Quem vai vencer a Guerra dos Tronos de Putin?

4

EPA/Mikhail Metzel / Kremlin Pool / Sputnik

Vladimir Putin

A guerra na Ucrânia está a criar uma guerra dentro da Rússia, com o grupo Wagner e o Ministério da Defesa a disputar os créditos e a sacudir as culpas pelos avanços e recuos no conflito.

A conquista da Ucrânia está a ser um desafio maior para a Rússia do que o Kremlin inicialmente esperava — e a constante mudança nas chefias militares responsáveis pelo conflito é sinal disso.

A 11 de Janeiro, o Presidente russo afastou o General Sergey Surovikin — conhecido como General do Apocalipse — após este passar apenas três meses a comandar as tropas russas. O substituto escolhido foi o General Valeri Guerasimov, que era o chefe máximo do exército russo.

Para além da resistência ucraniana mais resiliente do que o esperado, Putin tem ainda agora que lidar com conflitos entre os seus subordinados, que andam a atirar culpas entre si pelo impasse no conflito.

Nas semanas de tensão antes do início da guerra a 24 de Fevereiro, antecipava-se uma vitória arrebatadora russa em poucos dias se o temido cenário de uma invasão se concretizasse. Mas essa vitória arrebatadora nunca chegou.

Entre grandes perdas de soldados e de equipamentos, altos números de deserções, receios sobre falta de chips, erros estratégicos que permitiram que a Ucrânia recuperasse grande parte do território no Verão e uma mobilização militar de civis que causou o caos e a fuga de centenas de milhares de russos, a guerra não está a correr como o planeado para Moscovo.

As constantes remodelações na chefias militares deixam os analistas a perguntar-se se as mudanças estão ligadas à guerra ou a conflitos políticos internos no círculo próximo de Putin.

Oligarcas às avessas

O oligarca Yevgeny Prigozhin, que detém o grupo de mercenários Wagner, tem uma presença activa nas redes sociais onde critica frequentemente a actuação do exército russo e das chefias militares.

Prigozhin, cujo grupo tem cerca de 20 mil combatentes na Ucrânia, é um aliado do senhor da guerra checheno Ramzan Kadyrov — que é um rival de Gerasimov e de Sergey Shoigu, o Ministro da Defesa.

Shoigu, por sua vez, tem também uma empresa militar privada, a Patriot. Já Kadyrov controla milhares de combatentes paramilitares na Ucrânia. Recentemente, Prigozhin e o Ministério da Defesa até trocaram galhardetes em público devido à conquista caótica da vila de Soledar.

De acordo com o Ministério da Defesa, a captura da vila deveu-se aos ataques aéreos do exército. Prigozhin veio rapidamente acusar as forças russas de “constantemente tentar roubar a vitória ao grupo Wagner“.

Kadyrov também já criticou a proibição aos soldados russos de crescerem barbas, frisando que as suas tropas que lutam na Ucrânia são maioritariamente compostas por muçulmanos que deixam crescer a barba por razões religiosas.

As forças da Chechénia e do grupo Wagner operam na Ucrânia de forma quase totalmente independente do exército russo e esta aliança pode ser vista como uma ameaça ao regime russo. Apesar de continuarem a jurar lealdade a Putin, estão a desafiar abertamente o monopólio militar do Kremlin.

“O mais envenenado dos cálices”

“A Kremlinologia voltou. Putin criou um sistema onde o acesso a Putin e ser favorecido por ele é a única coisa que importa, por isso os rivais estão a formar centros de poder para o influenciar. Ele também precisa de outras pessoas para culpar pela performance catastrófica do exército russo”, revela um agente de inteligência da NATO à VICE.

A intriga política nas proximidades de Putin está a adensar-se ainda mais com o fracasso na guerra. “Gerasimov e Shoigu agora sentam-se na linha directa do fogo e Kadyrov — e especialmente Prigozhin — querem ver se eles tropeçam. Eles vão provavelmente tropeçar porque Putin não parece ter expectativas realistas, é difícil planear para o sucesso quando o sistema inteiro se baseia em mentir ao chefe sobre as suas capacidades”, acrescenta.

O analista Mark Galeotti, especializado na Rússia, questiona o afastamento de Surovikin. “O que é que Surovikin fez de errado? Nada, na realidade… Há um limite aos erros que um novo comandante pode cometer em três meses”, afirma, frisando que Gerasimov recebeu “o mais envenenado dos cálices” ao ser escolhido para liderar as tropas na Ucrânia e que se está a “aguentar por um fio“.

O agente da NATO acrescenta que Putin gosta de deixar os seus subordinados paranoicos. “Putin quer que ninguém entenda o que está a planear, é a sua natureza enquanto um ex-agente da KGB. Mas o plano é colocar Shoigu e Gerasimov contra Prigozhin e Kadyrov, ver quem ganha e, se o resultado for bom, ficar com os créditos. Se falhar, há muita gente para culpar”, refere.

Adriana Peixoto, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

4 Comments

  1. Esta guerra, financeiramente, é um poço sem fundo. Os países aliados sempre a contribuir com armamento para a Ucrânia frente ao poderio bélico da russia.

    • Exatamente assim, é tão fácil como se faz uma pintura num moral, como se o restante €uropeu fosse uma cambada de balanoides, armados em totós. 🙁

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.