Fim das greves, Ponte Salazar e a guerra na Ucrânia é civil: o debate dos “outros”

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José Sena Goulão / Lusa

Líderes de partidos que não estão no Parlamento encontraram-se. Não há nada para celebrar sobre o 25 de Abril; escolas dão comida pior do que comida para cães.

RIR, PCTP-MRPP, JPP, ADN, Alternativa 21, Volt Portugal, Ergue-te!, Nós Cidadãos, PTP e Nova Direita.

Todos estes partidos/coligações estarão nos boletins de voto nas eleições de 10 de Março; nenhum tem qualquer deputado na Assembleia da República.

Os partidos sem representação no Parlamento encontraram-se na noite passada, na RTP, para o único debate televisivo entre os seus representantes. CDS, PPM e PEV não estiveram porque concorrem em coligações.

Márcia Henriques (RIR – Reagir Incluir Reciclar) surge em vez de Tino de Rans. Assegurou que o partido é o mesmo e que esta mudança na liderança foi “estratégica” porque Vitorino Silva é “muito inteligente mas era ridicularizado“.

João Pinto (PCTP-MRPP, Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses – Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado) salientou que “metade dos portugueses não votam” porque não acreditam no sistema. Os Governos “caem de dois em dois anos, apesar das condições óptimas. E porquê? Professores, médicos, oficiais de Justiça” sem condições. “Foi uma salvação para o PS o Governo ter caído – que é uma indicação da situação real de ingovernabilidade do país”.

Filipe Sousa (JPP – Juntos Pelo Povo) aponta para o grande objectivo: eleger um deputado através do círculo eleitoral da Madeira. “Queremos trazer uma nova forma de fazer política. PSD e PS têm governado a Madeira e os problemas mantêm-se”.

Bruno Fialho (ADN – Alternativa Democrática Nacional) destacou a “desinformação jornalística” e disse que é preciso tirar da Assembleia os políticos que têm “roubado” Portugal: “‘Não há dinheiro para as prioridades nacionais mas há dinheiro para ajudar outros países e para viagens do presidente da República”.

Nuno Afonso (Alternativa 21, coligação entre Aliança e Partido da Terra) quer “limpar a direita” política em Portugal. “Queremos ser a direita com quem se possa falar. Estas ideias mais conservadoras e liberais da direita são apresentadas de forma pouco ortodoxa (por parte do Chega), que vivem do insulto”.

Inês Bravo Figueiredo (Volt Portugal) quer trazer para Portugal as melhores práticas de outros países europeus. O partido europeu – com “filiais” em cada país – e de centro moderado aposta em oito áreas-chave em Portugal: salários, habitação, gestão pública, saúde, educação, alimentação, mobilidade e aproximar Portugal da Europa. E quer estabelecer diálogo entre PS e PSD.

José Pinto Coelho (Ergue-te!) lamenta a “mentalidade absurda do voto útil, ou estratégico, que prolonga a agonia” do país. Assegura que milhares de pessoas apoiam o seu partido mas continuam a votar em PS ou PSD porque “são muito pouco exigentes. Andamos há 50 anos a aturar PS, PSD, CDS…”. E acrescentou: “Não há nada para celebrar em relação ao 25 de Abril. Queremos refundar Portugal”.

Joaquim Rocha Afonso (Nós, Cidadãos) começou por dizer que é “preguiçoso” e que nem era suposto estar neste debate, porque a legislatura deveria acabar em 2026: “Os políticos são eleitos para se portarem bem. António Costa deveria ter-se demitido; mas não deveria ter-se portado mal, tal como a pandilha que o acompanha”.

José Manuel Coelho (PTP – Partido Trabalhista Português) garante que as suas famosas sátiras na Madeira ficaram para trás: “Tinham um certo exagero, sem dúvida, mas era para chamar a atenção para a situação anti-democrática na Madeira, que agora melhorou um pouco. Caiu o ditador, o sucessor caiu na corrupção”.

Ossanda Liber (Nova Direita) contou que já tentou aproximar PSD e Chega, mas não teve respostas: “Os senhores preferem continuar a lutar entre si”. Avisa que está a acontecer em Portugal uma “renovação política” e lamenta que, à direita, estejam a prevalecer “egos e não a razão”.

Estas foram as apresentações, introduções, de cada partido. Mais à frente, houve alguns excertos mais significativos.

