“Ajudem os milionários” e “Salvem os ricos” são algumas das palavras de ordem da “manifestação” da Associação dos Super Ricos contra o Bloco de Esquerda pela baixa de Lisboa – mas não é o que parece.
As imagens de uma manifestação de “ricos” a criticarem o Bloco de Esquerda (BE) e a gritarem por um “Portugal liberal” podem parecer reais aos mais distraídos. Mas não passam de um vídeo de campanha do BE, com recurso a actores que dizem precisamente o contrário do que o partido defende.
“Nós exigimos ser ouvidos porque temos metade da riqueza deste país. É muito injusto que a outra metade tenha mais voz do que nós”, lamenta-se a presidente da suposta Associação dos Super Ricos que organiza esta “manif” a fingir.
“Eu represento 5% da população que tem 50% da riqueza deste país”, diz ainda a mesma mulher.
Outro suposto manifestante, um homem de barba com fato e uma nota de 500 euros colada no chapéu, diz que é “um self-made man” que deu “no duro desde pequenino” na administração da empresa do pai.
“Saí de casa muito mais cedo do que estes jovens que agora só saem aos 30, ou nem sequer saem, porque não se esforçam”, acrescenta o mesmo actor numa tirada que satiriza os problemas dos baixos salários e da falta de habitação a preços acessíveis.
“Fico sem dinheiro para alimentar o pónei”
Há ainda outra mulher que tem um papel colado ao peito a dizer “galp” e que se queixa de ser “muito difícil duplicar os lucros” na sua cadeia de supermercados. “Nem imaginam a dificuldade que eu tenho com os meus rendimentos, para comprar uma peça do meu jacto privado”, lamenta-se.
“Anda por aí uma tal de Mariana Mortágua que diz que vai aumentar os impostos dos meus palácios todos. Uma vergonha”, queixa-se outra pretensa manifestante.
“Eu comprei um pónei para a minha filha e eu, assim, fico sem dinheiro para alimentar o pónei“, lamenta outro alegado rico do protesto, com um maço de notas no bolso e um papel com o nome “edp”.
Há ainda outro homem que surge a fumar um charuto e a falar das dificuldades do seu hospital privado por continuar a haver Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Anda por aí um movimento que é o Bloco de Esquerda que diz que quer investir no SNS. É uma vergonha”, refere este homem, sugerindo que se deve antes “sufocar o SNS” e “cortar os salários dos médicos”.
“No dia 10, não votem no BE, votem junto a nós porque somos nós que temos a riqueza deste país, portanto somos nós que temos que mandar neste país”, conclui a presidente da Associação dos Super Ricos.
“Muito bom” ou “a pior campanha” de sempre?
Nas redes sociais, a campanha do Bloco está a ser acolhida de forma diferenciada conforme os casos. “Muito bom” e “sensacional” é a opinião de quem gosta da estratégia, considerando que se conseguiu uma boa “caricatura” da situação.
Mas, para outras pessoas, é simplesmente “vergonha alheia” e “constrangedor”, como se refere na rede social X, o antigo Twitter.
E há quem fale na “pior campanha” de sempre e quem refira que é uma “infantilidade política”.
Também há muitas farpas a Mariana Mortágua, líder do BE, com a história da sua avó e o apartamento na Avenida de Roma – e há quem pergunte se os “ricos” da manifestação são “moradores da Avenida de Roma”.
“O BE está a lutar para, nas próximas eleições, ir ao debate dos pequeninos“, nota outro utilizador do X. “Estão bem alinhados com o Chega na luta de quem é mais populista”, atira outro.
“Neste partido tudo é falso, até as acções de campanha“, lamenta ainda mais um utilizador desta rede social.
Já o advogado Pedro Pestana Bastos, ex-Presidente da Assembleia-Geral do Belenenses e cronista no Observador, diz no X que o vídeo é “vergonhoso” e que “estimula ódio social”. “O BE, em vez de querer acabar com os pobres, quer acabar com os ricos”, acrescenta.
O Bloco de Esquerda em vez de querer acabar com os pobres quer acabar com os ricos. Video vergonhoso que estimula odio social. Parece a campanha do Chega. Estão bem um para o outro. https://t.co/xQ22xtSPcU
— Pedro Pestana Bastos (@pestanabastos) February 22, 2024
Usar humor e ironia na política é boa estratégia?
Em Portugal, o marketing político tem apostado com muita cautela no humor porque há sempre o risco de se ser mal interpretado – e isso fica bem patente nos comentários à campanha do BE.
Mas também existe o receio de que o humor pode “banalizar a política” e tornar mais difícil ao eleitor “separar a realidade da construção” fictícia, conforme nota Marco Monteiro Matos na dissertação de mestrado em Ciências da Comunicação, com especialização em Comunicação Política, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 2022.
O historiador Lourenço Pereira Coutinho reforça essa ideia num artigo publicado no Expresso no início de 2024, onde fala do marketing político a propósito das eleições de 10 de Março próximo.
“Num cenário de crescimento dos radicalismos e ameaça de instabilidade governativa, exige-se aos lideres políticos mais autenticidade e menos tacticismo“, salienta Pereira Coutinho, notando que é aí que reside “a força das grandes figuras políticas”.
Mas alguns especialistas constatam que o uso do humor como estratégia de comunicação política pode garantir maior “visibilidade social”, captando mais a “atenção mediática”, como regista Marco Monteiro Matos na sua dissertação.
Além disso, pode “facilitar o processo de persuasão” dos eleitores, “a partir da activação de crenças, atitudes e comportamentos”, ajudando a “melhorar a compreensão das ideias apresentadas”, acrescenta-se na tese de mestrado citada.
