Israel bombardeou Síria: não vai permitir “segundo Líbano”

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MOHAMMED AL RIFAI/EPA

Um tanque danificado atingido por um ataque aéreo israelita perto de Al Mazra’a, nos arredores da cidade de Sweida, no sul da Síria

Cessar-fogo foi rompido horas depois de anunciado e já morreram mais de 100 pessoas. O que faz Israel no sul da Síria?

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse esta terça-feira que Israel não vai permitir que a Síria se torne num “segundo Líbano”, depois de ter ordenado ataques contra forças sírias na cidade de Sweida, no sul do país.

“Não permitiremos o regresso a uma situação em que seja criado um segundo Líbano”, disse Netanyahu, acrescentando que espera não ter de “voltar a atuar”.

As autoridades sírias anunciaram esta terça-feira a cessação das hostilidades em Sweida, iniciada na sequência de uma vaga de intensos confrontos entre drusos e beduínos que começou no passado domingo e fez pelo menos 30 mortos em várias zonas da província com o mesmo nome, segundo dados oficiais.

No entanto, o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) contabilizou pelo menos 102 mortos na sua última contagem e esta quarta-feira, os confrontos reacenderam na cidade drusa, rompendo o cessar-fogo anunciado horas antes.

Porque é que Israel interveio?

Israel não está a gostar e voltou a avisar que vai intensificar os ataques para proteger a comunidade druza.

Cerca de 130 mil drusos israelitas vivem no Carmelo e na Galileia, no norte de Israel. Os homens drusos com mais de 18 anos foram recrutados para o exército israelita desde 1957 e ascendem frequentemente a cargos de alta patente, enquanto muitos constroem carreiras na polícia e nas forças de segurança, segundo a CNN.

Além disso, Israel declarou uma zona de desmilitarização na Síria que “proíbe a introdução de forças e armas no sul da Síria” — declaração de Netanyahu que foi rejeitada pelo governo sírio.

Já a Turquia, a Arábia Saudita, o Qatar e a Jordânia também criticaram esta terça-feira os ataques israelitas à cidade de Sweida, e reafirmaram o apoio às forças sírias que foram destacadas para a província para mitigar o conflito entre drusos e beduínos.

“Condenamos a intervenção israelita com força militar nos acontecimentos dos últimos dias no sul da Síria e sublinhamos que estes ataques devem cessar imediatamente”, declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco, num comunicado.

As diplomacias de Riade, Doha e de Amã manifestaram, por seu lado, a sua satisfação com o anúncio do governo sírio de cessação das hostilidades na cidade de maioria drusa, bem como com o início do destacamento das tropas sírias para assumir o controlo da segurança.

A Arábia Saudita insistiu na condenação dos “contínuos e flagrantes ataques israelitas em território sírio, da ingerência nos assuntos internos e da desestabilização da segurança e estabilidade” do país atualmente liderado por um governo de transição após a queda do regime de Bashar al-Assad.

A declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita saúda também “as medidas tomadas pelo governo sírio para alcançar a segurança e a estabilidade, preservar a paz civil e garantir a soberania do Estado e das suas instituições em todo o território sírio”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar manifestou-se no mesmo sentido, considerando o anúncio sírio como “um passo importante para melhorar a segurança, a estabilidade e a paz civil”. “A segurança e a estabilidade da Síria são parte integrante da segurança e da estabilidade da região”, acrescentou o comunicado da diplomacia do Qatar.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, insistiu, por seu lado, na necessidade de “manter a calma e a contenção para garantir a preservação das vidas dos sírios, a proteção da população civil, a aplicação da lei e o exercício da soberania síria em todo o seu território”.

Também o enviado especial norte-americano para a Síria, Tom Barrack, afirmou esta terça-feira que a violência na Síria é “preocupante” para todos os envolvidos e adiantou que os Estados Unidos estão a tentar “chegar a um resultado pacífico e inclusivo para os drusos, as tribos beduínas, o Governo sírio e as forças israelitas”.

Com cerca de 700.000 habitantes, a província de Sweida alberga a maior comunidade drusa do país. As tensões entre drusos e beduínos são antigas e a violência irrompe esporadicamente entre os dois lados.

Os drusos, uma comunidade esotérica descendente de um ramo do Islão, são vistos com desconfiança pela corrente sunita extremista de que provêm as novas autoridades da Síria. Representam cerca de 3% da população síria e vivem principalmente no sul, perto de Israel, mas também em bolsas no noroeste e perto da capital, Damasco.

Além da Síria, incluindo os Montes Golã sob ocupação israelita, a comunidade drusa vive sobretudo no Líbano e em Israel.

ZAP // Lusa

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