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Vergonha, feliz, mas a esconder informação: o que Costa não disse (e as microexpressões mostraram)

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José Sena Goulão / LUSA

António Costa anuncia a sua demissão

No anúncio da demissão, Alexandre Monteiro viu aspectos que quase ninguém viu. E ainda houve espaço para falarmos sobre Marcelo e Montenegro.

António Costa anunciou a sua demissão nesta terça-feira.

O primeiro-ministro deixou algumas ideias essenciais: estava totalmente disponível para continuar até 2026, foi surpreendido pelo processo-crime, assegura que não cometeu qualquer crime e não vai ser candidato nas próximas eleições legislativas.

Isto foi, em poucas linhas, o que António Costa disse.

Mas o que é que não disse?

Foi para tentarmos perceber os seus gestos quase invisíveis, as suas microexpressões, que falámos com Alexandre Monteiro, especialista em Decifrar Pessoas.

Nesta conversa com o ZAP, Alexandre reforça que estas análises não são “atirar coisas para o ar e pode ser que acerte”.

Há “décadas de estudo e de investigação e de aprender com os melhores do mundo” por detrás destas análises.

E há multidisciplinaridade, há base científica: “Não aprendes só a linguagem corporal, porque nós somos multidisciplinares: nós temos biologia, neurobiologia, química, antropologia, psicologia, psicologia, psiquiatria…”.

“Todos os sinais que nós emitimos são consequências daquilo que nós pensamos ou sentimos. São sintomas. Isto é quase como um médico: quando tu vais ao médico e dizes os teus sintomas, ele vai, através dos sintomas, descobrir qual é a doença”.

Está habituado a ser criticado, a “sofrer do opinismo, da polarização” – ou seja, as pessoas acusam-no de estar a ser parcial, a dizer o que dá jeito.

Mas as suas análises não são opiniões; aliás, também está habituado a que “a verdade venha ao de cima” meses ou anos depois de ter analisado a pessoa em causa (e de ter sido desvalorizado na altura).

Alexandre Monteiro publicou, há pouco mais de um mês, um novo livro: O poder de conquistar e influenciar pessoas.

É diferente de Torne-se um decifrador de pessoas, o livro não-ficção mais vendido em Portugal, em 2021. “É diferente porque o livro anterior é muito poderoso, porque conheces melhor o outro, conheces melhor a ti. Este livro ajuda-te a atingir os teus resultados através de técnicas, depois de conhecer pessoas“.

“Porque lá está, decifrar pessoas fica-se por ali, não é? Só que depois, para tu teres mais sucesso, precisas de conquistar e de influenciar pessoas. É o próximo passo, é para te fazer chegar ao próximo nível. Isto no fundo é informação e depois como é que tu vais executar tudo, com toda a informação que já tens”.

“No fundo, não é tanto conquistar pessoas: é tornares-te a pessoa pela qual as pessoas querem ser conquistadas”, resumiu o autor, antes de partirmos para o assunto que originou este telefonema.

O que Costa não disse

Especialista em decifrar pessoas, Alexandre Monteiro esteve atento às microexpressões do primeiro ministro.

Ao longo da conferência de imprensa, António Costa foi mostrando “alguma vergonha“. Vergonha com a situação em si, com todo o contexto. Houve stress e tensão, exibidos através do constante abanar do corpo ao longo do discurso: “Não é associado à mentira. Estava a mostrar ‘Quero fugir daqui’“.

Além disso, baixou o olhar quando falava em temas sensíveis: “Não estou a dizer que é culpado. Mas estava desconfortável com o tema. O piscar de olhos constante indica uma carga de stress enorme.

O comer das palavras, enrolar muito as palavras, podia ser uma forma de ajuda, de suavizar a ansiedade” do primeiro-ministro.

E depois uma análise que pode surpreender os leitores: “Eu vi felicidade por isto acabar. Mostra felicidade na parte em que diz que esta etapa da sua vida acabou. A carga devia ser tão grande… Ele mostra felicidade no momento ‘Isto acabou, não quero mais'”.

Alexandre viu uma carga emocional forte quando Costa falou da sua esposa (agradecimento). O primeiro-ministro quase chorava nesse momento.

Mas o especialista também reparou noutro momento: quando António Costa assegurou que iria colaborar com a Justiça e dizer toda a verdade, exibiu alguns movimentos – levantar só um ombro foi o mais visível – que indicam que está a esconder informação. “Indica que não vai dizer tudo à Justiça. Não indica que é culpado, mas indica que não vai dizer tudo”.

Voltando à vergonha: quando fala sobre actos ilícitos, no fim baixa a cabeça. “Quando baixamos a cabeça no final de uma frase, isso indica vergonha”, explicou. E a pressão nos lábios, ao olhar para baixo, sugere tensão negativa, como um pacificador.

O passeio de Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa vai falar ao país apenas amanhã, quinta-feira, mas foi “apanhado” pelos jornalistas a sair de casa, ontem à noite.

“Há alguém que acredite que aquele passeio é sem querer?”, questionou Alexandre Monteiro.

“Aquele passeio é provocador. Quem não é visto, é esquecido”, lembrou. “Eu acredito que aquele passeio não seja tão sem querer quanto parece”.

A comunicação de Montenegro

Não estava nos planos mas a conversa acabou por ir ao encontro de Luís Montenegro.

O líder do PSD, por agora o grande candidato da direita a primeiro-ministro, foi o último a falar no dia da demissão. E protagonizou uma comunicação “péssima”.

“Fala em modo de sobrevivência, de pressa, de urgência, com foco na pessoa dele. Toda a comunicação, verbal ou não verbal, não foi impactante”, descreveu Alexandre, que destacou que a voz de Montenegro é pouco grave e, em comunicação, perde para os concorrentes por causa da sua voz.

“Depois fala muito rápido, lambe muitas vezes o lábio superior, que indica manipulação, lê muito os discursos… Tem muito por trabalhar ainda“, concluiu.

Até porque “é na comunicação que se ganham votos”.

Entrevista completa:

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

5 Comments

  1. Que tristeza!
    Até tenho pena do Costa, o habilidoso que perdeu as eleições e se tornou 1.º ministro.
    Agora, saiu pela porta pequena, porque se rodeou de pessoas que não pretam mas que têm grandes necessidades e nenhuns escrúpulos.
    Aquela de manter o Galamba no poder, que não foi senão semelhante a ter um ministro morto-vivo , foi de atrasado mental. Só para afrontar o PR?!
    Pobre Costa!
    Realmente, não havia necessidade…!
    Mas é a natureza humana! Penso eu de que…

  2. Poucas ou nenhumas “Ilusões” tenho , no que diz respeito ao Futuro de Portugal e essencialmente ao bem em prol do Povo Português . Ainda para agravar , o contexto Politico Mundial nada augura de Bom . No nosso Portugal , voltas e reviravoltas Politicas , e agora “esta” não é uma exceção a regra . Sem querer ser demasiado (Pessimista) , mudanças , haverá , mas receio que a falta de verdadeiros Políticos com sentido de Estado e Idóneos , poderão ou quererão , fazer brilhar este País , arriscando de serem fagocitados por ocultas forças que “Poluem” a Democracia e suas Instituições !

  3. O convite aos zandingas e adivinhos é para manter por muito tempo?
    Deviam ter vergonha de descer tão baixo, face à atitude de um Homem, que usa da Honradez que a poucos assiste.

    Até ao momento, sem culpa nem indicios.

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