O humor é ainda uma forma de um partido de se diferenciar dos rivais e pode mesmo fomentar uma “aproximação emocional” com o eleitor por fazer libertar a “tensão acumulada” perante os problemas, destaca também Marco Monteiro Matos.
E como faz rir as pessoas, esta estratégia pode “gerar uma atitude positiva”, conquistando votos, acrescenta o autor.
Além disso, o humor é uma óptima ferramenta para alcançar um eleitorado mais jovem que está cansado da abordagem tradicional da política. E, assim, pode contribuir para uma “revitalização da política”, entende Marco Monteiro Matos na sua dissertação.
Mas quanto a resultados no que se refere à estratégia do Bloco de Esquerda, só a 10 de Março é que poderemos tirar algumas conclusões.
Ironicamente falando , o estado Social , é desmantelado com muita ironia por parte dos sucessivos Desgovernos . O meu suposto medico de Familia está de baixa a mais de un Ano , sem nenhum substituto , mas permanece no contingente como ativo no meu Centro de Saúde . Se isto não é irónico então esclaressam-me !
oh atento, que tal aprenderes Português?
São os ricos que criam, direta ou indiretamente, emprego.
Com os regimes que os correlegionários promoveram a pobreza generalizada é que é garantida.
percebo que muito boa gente esteja contra alguns ricos mas em boa verdade são muitos destes ricos que criam riqueza para o pais, que criam empregos, que promovem a economia…
deve-se combater a pobreza e não tentar irradicar aqueles que criam riqueza e, em boa verdade, quando alguem neste pais for empresário com o intuito de apenas e só ajudar os outros a inriquecer sem ter qualquer proveito será motivo para festejar…
esta gente como a Sr.ª Mariana Mortágua que nunca fez nada na vida senão andar colada a um partido precisa mesmo é de “trabalhar” no duro e perceber que à diferenças entre ser um simples funcionário e um empresário…
Realmente o “atento!” anda sempre muito distraído em relação à ortografia!
Mas esta delambida do BE não sabe que uma sociedade também tem que ter ricos? Mal ia se só houvesse pobres!
Acabem com os empresários e depois ficam todos na miséria
Votar no Bloco de Esquerda é meio caminho para a miséria.
Querem tudo oferecido. Casa , transportes, propinas, saúde,,etc,etc,etc.
Só não querem é trabalhar. porque quem trabalha paga impostos.
Ironia invertida.
Trabalho interessante, por parte do BE.
Se isto der para o torto, é o que acaba por acontecer. Só se salvam os ricos, nas por pouco tempo.
Sem os pobres que os alimentam, perdem a capacidade de sobrevivência, e extingue – se a humanidade.
Vale a pena pensar nisso.
O mal de Portugal são o ricos? Talvez. Nunca vi americanos a querer ir trabalhar para Cuba, Venezuela, Nicarágua, Coreira do Norte…
Nesses países não há ricos (oficialmente) só há pobres e vivem bem, nunca se manifestaram contra. São o exemplo a seguir?
Uns aproveitam este espaço , para fazerem reparos sobre a minha gramatica e ortografia ; tem todo o direito ! …… mas seria mais conveniente se opinassem concretamente algo sobre o Artigo ou parte dele , tal como fiz ; dando como exemplo uma triste realidade Social !
Propaganda do mais baixo nível, depois de se apropriarem, indevidamente, duma frase de uma canção de Pedro Abrunhosa, vêm com esta campanha ridícula. O que o BE, mais PNS, querem é o País a senhas para racionar o acesso aos bens essenciais como é feito na Venezuela e Cuba.
Campanha absurda e ridícula! O maus engraçado é que está gente do be são tudos filhos de burgueses que nu cá tiveram de fazer um sacrifício ou esforço na vida ou andando à custa dos outros!
O oposto de rico é pobre, logo se a ideia é acabar com os ricos……. Numa sociedade equilibrada a maior parte dos seres humanos têm como ambição serem ricos, no entanto só alguns conseguem lá chegar.. Agora imaginem uma sociedade cuja a ambição é serem medianos ou pobres. O BE vive numa bolha em que o mundo é perfeito, o dinheiro cai do céu e todos os seres humanos vivem felizes, trabalhando ou não quando-lhes apetece, fumando umas brocas e tudo o que necessitam para o dia a dia provem também do céu. Mas no
entanto não acreditam em deus.
Atento,
Não se amofine com comentários depreciativos, por parte de quem pouco trouxe da feira de Deus…
Quando o Criador distribuiu as melhores faculdades do ser humano, eles estavam no fim da fila, coitados.
Há quem se sinta obrigado a defender os donos e isso é visível em muitos dos comentários. A ironia é uma arma, mas como tudo na vida, só funciona se tiver qualidade. Não vi a acção em questão, mas pelas reações dos direitolas não deve ter sido má de todo. O Bloco tem sido o bombo da festa nestas eleições para a direita ( toda a direita). Isso é bom sinal. A campanha desinformativa promovida por alguns órgãos de comunicação social(?) como o Observador, a Sábado, tem sido constante. No caso do Observador os tentáculos estendem-se a vários canais de TV onde diariamente gente deste jornal aparece com a capa de “comentador”. Tem sido perfeito. Mariana Mortágua é uma das mais competentes políticas do nosso país. Incomoda? Azar do caraças. O que fica para a história é uma campanha acirrada da direita contra o Bloco. Como eu já disse, óptimo sinal