Estela Silva / LUSA

Semáforo sem luzes no mítico dia do apagão, 28 de abril
Software modular tem como objetivo permitir uma gestão autónoma e descentralizada da rede elétrica, baseada em dados recolhidos por contadores inteligentes e em previsões meteorológicas. Está a ser testado.
A conhecida tecnológica alemã Siemens apresenta-se como solução na modernização da gestão das redes elétricas e está a colaborar com as operadoras de redes elétricas REN, de Portugal, e a espanhola REE para evitar outro apagão como o que afetou Portugal e Espanha a 28 de abril, deixando milhões de pessoas sem eletricidade durante mais de 12 horas.
A notícia é avançada pelo Negócios, que dá conta de um novo portefólio de software da empresa, Gridscale X, a ser “cozinhado” no “segredo dos deuses” — uma solução digital integrada na plataforma Xcelerator, lançada em 2023.
O software modular tem como objetivo permitir uma gestão autónoma e descentralizada da rede elétrica, baseada em dados recolhidos por contadores inteligentes e em previsões meteorológicas. Deverá antecipar picos de produção, como dias de sol intenso, para então poder prever congestionamentos e propor medidas para evitar falhas.
Como já tinha sido explicado na altura do apagão, a complexificação das redes elétricas deve-se, em boa parte, ao crescente peso das energias renováveis, como a solar e a eólica que, embora essenciais para a transição energética, introduzem um elevado grau de imprevisibilidade e instabilidade na rede, principalmente devido à variabilidade da produção e à ligação descentralizada através de inversores.
Embora Portugal e Espanha já utilizem software da Siemens para gestão e simulação das redes, a empresa insiste na necessidade de um “upgrade” para a nova geração Gridscale X. A colaboração com operadores ibéricos já está em curso e, em Portugal, a Siemens participa também em projetos estratégicos em mais de 160 subestações que dão apoio à produção solar e eólica.
A aposta da Siemens não se limita à Península Ibérica. Em diversos países europeus, como os Países Baixos, Noruega, Malta e Itália, o software está a ser testado. Na cidade italiana de Trieste, por exemplo, a tecnológica colaborou na criação de um “gémeo digital” da rede, permitindo simular e gerir o sistema elétrico sem afetar a infraestrutura real. Foi fundamental para encontrar soluções de fornecimento elétrico ao porto da cidade, um dos mais movimentados da Europa.
Outro exemplo é o projeto RomeFlex, em Roma, onde a Siemens colabora com a distribuidora local Areti na criação de um mercado de flexibilidade. Através de leilões, consumidores e produtores podem ser remunerados por disponibilizarem energia à rede nos momentos de maior necessidade.
O objetivo a longo prazo é alcançar uma gestão de rede 100% autónoma, semelhante aos sistemas de condução autónoma na mobilidade.Segundo a Siemens, a tecnologia já existe, falta é a legislação acompanhá-la.
Apagão mostrou a diferença “profunda” entre as redes móveis
Segundo um relatório da Ookla, o impactodo apagão fez-se sentir mais em Portugal do que em Espanha: mais de um terço dos utilizadores móveis portugueses a perderam totalmente o serviço durante a crise.
Entre as operadoras, a Digi foi a mais afetada, com cerca de 90% dos seus assinantes sem cobertura móvel por mais de 24 horas — uma demonstração das limitações de uma rede ainda pouco desenvolvida em território nacional.
Já a MEO posicionou-se como a mais robusta, com baterias de reserva que conseguiram mitigar os efeitos do apagão. Durante o pico da falha, os clientes da Meo tinham metade da probabilidade de perder o serviço em comparação com os da Nos, quatro vezes menos do que os da Vodafone e seis vezes menos do que os da Digi.
A Vodafone também registou uma interrupção significativa, com 70% dos seus clientes ainda sem serviço às 19h30, sendo que só começou a recuperar gradualmente a partir das 20h00. Já a Nos, apesar de partilhar parte da infraestrutura com a Vodafone, conseguiu manter maior estabilidade em locais onde opera autonomamente.
Apagão na Europa
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