Os países mais quentes têm línguas mais ruidosas. Há uma explicação

Uma pesquisa indica que o ar mais seco das regiões frias irrita as cordas vocais, o que leva a população a usar menos vogais. O contrário acontece nas regiões mais quentes, onde o ar absorve os sons de alta frequência, obrigando os falantes a usar mais vogais e fazer mais barulho.

Um estudo linguístico publicado na PNAS Nexus em 2023 revelou uma ligação entre o clima e a sonoridade das línguas.

Analisando o vocabulário de mais de 5000 línguas, os investigadores descobriram que climas mais quentes tendem a favorecer um discurso mais “sonoro”, ou seja, línguas mais ricas em vogais e sons fluentes. Já as regiões mais frias têm línguas com sílabas mais agudas e mais consoantes.

O estudo, liderado por Søren Wichmann, investigador da Universidade de Kiel, utilizou o conjunto de dados ASJP (Automated Similarity Judgment Program) para calcular um “índice de sonoridade média” para cada língua.

Quando mapeado em conjunto com os dados climáticos globais, surgiu uma tendência marcante: a sonoridade foi maior nas línguas desenvolvidas perto do Equador, particularmente na Oceânia e em África, e menor nas regiões mais frias, como a Sibéria e partes da América do Norte.

Os cientistas sugerem que fatores físicos e fisiológicos fundamentam este padrão. O ar frio, que é seco, pode irritar as cordas vocais, dificultando a produção de sons mais ruidosos, como as vogais. O ar quente, por outro lado, absorve sons de alta frequência, silenciando potencialmente as consoantes, o que pode incentivar o uso de sons mais graves e ressonantes, relata o ZME Science.

“De um modo geral, as línguas nas regiões mais quentes são mais altas do que as das regiões mais frias”, disse Wichmann.

No entanto, os investigadores são cautelosos ao salientar que a ligação não é uniforme.

Embora a correlação seja clara em grandes áreas geográficas e períodos de tempo, torna-se menos consistente quando se analisam famílias linguísticas individuais. Por exemplo, as línguas de clima quente em partes do Sudeste Asiático e da América Central ainda apresentaram pontuações de sonoridade mais baixas.

Além disso, algumas das limitações dos dados, como a utilização de pequenas amostras de palavras ou a não ponderação das palavras pela frequência de utilização, podem afetar a clareza dos resultados. Ainda assim, a tendência geral é suficientemente forte para sugerir uma interação a longo prazo entre a língua e o ambiente.

As descobertas estão alinhadas com a Hipótese da Adaptação Acústica, que propõe que as vocalizações, tanto em animais como em humanos, evoluem para melhor se adaptarem ao seu ambiente acústico. À medida que as temperaturas globais aumentam, especulam os investigadores, a própria língua pode continuar a mudar, subtilmente moldada pelo ar através do qual falamos.

ZAP //

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