Um deles foi protagonizado precisamente por Ossanda Liber. O Nova Direita defende, entre outras medidas, um corte significativo no número de funcionários públicos, sobretudo na administração pública: “Não se compreende que precisemos de tanta gente, com a transição digital”.

Em relação a contas, números concretos nestes cortes, disse apenas que seriam ganhos “imensuráveis”.

João Pinto lamentou o alinhamento “descabido” de Portugal em relação às guerras na Ucrânia e em Gaza. Portugal alega que Israel “tem o direito de se defender. Do quê? Um país ocupante…” Na Ucrânia não há um país ocupante, segundo o PCTP-MRPP: “Há uma guerra civil, porque grande parte dos combatentes pela Rússia são ucranianos”, descreveu.

José Manuel Coelho acredita que os problemas actuais da Justiça já começaram no 25 de Abril de 1974: “Não houve uma intervenção na Justiça, os vícios do antigo regime mantiveram-se e, pior, agora os juízes têm mais poder. A Justiça não é uma força de Abril, é reaccionária, não vai a votos e fica à mercê dos grandes capitalistas”, afirmou o líder do PTP.

O Ergue-te! defende o fim das greves nas empresas públicas: “É uma profunda injustiça para com a nação e populações”, alegando que não conhece nenhuma greve no sector privado. As greves no sector público são consequência do “terrorismo dos sindicatos”.

No meio destas respostas a Carlos Daniel, José Pinto Coelho disse que as greves nos transportes públicos originam, por exemplo, filas de trânsito que entopem a Ponte Salazar. “Ponte 25 de Abril”, corrigiu o moderador. “Salazar!”, insistiu Pinto Coelho.

O RIR acredita numa boa participação dos jovens nas eleições, e na política no geral, desde que se resolvam problemas na educação, como por exemplo: “Os alunos que comem na escola pública comem pior do que cães. Acontece em 90% das escolas”.

Joaquim Rocha Afonso lamentou as contas dos votos: um voto nos círculos fora da Europa vale um décimo do que vale um voto no círculo eleitoral do Porto. “Que igualdade é esta?“, questionou o presidente do Nós, Cidadãos.

O ADN é contra as “doutrinas” das ideologias de género nas escolas, acha que os abortos não devem ser pagos pelo Serviço Nacional de Saúde e assegura que há “fraude climática”, falando nos “puns das vacas” e assegurando que as emissões de dióxido de carbono e a invervenção humana quase não têm impacto na atmosfera terrestre.

No início, Bruno Fialho disse que o moderador Carlos Daniel “errou em tudo” ao introduzir as perguntas porque “fez uma interpretação” do programa eleitoral do ADN.

Depois houve momentos de maior tensão entre Ossanda Liber e Carlos Daniel. A líder do Nova Direita interrompeu Filipe Sousa (JPP); foi a primeira interrupção em todo o debate.

Quando o moderador da RTP tentou retomar a sequência do debate, Ossanda avisou: “Se não deixa terminar o raciocínio, é complicado! Nunca deixa terminar raciocínios!”. Filipe Sousa apontou, na direcção de Ossanda: “O respeito também faz parte da democracia”. Ossanda Liber reagiu: “Pois”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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4 Comments

  1. Ouvindo estes candidatos, percebe-se porque não estão representados no Parlamento. O nível do pensamento e do discurso é geralmente baixo. Menos mal, ainda assim, o Volt.

  2. Parabéns ao jornalista.
    Só apelando a um sentido de missão muito forte terá sido possível trabalhar no meio de tanta pobreza e vacuidade.

  3. José Pinto Coelho tem alguma razão. Compreender-se-ia se se tivesse dado o nome “25 de Abril” ao Parque Eduardo VII, mas à ponte que foi mandada construir por Salazar? A ponte sobre o Tejo é uma obra do Estado Novo, não do regime pós 25 de Abril, mas não houve o menor pudor em assumir como sua uma obra do inmigo. E o que é engraçado é que a ponte de Vila Franca continua a chamar-se Marechal Carmona. Mas então o Marechal Carmona não foi um dos esteios do Estado Novo? Não foi ele que nomeou Salazar para Presidente do Conselho? Não o podia ter demitido? Mas o seu nome perdura, mas não o do homem que mandou fazer a ponte sobre o Tejo…

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