Numa altura em que a pandemia continua sem dar tréguas, tendo-se já ultrapassado os 105 milhões de casos de infeção e os dois milhões de óbitos a nível mundial, a imunização das populações tem sido uma das principais prioridades da maioria dos Estados. Portugal não é exceção.
Em Portugal, a primeira fase do plano de vacinação desenvolvido pelo Governo teve início a 27 de dezembro, destinando-se a profissionais de saúde e de serviços essenciais, a utentes e trabalhadores de lares, a pessoas com mais de 50 anos com doenças associadas e também as pessoas com idade igual ou superior a 80 anos.
Desde então, foram já administradas um total de 394.088 doses de vacinas, o equivalente a 3,86 doses de vacinas por cada 100 habitantes, de acordo com os mais recentes valores divulgados pela Our World In Data, referentes a domingo passado. Assim sendo, Portugal fixa-se precisamente no meio da tabela dentro da União Europeia, ao ocupar o 14.º lugar em conjunto com a Eslováquia.
Por cada 100 habitantes, a UE administrou apenas um total de 3,81 doses de vacinas contra a covid-19, valor que supera, ainda assim, as 1,69 doses distribuídas pela mesma fração de população em todo o mundo.
Refira-se que os dados apresentados dizem respeito às doses administradas até ao momento, o que não corresponde ao número total de pessoas já imunizadas, pelo facto de grande parte das vacinas que estão agora a ser distribuídas pela população serem multi-dose – sendo, assim, necessárias duas doses para completar o processo de vacinação.
Numa volta pelo processo de vacinação na Europa percebe-se que Malta é o país da UE com mais doses distribuídas por cada 100 habitantes: 8,51, com um total de 37.586 doses de vacinas contra a covid-19 administradas, diz o ECO.
A este país segue-se, dentro da União Europeia, a Dinamarca. Dados atualizados no passado domingo mostram como, por cada 100 habitantes, já tinham sido aplicadas 5,76 doses. Isto numa altura em que o país foi já capaz de distribuir pela sua população um total de 333.882 doses da substância.
Por outro lado, a Bulgária, Letónia e Croácia são os três Estados-membros que se destacam pelos piores motivos, ao serem os países da União Europeia com um menor número de doses de vacinas distribuídas por cada 100 habitantes e, portanto, onde este processo está mais demorado.
A Bulgária apresenta-se como o país detentor de uma pior classificação neste sentido, com tal índice a ficar fixado nos 0,82. A Croácia e a Letónia, respetivamente, aplicaram já um total de 2,33 e de 1,70 doses de vacinas contra a Covid-19 por cada 100 pessoas. Estão, assim, na 25.ª e 26.ª posição deste ranking.
Identificadas 957 mil pessoas acima dos 50 anos para vacinar
Os serviços de saúde identificaram 957 mil pessoas para vacinar contra a covid-19 correspondentes a idosos acima de 80 anos e pessoas entre os 50 e os 79 com uma das doenças de risco, adiantou hoje o Governo.
De acordo com a ministra da Saúde, Marta Temido, “estas listagens foram comunicadas às unidades de cuidados de saúde primários, que começaram já a agendar e convocar as pessoas para a vacinação” contra a covid-19, esclarecendo ainda que há já “40 unidades a trabalhar nestes moldes” e que na terça-feira arrancam outras 59, com total cobertura do território nacional.
“Foram realizados já 2380 agendamentos e foram enviados 1677 SMS, tendo 902 pessoas respondido que sim. As pessoas que não estejam inscritas ou não tenham médico de família podem aceder aos médicos que as seguem e pedir uma declaração. Já foram carregadas 4140 declarações deste tipo”, revelou Marta Temido.
Doentes oncológicos devem ser vacinados
As vacinas aprovadas para combater a doença não incluíram nos ensaios clínicos doentes oncológicos. Contudo, organizações médicas oncológicas internacionais defendem a vacinação, e, algumas, até a prioridade. Em Portugal, há quem concorde, o problema é a escassez de vacinas.
