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“Com tiros no pé”, o PS não ganha a maioria absoluta. E vai sofrer “depressão psicológica”

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Carlos Barroso / Lusa

Luís Marques Mendes, no seu habitual espaço de comentário da SIC, considera positivo o facto de o PS ter assumido de uma forma mais clara a intenção de querer atingir a maioria absoluta nas eleições legislativas de outubro.

“Sou sempre a favor da clareza das posições. Nesse plano, é bom. Acho que a clareza é boa conselheira. Foi o Carlos César primeiro e Ana Catarina Mendes veio reafirmar a mesma questão”, começou por referir o social-democrata no seu habitual espaço de comentário, na SIC. Para o comentador, o combate dos próximos meses vai ser precisamente este: “sim ou não à maioria absoluta” do PS.

Marques Mendes reuniu argumentos a favor da maioria absoluta e argumentos contra. Começando pelos primeiros, destacou o baixo desemprego e os melhores salários, “um enorme triunfo eleitoral para uma maioria absoluta”. A favor da maioria absoluta está ainda o argumento das contas certas; o desejo de estabilidade e, por fim, a incapacidade da oposição – “uma espécie de de benefício colateral que o PS tem”.

Depois, o comentador debruçou-se sobre os aspetos que pesarão contra essa intenção. E nesse lote, destacou o receio de poder absoluto; os tiques de arrogância e de insensibilidade social; o estado da saúde e o exagero da carga fiscal e, por último, a falta de um projeto mobilizador.

Marques Mendes foi cáustico com Carlos César. “Se o objetivo é falar para os eleitores do centro, o mensageiro é o pior possível. César não é um político respeitado nem considerado pelo eleitorado do centro”.

Marques Mendes diz que “tudo isto é mortal. Com estes tiros nos pés, o PS não ganha a maioria absoluta. Perde votos ao centro e à esquerda. Uma maioria absoluta exige: humildade, respeito e diálogo.” E deixa o alerta: “Se o primeiro-ministro não põe ordem na casa, vai ter uma via sacra no futuro”.

Marques Mendes acredita que se o PS não tiver maioria absoluta nas eleições de 6 de outubro, a sua vitória “vai ter um sabor a derrota”, o que terá duas consequências. Uma delas, no plano psicológico, será “um murro no estômago, uma certa depressão psicológica”. A outra, no plano político: “quando o PS tiver que negociar alguma matéria no Parlamento, qualquer parceiro vai ser mais exigente, mais reivindicativo, vai subir a parada”.

Mendes recordou que quando António Guterres não conseguiu alcançar o objetivo da maioria absoluta em 1999, verificou uma “depressão psicológica nos dirigentes do PS”.

Rui Rio “pode passar uma ideia de medo”

Comentando a decisão de Rui Rio de avançar com os nomes de jovens como cabeças-de-lista para Lisboa e Porto, Marques Mendes diz que “as primeira impressões são positivas”. Em primeiro lugar, pelo “efeito surpresa” e, depois, pela “ideia de renovação, de refrescamento e de abertura”. E, finalmente, porque os nomes “são bons: Margarida Balseiro Lopes, líder da JSD, é uma jovem competente; Filipa Roseta é uma mulher de qualidade; Hugo Carvalho é outro jovem promissor”, classificou.

Contudo, o ex-líder do PSD não deixou de apontar pontos negativos a estas escolhas. “Pode ter um efeito negativo na dinâmica das campanhas, levando à desmobilização da máquina partidária. Estas figuras representam um refrescamento mas não são figuras de primeiro plano”, afirma.

Por outro lado, podem ser “decisões sem efeitos eleitorais. Em termos de votos, os candidatos pesam pouco. Em legislativas, quase ninguém vota em deputados. A maior parte dos eleitores nem sequer os conhece. Vota-se em partidos e eventualmente num candidato a primeiro-ministro”. Por isso mesmo, Rui Rio deveria ser o cabeça-de-lista ou por Lisboa ou pelo Porto. “O líder tem de ser o primeiro a dar cara. Esta ideia pode ser boa mas pode passar uma ideia de medo ou de deserção”, diz.

“Incomodados com o combate à corrupção”

Luís Marques Mendes não poupa nas críticas ao PS e ao PSD nas propostas de alteração do Estatuto do Ministério Público que apresentaram na Assembleia da República. Classificando as mesmas como “manobras”, o comentador político afirmou na SIC que a “classe dirigente dos dois partidos parece incomodada com o combate à corrupção”.

Daí tudo fazer para “tentar ‘controlar’, ‘domesticar’ e limitar os poderes da justiça. Em vez de darem mais meios de investigação às polícias, as cúpulas do PSD e do PS passam a imagem que o que mais desejam é politizar a justiça para a tentar controlar”, afirmou. “O PS, em particular, depois do caso Sócrates, devia ter mais pudor”, censurou.

Na semana em que o Sindicatos dos Magistrados do Ministério Público realizou uma greve de três com uma adesão de quase 100%, em protesto contra as propostas do PS e do PSD, fez um rasgado elogio à atuação de Marcelo Rebelo de Sousa por, a 24 horas do início da paralisação dos procuradores, ter feito questão de divulgar um telefonema de apoio que tinha feito à procuradora-geral Lucília Gago.

“Um ataque cirúrgico mas brutal a estas manobras do PS e do PSD. Ao divulgar um telefonema que fez à PGR, Marcelo disse duas coisas essenciais: que o combate à corrupção é essencial; e que, para tal, a autonomia do MP é decisiva”, afirmou Marques Mendes.

ZAP //

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