UE regista recorde de área ardida e Portugal está no “pódio”. Comissão Nacional investigará grandes incêndios

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SDIS 33/EPA

O balanço provisório dos incêndios na União Europeia (UE) indica um novo recorde nesta altura do ano, com mais de 660 mil hectares ardidos desde janeiro, sendo Portugal o 3.º país na lista. Os grandes incêndios em território português serão investigados pela Comissão Nacional de gestão de fogos.

Desde 01 de janeiro, os incêndios devastaram 662.776 hectares de florestas na UE, segundo dados atualizados no domingo pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), que mantém estatísticas comparáveis desde 2006, graças a imagens de satélite do programa Europeu Copernicus.

A área mais afetada pelos incêndios é a Península Ibérica e, embora a época alta dos incêndios ainda não tenha terminado, os dados mostram a situação mais grave já vivida neste período do ano. O anterior recorde foi em 2017, quando arderam 420.913 hectares até 13 de agosto e 988.087 hectares no ano todo, mais de 400 mil num mês.

A Espanha, com uma grave seca e várias ondas de calor este verão, viu 246.278 hectares devastados por incêndios, principalmente na Galiza, no noroeste. Em termos de área ardida, segue-se a Roménia (150.528 hectares), Portugal (75.277 hectares) e França (61.289 hectares), os países mais afetados.

A França viveu anos piores na década de 1970, antes dos dados europeus normalizados, mas o ano de 2022 é o mais grave dos últimos 16 anos, em grande parte devido a dois incêndios consecutivos em Gironde, no sudoeste do país, onde bombeiros alemães, polacos e austríacos chegaram esta semana como reforços.

Só no período de verão, “2022 já é um ano recorde”, disse à agência France-Presse Jesus San-Miguel, coordenador da EFFIS, citada pela agência Lusa.

A seca excecional na Europa, aliada a ondas de calor, facilita o início dos incêndios. Estas condições eram observadas mais frequentemente em países limítrofes do Mar Mediterrâneo, mas “foi exatamente isso que aconteceu na Europa Central”, até agora poupada por estes fenómenos meteorológicos, acrescentou Jesus San-Miguel.

Por exemplo, a República Checa viu um incêndio devastar mais de mil hectares, o que é pouco comparado com outros países, mas 158 vezes mais do que a média de 2006-2021, quando os incêndios eram insignificantes.

Na Eslovénia, os bombeiros demoraram mais de dez dias, em julho, a controlar o maior incêndio da história recente do país, ajudados por uma população tão mobilizada que o governo teve de pedir aos residentes que deixassem de fazer doações aos bombeiros.

Na Europa Central, as áreas ardidas são reduzidas em comparação com as dezenas de milhares de hectares em Espanha, França ou Portugal, mas a continuação do aquecimento global em toda a Europa só deverá acentuar a tendência.

Grandes incêndios investigados

O presidente presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), Tiago Oliveira, disse ao Público que os grandes incêndios deste verão, como o da Serra da Estrela, vão ser investigados pela da Comissão Nacional para a Gestão Integrada de Fogos Rurais.

O objetivo é “otimizar as melhorias que possam ser introduzidas” e dar indicação dessas medidas à Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e às várias entidades envolvidas.

“Cada um dos incêndios em análise terá um relatório próprio”, indicou, explicando que depois será feita “uma súmula” que será “apresentada e debatida com especialistas e académicos”. Um aponto da situação está previsto para “outubro ou novembro”.

Durante este ano, referiu o responsável, a comissão já teve “reuniões mensais para chamar a atenção para melhorias imediatas”, reconhecendo que “há outras conclusões mais profundas, que serão tiradas” e que poderão passar pelo modo como “o planeamento da floresta é feito e pela sua recuperação, assim como ações de formação dos agentes envolvidos”.

“Para quê criar uma nova comissão ou um grupo de trabalho se a Comissão Nacional para a Gestão Integrada de Fogos Rurais já existe e tem uma orgânica própria que foi criada com este objetivo?”, indagou Tiago Oliveira, quando questionado pelo jornal sobre a razão por que não foi seguido o modelo de 2017 de elaboração de um relatório por um grupo de especialistas, sob a tutela da Assembleia da República.

Fogo na serra da Estrela: “comportamento violento”

O incêndio na serra da Estrela está, na manhã desta terça-feira, a ser combatido por mais de mil operacionais, apoiados por mais de três centenas de viaturas, segundo o site da ANEPC.

O incêndio, cujo primeiro alerta foi dado na madrugada do dia 06 e que reativou esta segunda-feira, atinge os municípios de Manteigas, Covilhã e da Guarda. Por volta das 07:30, as chamas estavam a ser combatidas por 1061 operacionais, apoiados por 330 viaturas.

O último ponto da situação, realizado na noite de segunda-feira, indicava que as chamas estavam a lavrar com uma “intensidade elevada”, registando um “comportamento violento”.

“É um incêndio com um comportamento violento, em muitas áreas com uma intensidade elevada”, afirmou André Fernandes, comandante nacional de Proteção Civil, numa conferência de imprensa na sede nacional da ANEPC, em Carnaxide, no concelho de Oeiras (Lisboa).

Durante a noite de segunda-feira, os meios de socorro fizeram “o confinamento ou a evacuação das diferentes aldeias que se encontram na linha de fogo”.

Segundo o comandante, a reativação que se verificou do incêndio na serra da Estrela teve origem em “três ignições em simultâneo no Vale da Amoreira”, em Manteigas, distrito da Guarda, “com expansão para os concelhos da Covilhã [distrito de Castelo Branco] e da Guarda”.

Apesar de nos concelhos da serra da Estrela terem ocorrido outros incêndios rurais esta semana, este incêndio se destacou pela sua dimensão, uma vez que só foi dominado uma semana depois, na noite de sexta-feira, dia 12.

Além de atingir o concelho da Covilhã, chegou a Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira, queimando um total superior a 14 mil hectares, segundo dados provisórios. Em causa está uma área de parque natural classificada.

ZAP // Lusa

4 Comments

  1. Portugal não está em 3.º!
    Portugal está em 1.º, como não podia deixar de ser, com a qualidade da administração pública que temos.
    Em ternos relativos (área ardida/área total do território), Portugal está em 1.º e encontra-se bem destacado dos restantes países da UE.

    • Estes governos de Costa ficarão na história com mais este record desastroso. Nisso, nenhum lápis azul lhe valerá. Esta sina desditosa diz bem da miséria destas governações. Antes foram o pântano e as bancarrotas, agora é o Portugal tão lindo que se está a destruir e a pintar de negro.

  2. Infelizmente estes valores já não surpreendem minguem, a incompetência dos nossos políticos e seus boy’s ao longo de anos tem transformado o fenómeno dos incêndios como uma penitencia a que o povo português tem de se subjugar.
    Hoje já têm o aquecimento global como justificação para ilibar a má gestão da nossa floresta, no entanto a trinta anos atrás o cenário era o mesmo e ainda não havia aquecimento global.

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