Supostamente estaríamos sob maioria absoluta de Costa. Agora “é preciso que o PSD ajude o PS”

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Clara Azevedo / Gabinete do Primeiro-Ministro

António Costa e Luís Montenegro

O futuro próximo – e não tão próximo – do PS. Entre o “qual é a pressa?” de Seguro e o risco de o partido se tornar dispensável, segundo Manuel Alegre.

18 de Maio de 2025. O país vai a eleições legislativas num dia em, supostamente, ainda estaria sob um Governo liderado por António Costa que tinha maioria absoluta.

Para alguns portugueses, esse “pormenor” até já caiu no esquecimento, mas Costa seria supostamente primeiro-ministro até ao início de 2026.

Sim, os Governos caem. Portugal tem sido perito em legislaturas incompletas. Só no século XXI aconteceu com: António Guterres, Durão Barroso/Pedro Santana Lopes, José Sócrates (no seu segundo mandato), António Costa (também no segundo mandato) e agora Luís Montenegro.

Mas há um detalhe: nenhum desses cinco Governos tinha maioria absoluta. Por isso, quando em Janeiro de 2022 António Costa surpreendeu e conseguiu maioria absoluta, seria supostamente um Governo para durar 4 anos.

Não durou. Por causa de um famoso parágrafo que, até agora, não teve qualquer consequência judicial para António Costa, que entretanto se tornou presidente do Conselho Europeu.

E, em Portugal, tanto mudou em tão pouco tempo.

Motivos da queda

Legislativas 2022: vencedor, maioria absoluta. Legislativas 2025: só 58 deputados, só 23,38% de votos. E corre o sério risco de, no espaço de três anos, passar de maioria absoluta para ser o apenas terceiro partido com mais deputados (nunca aconteceu).

Há muitas explicações para o Partido Socialista (PS) ter registado uma das maiores quedas de sempre em eleições.

Pedro Nuno Santos não é António Costa; alguns eleitores PS não terão sentido motivação suficiente para ir votar no domingo; outros mudaram para o Livre (ou para o Chega); ou é um efeito de arrastamento, seguindo o que está a acontecer a outros partidos socialistas noutros países europeus.

“Este resultado pede uma análise bastante detalhada. Foram vários factores que convergiram. Mas uma coisa é clara: se o PS perdeu, a responsabilidade é do PS“, resumiu Augusto Santos Silva, na RTP.

Seja qual for o motivo principal, Pedro Nuno Santos demitiu-se na noite das eleições legislativas, no domingo passado.

Pressa

António José Seguro, antecessor de António Costa na liderança do PS, foi citado várias vezes nesta semana: “Qual é a pressa?”.

Logo nos dias seguintes ao anúncio de demissão do ainda secretário-geral do PS, multiplicaram-se as dúvidas sobre o futuro, acumularam-se nomes sobre a sua sucessão, surgiram alertas sobre o “fim do PS” caso não haja mudança já.

O alarme está lançado: “O PS está fechado em si mesmo. O PS tem problemas estruturais. Nada é estável e os partidos podem tornar-se historicamente dispensáveis”, avisou Manuel Alegre no jornal Público.

Já hoje, sábado, há reunião extraordinária da Comissão Nacional do PS, para analisar os resultados das legislativas e definir o que se segue. O presidente Carlos César vai propor à Comissão Nacional que as eleições para secretário-geral sejam nos dias 27 e 28 de Junho; o congresso só depois das autárquicas.

É um partido com demasiada pressa. O que estamos a assistir no PS é um pouco um sinal de desnorte. Isto num partido fundador da democracia, muito necessário ao país. Mas parece um pouco desorientado depois do anúncio da saída de Pedro Nuno Santos, com demasiada pressa para resolver uma liderança que parece queimar. O calendário político aconselha mais ponderação, mais calma, mais discussão interna, mais reflexão”, analisou Ricardo Conceição na rádio Observador.

“Cabeça fria” – e o efeito Carneiro

Há figuras do PS e analistas políticos que avisam que os socialistas não se devem precipitar na escolha, não só de um novo líder (que deverá ser José Luís Carneiro, aparente candidato único), mas sobretudo de uma nova equipa, de um novo rumo.

Aliás, Santos Silva acrescentou que o partido precisa de uma “liderança forte, certamente” mas que não deve estar centrada numa só pessoa: “Precisa que haja uma direcção pautada pela colegialidade, que inclua a diversidade das correntes que constituem o PS. Ninguém tem nenhum interesse em que o PS entre em convulsão; só interessa à extrema-direita, nem ao Governo interessa. Precisamos de um PS forte, com cabeça fria, com tempo para se reorganizar”.

Fernando Medina, que não será candidato a secretário-geral do PS, preferia que Carneiro não tivesse anunciado já a sua disponibilidade: “O PS deve fazer uma reflexão profunda, lúcida e fria sobre o novo quadro político. Creio que o lançamento de uma candidatura na segunda-feira [por José Luís Carneiro], iniciou um processo interno, no fundo de contagem de espingardas, que inviabiliza que esse debate profundo se faça antes”, analisou no Now.

João Costa, que foi ministro da Educação num Governo de António Costa, foi directo na RTP: “Tentar ter uma leitura simplista, como dizer que o problema do PS era um problema ligado à sua liderança e que, mudando o líder, os problemas se resolvem e temos uma grande transformação… é trabalhar em cima de uma ilusão”.

Ajuda do PSD?

Como já foi mencionado neste artigo, o PS é um “partido fundador da democracia, muito necessário ao país”.

Por isso, e para evitar que o PS se torne dispensável como avisa Manuel Alegre, convém que os socialistas sejam ajudados… pelo PSD.

A sugestão é do comentador Pedro Marques Lopes na SIC Notícias: “O PS deve deixar claro, bem claro, que dá condições de governabilidade ao PSD. Primeiro, porque o PS precisa de se reorganizar, de se redefinir ideologicamente… Precisa de ter uma cura provavelmente longa. O PSD precisa, a bem do país, de não tentar humilhar o PS. É preciso que o PSD perceba que tem que ajudar o PS, e não é pelo PS. Se o PS desaparece, em eleições ficamos com o pólo da democracia e com o pólo da não-democracia. É nesta altura que se vê quem tem sentido de Estado”.

Mas, sem entrar em pressas, Pedro acha que não se deve esperar demasiado: “Ouvi durante esta semana uns actos de loucura no PS: há pessoas a defender que o partido devia estar seis meses sem líder. E que depois logo se via. Provavelmente isso seria a maior inconsciência, o maior suicídio do PS que podia haver”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

2 Comments

  1. “…como avisa Manuel Alegre, convém que os socialistas sejam ajudados… pelo PSD.” Ao que chegou este partido socialista! Tal foi a pancada que levaram. Será que não lhe vai acontecer o que sucedeu ao partido socialista francês: a irrelevância futura?

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