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Um ano e 15 baixas depois: Rodrigues dos Santos quer sentir-se “legitimado” e “arrumar a casa”

O presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos

Francisco Rodrigues dos Santos sabe que é preciso “arrumar a casa” e quer sentir-se “legitimado” para o fazer. Depois de um congresso nacional tenso, o líder centrista deu uma entrevista à TVI na qual identificou alguns problemas do partido, entre os quais a oposição interna e o “cisma juvenil”.

Depois de um congresso nacional de 16 horas, que terminou com a aprovação de uma moção de confiança à direção, ainda que por uma curta margem, Francisco Rodrigues dos Santos defendeu esta segunda-feira que a sua vitória “ocorreu há um ano”, quando foi “eleito pelos militantes”, pelo que tem legitimidade para continuar a representar o CDS-PP.

Em entrevista à TVI, o líder centrista assegurou que, apesar de ter atirado a realização de um congresso para depois das eleições autárquicas, está “circunstancialmente na política” e, à semelhança de qualquer partido em Portugal, a sua continuidade “está sempre dependente dos resultados eleitorais”.

Assim, “se entender que os resultados não são satisfatórios” e que não tem “mais nada a oferecer”, será “o primeiro a ir embora”.

O que lhe falta, na sua opinião, é a capacidade de unir e “arrumar a casa”. “Não quero perder um segundo do meu tempo com querelas ou fraturas internas. É óbvio que não vamos conseguir singrar lá fora porque o partido não consegue arrumar a casa cá dentro”, disse o presidente do CDS-PP.

“Eu quero, de uma vez por todas, sentir-me legitimado para cumprir o meu mandato”, frisou.

Apesar de concordar que uma ” instituição dividida contra si mesma não consegue subsistir”, Rodrigues dos Santos rejeitou a declaração de óbito do partido, que tem 47 anos de história marcados por “uma direita social que sempre combateu os extremismos à esquerda e à direita”.

Na mesma entrevista, o líder centrista falou ainda no “cisma juvenil“, que em Portugal dita que haja uma “desconfiança crónica” relativamente aos jovens. Francisco Rodrigues dos Santos, de 32 anos (e eleito com 31), queixou-se do “preconceito” contra os mais jovens e sublinhou que a sua vitória no congresso “foi difícil de digerir para algumas franjas dentro do CDS”.

Confrontado com a recente demissão de mais de uma dúzia de membros da direção do CDS, o líder disse que se trata de pessoas que não estavam afetas ao seu projeto originário, mas “a outras alas dentro do CDS”.

Desde que foi eleita, a direção centrista já perdeu 15 membros, a grande maioria nas últimas duas semanas.

15 baixas num ano

A primeira demissão foi a de Abel Matos Santos, vogal da Comissão Executiva (órgão mais restrito do presidente), cujo mandato durou apenas alguns dias. Depois de ter sido eleito no 28.º Congresso do CDS, o fundador da Tendência Esperança e Movimento deixou o cargo no dia 4 de fevereiro, na sequência de notícias que davam conta de declarações polémicas que tinha feito.

No dia seguinte, Luís Gagliardini Graça demitiu-se da Comissão Política Nacional (CPN), o órgão mais alargado da direção, em solidariedade com Abel Matos Santos.

Há cerca de dois meses saiu também da CPN Rui Barreira, que é advogado de César de Paço, um antigo cônsul honorário de Portugal em Palm Coast, nos Estados Unidos da América, que tem ligações ao Chega. De acordo com o Expresso, o presidente do CDS não comunicou esta saída ao restante núcleo, depois de o agora ex-dirigente lhe ter pedido discrição.

Há duas semanas (em 26 de janeiro), o ex-vice-presidente do CDS Adolfo Mesquita Nunes escreveu um artigo de opinião no qual defendeu a realização de um congresso eletivo antecipado.

Desde aí, têm sido conhecidas demissões dentro da cúpula centrista quase diariamente, em grande parte de democratas-cristãos afetos ao grupo Juntos pelo Futuro – cuja moção teve 14,45% dos votos no último congresso e integrou a direção após um acordo com Francisco Rodrigues dos Santos -, deixando críticas à atuação da liderança.

A 28 de janeiro, o até então vice-presidente do CDS-PP Filipe Lobo d’Ávila e os vogais da Comissão Executiva Raul Almeida e Isabel Menéres Campos anunciaram que pediram a demissão dos respetivos cargos.

No dia seguinte, também os vogais da CPN do CDS-PP Paulo Cunha de Almeida e José Carmo deixaram a direção. No final da semana passada, saíram também José Miguel Garcez, da Comissão Executiva, bem como Altino Bessa, João Medeiros e Francisco Kreye, que eram vogais da CPN.

No rescaldo do Conselho Nacional deste fim de semana, que renovou a confiança na direção de Rodrigues dos Santos, foram confirmadas à Lusa mais três demissões de vogais da CPN – Pedro Pestana Bastos, Tiago Loureiro e José Montenegro, que defenderam a realização de um congresso antecipado.

No total, dos 42 vogais da CPN eleitos no congresso, uma dezena abandonou os cargos, e dos sete vogais da Comissão Executiva (dois por inerência de serem líderes do CDS nos Açores e na Madeira), demitiram-se quatro. A estas demissões, acrescem também as saídas de José Maria Seabra Duque e Tiago Leite, do gabinete de estudos do partido.

Liliana Malainho, ZAP // Lusa

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