Os últimos dados oficiais divulgados esta semana revelam que em 2018 Portugal registou 52 500 novos casos de cancro, com o do cólon e do reto à cabeça (7600), seguido do da mama (7400), do pulmão (4600), do do estômago (2900), do da bexiga (2200), do da próstata (6100) e dos do sangue (3700).
A verdade é que a pandemia da covid-19 está a agravar esta situação e a colocar novas questões, o processo de vacinação em curso, tendo em conta que um dos problemas é a escassez de vacinas.
Neste momento, a discussão já não se faz em torno da segurança – ou seja, se é seguro ou não vacinar os doentes oncológicos, uma vez que estes não integraram qualquer dos ensaios clínicos realizados para as vacinas já aprovadas e distribuídas no mercado – porque os resultados obtidos já demonstraram às organizações internacionais de oncologia médica que as vacinas são seguras.
A questão agora é como é que os países devem gerir o processo de vacinação em relação a estes doentes. Nos últimos dias, o Reino Unido clarificou os critérios de vacinação, incluindo os doentes com cancro em grupos prioritários, depois de aceitar as recomendações do Instituto de Investigação para o Cancro.
A Sociedade Americana Contra o Cancro (ASCO) fez o mesmo. A Sociedade Europeia da Oncologia Médica (ESMO) também, argumentando até que a vacinação destes doentes contra a covid-19 “é uma prioridade de saúde pública”. O instituto francês Gustave Roussy, considerado o primeiro na luta contra o cancro na Europa, já recomendou a vacinação destes doentes e com prioridade. Em Portugal, especialistas na área da oncologia e instituições de saúde também começam a definir posições.
A Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) vai recomendar a vacinação dos doentes oncológicos.
Questionada pelo DN, a presidente, Ana Raimundo, afirma que vai ser publicada na página da SPO um documento sobre este tema.
A responsável tem em conta que lidamos com um cenário de escassez de vacinas, mas defende que se não fosse assim, “se houvesse vacinas para toda a população, os doentes oncológicos também deveriam ser considerados prioritários. Sobretudo, os doentes da área da hematologia e medula e transplantes, porque são os mais suscetíveis entre os doentes de oncologia e é nestes que “se nota maior mortalidade quando infetados com covid-19”.
A Organização Mundial de Saúde na Europa ainda não falou sobre vacinação a estes doentes, mas alertou há dias para o impacto que a pandemia da covid-19 está a ter no tratamento do cancro a nível mundial, considerando a situação catastrófica e ser necessário proteger estes doentes.
Lisboa tem espaços alternativos para vacinação. Porto fala em “drive-thru”
Numa altura em que as entregas das empresas farmacêuticas ainda estão a ser feitas a conta-gotas, muitas autarquias já começaram a preparar e a anunciar a abertura de centros complementares para a vacinação destes dois novos grupos prioritários incluídos na primeira fase da operação que, em conjunto, ascendem a perto de um milhão de pessoas. São sobretudo pavilhões municipais, mas não só.
Em Lisboa, há sete espaços alternativos aos centros de saúde preparados para administrar vacinas aos cerca de 70 mil cidadãos que na cidade se incluem nestes dois novos grupos prioritários e um deles é o Pavilhão Altice Arena, avança o Público.
No Porto, a câmara municipal já disponibilizou uma escola (António Aroso) ao Aces do Porto Ocidental e uma tenda para recobro ao Aces do Porto Oriental, mas o presidente, Rui Moreira, defende que, quando houver doses em número suficiente para arrancar com a vacinação em massa, será necessário um modelo de inoculação diferente, eventualmente em “drive-thru” ou “drive-in”, à semelhança do que está a ser feito “em Israel e na cidade de Nova Iorque”.
No modelo drive-thru, as pessoas entram de carro nas estruturas e nem precisam de sair das viaturas.
Nos arredores do Porto, em Gondomar, a autarquia disponibilizou o pavilhão multiusos da cidade, onde na sexta-feira arrancou a vacinação de quase uma centena de pessoas, em articulação com o Aces local.
Em toda a região Norte, foram vacinadas 900 pessoas na quinta e sexta-feira passadas e esta semana vão ser administradas mais 1500 doses, revelou a ARS.
Coronavírus / Covid-19
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