Cuidados Intensivos precisam já dos 26 milhões prometidos pelo Governo (ou os “hospitais voltam a parar”)

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Giuseppe Lami / EPA

A região de Lisboa e Vale do Tejo concentra, por esta altura, mais de 80% dos novos casos diários de infecção pelo coronavírus e alguns hospitais já estão a enviar doentes para unidades na periferia. Com o prolongar da pandemia, os Cuidados Intensivos podem ficar sobrelotados e sem capacidade de resposta, alerta um médico intensivista.

O médico Philip Fortuna, do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC) que integra as Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) dos Hospitais Curry Cabral e São José, alerta que os 26 milhões de euros prometidos pelo Governo para o reforço da resposta nas UCI do Serviço Nacional de Saúde são mesmo necessários para evitar a ruptura destes serviços no Inverno, quando se espera que a pandemia volte a piorar.

“A proposta de mais investimento que o Governo anunciou, dar mais dinheiro aos hospitais para aumentar a capacidade de resposta nos cuidados intensivos, tem mesmo de avançar e já”, sustenta o médico em entrevista ao Diário de Notícias (DN).

O investimento de 26 milhões nas UCI está previsto no Plano de Estabilização Económica e Social que foi aprovado neste mês de Junho, com o intuito de aumentar o número de camas nas UCI e de contratar mais pessoal para estas unidades.

Philip Fortuna, que também é coordenador do Programa ECMO (oxigenação por membrana extracorporal), entende que “esta verba não [pode] ficar cativada, porque senão quando chegar o Inverno podemos ter mais covid e os hospitais vão ter de parar outra vez só para tratar estes doentes”. “Tal como tiveram de parar agora, mas uma coisa é pararem na fase aguda da doença, outra coisa é pararem todos os anos por causa disto, porque o vírus vai continuar por aí”, alerta.

O médico dá o exemplo da Unidade de Emergência Médica do Hospital de São José, onde as 22 camas polivalentes existentes foram divididas para acolher doentes de covid-19 e pacientes sem a infecção.

“Isto fez com que tivéssemos de dividir a equipa e que tivéssemos de criar circuitos independentes, o que faz com que a lotação de camas não seja a mesma”, salienta Philip Fortuna.

“Se um dia tenho a zona de doentes não Covid cheia, e a ala de doentes com Covid só com uma cama ocupada, é como se não tivesse mais camas, mesmo que mais de metade das camas Covid estejam vagas, o mesmo acontece se fosse o contrário”, acrescenta.

“Com a covid-19, para o mesmo número de doentes precisamos de mais recursos humanos, precisamos de mais camas, exatamente porque nos obriga a ter muitos mais doentes em isolamento“, esclarece o profissional de saúde.

Deste modo, o médico diz que tem de “haver um equilíbrio”. “Os hospitais não podem fechar só para tratar covid. Ou seja, temos todos de aprender a conviver com a doença, desde unidades, profissionais e população”, sublinha.

ZAP //

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