Ricardo Salgado não sabe o que é dinheiro nem se lembra do próprio nome, decide tribunal

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António Cotrim / Lusa

Ex-banqueiro declarado maior acompanhado devido a diagnóstico de Alzheimer. Passa a depender da sua esposa, Maria João Salgado, para todas as decisões quotidianas, incluindo as de foro pessoal e patrimonial.

O Juízo Local Cível de Cascais reconheceu oficialmente o estatuto de maior acompanhado ao antigo presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, na sequência do seu diagnóstico de doença de Alzheimer.

O tribunal dá agora como provado que Salgado não tem capacidade para gerir dinheiro, de defender-se e até tem dificuldades em lembrar-se do próprio nome.

“Não sabe por vezes dizer o seu nome, nem o de familiares diretos. Não consegue descrever o que faz durante o dia e, por vezes, não consegue expressar qualquer necessidade básica, como fome, frio ou calor. Encontra-se desorientado espacialmente, não sabendo indicar onde vive (…), nem andar sozinho na rua. Não tem capacidade para gerir os seus rendimentos no dia a dia, nem de entender o conteúdo de documentos, ainda que explicados”, cita a SIC Notícias.

A decisão judicial determina que o ex-banqueiro, de 81 anos, passa a depender da sua esposa, Maria João Salgado, para todas as decisões quotidianas, incluindo as de foro pessoal e patrimonial, segundo a sentença do Juízo a que os vários órgãos de comunicação tiveram acesso esta quarta-feira.

O processo foi instaurado pelo Ministério Público após a presença de Salgado na abertura do julgamento do caso Universo Espírito Santo, a 15 de outubro de 2024. A sentença agora proferida estabelece que as medidas de acompanhamento são consideradas adequadas desde 1 de janeiro de 2019 — uma data anterior ao início dos julgamentos atualmente em curso ou das condenações já atribuídas noutros processos.

Ricardo Salgado está a ser julgado em diversos processos judiciais de grande visibilidade mediática, incluindo os casos BES, BES Angola e Operação Marquês. Neste último, já foi condenado a oito anos de prisão. Acresce ainda uma pena de seis anos e três meses no âmbito do processo EDP, relacionado com o ex-ministro Manuel Pinho.

Com a atribuição do estatuto de maior acompanhado, a lei reconhece que o ex-banqueiro já não detém autonomia suficiente para gerir a sua vida pessoal e financeira, sendo por isso necessário um representante legal — neste caso, a sua esposa que, segundo a defesa, já exerce na prática a função de cuidadora há algum tempo, devido ao agravamento do estado de saúde do idoso.

No total, Ricardo Salgado foi submetido a três perícias neurológicas — duas no âmbito de processos cíveis e uma no processo EDP. Os seus advogados, Francisco Proença de Carvalho e Adriano Squilacce, já solicitaram a realização de avaliações semelhantes nos restantes processos em que o antigo líder do BES é arguido.

A decisão do tribunal poderá ter implicações nos desfechos judiciais pendentes, sobretudo no que diz respeito à capacidade de Salgado para participar ativamente nos processos e responder juridicamente pelas suas ações. Esta nova condição legal poderá agora ser invocada pela defesa como fator relevante nos diversos julgamentos em curso.

ZAP //

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