fomos contar as interrupções.
Revemos os três debates que contaram com André Ventura ao longo da primeira semana de transmissões e contabilizamos interrupções e àpartes.
Inês de Sousa Real: 50 interrupções
No já mencionado debate com a porta-voz do PAN, Ventura só demorou 8 segundos a interromper a deputada – enquanto Inês tinha ficado sempre calada durante os 2m22s iniciais em que só falou o líder do Chega. Um tom constante de provocação e ataques; e, lá está, poucos argumentos úteis.
Rui Rocha: 58 interrupções
Foi logo no dia seguinte, terça-feira, 6 de Fevereiro. Até foi em decrescendo, com mais interrupções na fase inicial, mas o total conseguiu superar o debate anterior. Num debate em que Ventura também interrompeu quando concordava com o líder da IL. A sua última intervenção/interrupção, mesmo nos últimos segundos, foi para dizer que Rui Rocha “levou uma coça dos dois” – nos debates com Pedro Nuno Santos e com o próprio André Ventura.
Paulo Raimundo: 45 interrupções
Já na sexta-feira, dia 9, o líder do Chega até ficou calado na intervenção inicial do representante da CDU. Mas esse debate teve uma interrupção com um conteúdo extremo, até perigoso. Ventura disse/interrompeu no meio de comparações: “Eu podia dizer que o PCP foi responsável por assassinatos nos tempos do PREC. Vocês mataram pessoas”. Paulo Raimundo não gostou: “Tenha tento nas afirmações que está a fazer”. Reacção de Ventura: “Isso é uma ameaça? Pensava que esses tempos já tinham passado”.
Total: 153 interrupções
Dá uma média de 51 interrupções por debate; ou quatro interrupções por minuto sempre que o adversário ou adversária fala; ou uma interrupção de 15 em 15 segundos – é sempre uma média, claro.
E até podiam ter sido contabilizadas mais: algumas foram um prolongamento da interrupção anterior; e ficaram de fora interrupções ao moderador ou moderadora do debate.
E esta sequência origina outras duas consequências: menos tempo para a outra pessoa falar e postura diferente no seu adversário.
Em relação ao tempo, só com Inês de Sousa Real é que ficou quase equilibrado (Ventura só falou mais 15 segundos). Falou mais um minuto do que Rui Rocha e falou quase mais dois minutos do que Paulo Raimundo – o líder do PCP até perguntou se o debate já ia mesmo acabar, tendo em conta a diferença.
A postura dos adversários muda. Sobretudo nos líderes de PAN e CDU, foi bem visível que (também) interromperam mais e que se irritaram mais neste debate com André Ventura do que nos outros.
Já na segunda semana, e ainda fora destas contas, ficou o debate com Luís Montenegro. Nessa conversa houve um momento curioso: “Se eu não puder falar, vou-me embora e o Luís fala sozinho” – foi Ventura a queixar-se das interrupções. Montenegro disse que “seria muito interessante ver Ventura queixar-se de ser interrompido. Você não faz outra coisa durante os debates e está agora a queixar-se”, completou.
O perfil
Indo de encontro a esta contabilidade, encontramos o perfil de André Ventura traçado por um especialista em decifrar pessoas: Alexandre Monteiro.
O presidente do Chega, entre outras características, gosta de ser o centro das atenções, gosta mais de falar do que ouvir (porque quer ser ouvido), é impaciente, quer controlar tudo e… “não deixa o outro falar com medo de perder a atenção”.
Além disso, lê-se, tem sentimentos de superioridade e mente mais para parecer bem.
Vai constantemente à luta, entra em confronto emocional, critica muito o outro e desvia o assunto frequentemente – mas usa sempre as emoções para controlar conversas.
Por outro lado, precisa da aprovação dos outros porque receia não ter a aprovação do grupo – e fica furioso quando é criticado, corrigido ou desafiado em público.
O maior medo de Ventura é alguém dizer-lhe que ele está mal, que não sabe ou que não percebe.
Já agora, a bem da isenção, a contabilidade de interrupções de todos os envolvidos nestes debates?
Ventura não tem educação, é um bronco.
É um ser desprezível. Não vale a bosta que k h.
Isso nunca contabilizarão … não lhes interessa, mas isto mostra o medo com que estão Chega.
Na rua assim se comporta , na A:R assim se comporta nos canais mediáticos , porque a de ser ponderado e educado ? …..Só quem não conhece este agitador profissional , é que ainda lhe dá valor ! . Discursos puramente Populistas cheios de nada e vazios de tudo , eis o programa deste Desventura ! . Quanto aos outros concurrentes ao poleiro , sabem mentir mas com zelo !
Ao ponto em que chegamos, contar o numero de interrupções, Vale tudo para ostracizar o Chega. Durante anos os média formatou a sociedade mostrando um debate entre Mário soares e Álvaro cunhal como sendo combativo, hoje seguindo a cultura woke dos média um debate deve ser um monologo assistido pelo o opositor.