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Ramalho Eanes: “Nós, os velhos, se for necessário oferecemos o nosso ventilador”

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Tiago Petinga / Lusa

O antigo Presidente da República, António Ramalho Eanes

O antigo Presidente da República apelou aos mais “velhos”, como ele, para darem o exemplo neste combate ao coronavírus, caso Portugal passe por uma situação semelhante à de Itália ou Espanha.

Em entrevista à RTP, o General António Ramalho Eanes falou sobre o momento único vivido no país e no mundo, na sequência da chegada do novo coronavírus, e deixou um apelo aos mais “velhos”.

“Nós, os velhos, devemos pensar que a nossa situação é igual à dos outros. E se alguma coisa há é a obrigação suplementar de dizer aos outros que isto já aconteceu, que se ultrapassou, disse o antigo Presidente da República, citado pelo jornal Observador.

“Nós, os velhos, vamos ser os primeiros a dar o exemplo. Não saímos de casa, recorremos sistematicamente aos cuidados que nos são indicados e mais, quando chegarmos ao hospital, se for necessário oferecemos o nosso ventilador ao homem que tem mulher e filhos”.

Antes deste apelo, o ex-chefe de Estado lembrou que “a crise não vai acabar agora, porque é necessária uma vacina e, mesmo que apareça, na melhor das hipóteses no fim do ano, vai demorar depois meio ano ou um ano a ser produzida em quantidade”.

“Em Itália e em Espanha, e aqui se calhar também, o médico muitas vezes tem de escolher entre aquele a quem aplica o ventilador e aquele a quem não aplica. Aquele a quem pode proporcionar a vida e aquela a quem retirar a vida. É uma situação que não quereriam nunca estar a viver”.

Na mesma entrevista, Ramalho Eanes considerou que esta crise “vai fazer com que repensemos o próprio Estado”, porque “o homem julgou que era capaz de tudo, que podia dominar tudo”, mas, afinal, “continua a ser o ser frágil, falível, que tem de estar em permanente ligação e comunhão com os outros”.

“O Estado não pode ser um Estado mínimo, como se diz. O Estado tem de ser o Estado necessário e um Estado que não olhe apenas para a situação presente, para as eleições e para o resultado, mas olhe para o futuro e para o futuro da sua comunidade. E um Estado que procure fazer o que é indispensável para que esse futuro seja viável”, destacou.

O antigo Presidente da República considerou ainda que se devia ter “usado as Forças Armadas mais cedo e mais intensamente porque elas estão ali para situações de crise“. “Um militar está de serviço 24 horas, dorme no posto se for necessário”, relembrou, citado pela rádio TSF.

A nível financeiro, o ex-chefe de Estado não descarta possíveis nacionalizações e apelou a que não se cometa o erro da Alemanha, nos anos 30, em que “uma política de rigor financeiro” resultou em “uma situação catastrófica, uma situação social impensável e uma crise política que levou ao Nazismo“.

ZAP //

3 Comments

  1. … ah grande general Ramalho Eanes!
    Foi uma honra tê-lo como presidente e é um prazer continuar a ouvi-lo entre nós.
    Destes já não se fabricam…

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