O PSD de Montenegro tem um problema sério: comunicação

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José Sena Goulão / LUSA

Joaquim Miranda Sarmento, Pedro Duarte, Luís Montenegro e António Leitão Amaro no Parlamento

O “porque não precisamos”, o “pipi”, um discurso “péssimo”, o ADN, os 1.500 milhões no IRS. Há claramente aspectos a melhorar.

É óbvio que o novo Governo vai ser alvo de críticas durante esta legislatura. Como todos.

Mas é óbvio que há um problema que salta à vista: a comunicação. Não é um pormenor.

E também não é um problema que começou agora, desde que o Governo tomou posse. Já vem de trás. De há vários meses, na verdade, quando o PSD de Luís Montenegro ainda nem sabia que ia haver eleições legislativas em 2024.

Destacamos cinco exemplos mais mediáticos. E admitimos que nos escapou algum.

“Porque não precisamos”

A viagem começa na Madeira, em Setembro de 2023. No dia em que a coligação PDS/CDS venceu as eleições regionais sem maioria absoluta, Luís Montenegro disse: “Não haverá nenhuma solução governativa na Madeira que tenha a contribuição do Chega”.

Acrescentando: “E eu quero dizer-vos que aquilo que vai, ou pode acontecer na Madeira, é aquilo que vai ou pode acontecer no país. O mesmo é dizer que nós não vamos governar, nem a Madeira, nem o país, com o apoio do Chega, porque não precisamos“.

Não parecia, mas ficou logo a dúvida: o PSD nunca assina acordo com o Chega porque nunca quer – ou porque acha que nunca vai precisar? Ou seja: se precisasse, o PSD assinaria acordo com o Chega?

Estas questões quase obrigaram Montenegro a falar novamente três dias depois. E nesse dia, 27 de Setembro, disse a frase famosa, ainda hoje tantas vezes repetida: “Não é não”.

Aqui sim, a comunicação foi clara – e cumpriu até hoje. O PSD não assinou acordo com o Chega, nem na Madeira, nem a nível nacional.

“Pipi” é o quê?

Duas semanas depois, em Outubro do ano passado, disse que o Orçamento do Estado do PS para 2024 é “pipi”.

Mas isso queria dizer o quê? Luís Montenegro ainda disse que o mesmo documento é “remendado” e “mentiroso”, mas o que ficou foi o “pipi”. E o “betinho”.

Queria dizer que é um Orçamento “aparece bem vestidinho, muito apresentadinho, mas que é só aparência, é assim muito betinho, parece que faz, mas não faz, apresenta objetivos, apresenta ideias, mas depois não concretiza nada”.

Montenegro também poderia ter concretizado um pouco mais.

Discurso “péssimo”

Terceiro mês, terceira falha na comunicação. Em Novembro, quando António Costa se demitiu, Luís Montenegro (sendo o principal opositor) foi o último a falar.

E protagonizou uma comunicação “péssima”, analisou na altura Alexandre Monteiro, no ZAP.

“Fala em modo de sobrevivência, de pressa, de urgência, com foco na pessoa dele. Toda a comunicação, verbal ou não verbal, não foi impactante”.

“Depois fala muito rápido, lambe muitas vezes o lábio superior, que indica manipulação, lê muito os discursos… Tem muito por trabalhar ainda“, comentou o especialista em decifrar pessoas.

Até porque “é na comunicação que se ganham votos”.

ADN

Esta não é propriamente uma questão só de Luís Montenegro: a ideia de recuperar a Aliança Democrática (AD) quando já existe o ADN.

Avisámos que poderia “dar asneira” no dia das eleições de 10 de Março. E deu: muitas pessoas confundiram as forças políticas, o ADN agradeceu, superou pela primeira vez 100 mil votos – e terá roubado dois deputados à AD.

Como disse o presidente do ADN, Bruno Fialho, neste caso o problema foi da AD.

Em certos corredores, chegou a comentar-se que quem tem uma equipa de comunicação assim, “amadora”, não merecia formar Governo.

IRS

Por fim, o assunto que deu origem a este artigo: o corte de 1.500 milhões de euros no IRS neste ano, que afinal é um corte de 173 milhões.

A confusão e o “amadorismo” surgiram dentro do Governo – e sim, com Luís Montenegro como protagonista. Outra vez.

Vamos recuperar o que o primeiro-ministro disse na quinta-feira, na Assembleia da República, em frente a todos os deputados e perante o país: “Diminuição global de cerca de 1.500 milhões de euros nos impostos sobre os rendimentos do trabalho dos portugueses (IRS) face ao ano passado”.

Nesse mesmo debate à volta do programa do Governo, um deputado da IL, Bernardo Blanco, perguntou se esses 1.500 milhões de euros eram para somar ao corte no IRS de 1.327 milhões de euros que o Governo anterior, do PS, já tinha anunciado para 2024. Ou seja, se o corte no IRS ia ser apenas de 173 milhões de euros – Miranda Sarmento não respondeu.

No dia seguinte, sexta-feira, o ministro das Finanças esclareceu na RTP: realmente o corte global não será de 2.827 milhões de euros, mas sim de 1.500 milhões. É um pequeno extra ao que o Governo anterior queria.

Há que ser claro na comunicação, sobretudo em assuntos como este, que mexem com milhões de portugueses. E o esclarecimento poderia ter sido feito logo no momento, no debate na Assembleia da República.

Já neste sábado o Governo escreveu em comunicado que é “verdadeiro e indesmentível” que as reduções no IRS levarão a um corte de 1.500 milhões de euros face a 2023. E considera que “alguns actores políticos ou mediáticos” equivocaram-se.

O Governo diz que “todo o país percebeu mal. Não pode ter sido todo o país a perceber mal, seguramente” – como afirmou Alexandra Leitão, líder parlamentar do PS.

Curioso foi ouvir a reacção de André Ventura: “Dizer que vai fazer uma coisa e, no dia seguinte, sabemos que vai fazer o seu contrário mina a confiança do Parlamento e do país”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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1 Comment

  1. então, a solução é simples, o PSD precisa de “essalariar” a “massa cinzenta dos argumentos” que andam perdidos aqui e ali na C.S.

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