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Reunião no Infarmed. Especialistas propõem plano de quatro níveis (e a máscara cai no nível 2)

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José Sena Goulão / Lusa

A sede da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), em Lisboa, voltou a acolher mais uma reunião de peritos esta terça-feira. Foi apresentada uma proposta de alteração da matriz de risco.

Portugal não está em condições de desconfinar totalmente, mas pode começar a reduzir as medidas restritivas atualmente em vigor. A mensagem foi transmitida esta terça-feira, no Infarmed, por Andreia Leite da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, que apresentou a proposta de alteração da matriz de risco.

A investigadora referiu que a proposta passa por uma “fase de transição” e que a matriz de risco deve ser atualizada para “480 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias” (atualmente 240 por 100 mil), com um limite de 255 camas em unidades de cuidados intensivos (UCI).

Desta forma, indicadores como taxa de transmissão R(t) e incidência devem manter-se como “centrais”, devendo também ser medidos os indicadores de gravidade clínica e de impacto na mortalidade.

“Durante fase de transição será necessário continuar a caracterizar as várias dimensões da pandemia, identificar alterações das características da epidemiologia da doença [novas variantes], alterações nos efeitos das vacinas, a necessidade de atuar precocemente e direcionar a atuação mediante as características da epidemia”, sublinhou, sugerindo ainda a utilização de um “quadro resumo”, estratificado por região e grupo etário.

Já Raquel Duarte, especialista da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte e do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), frisou na sua intervenção que o novo plano assenta em seis pilares fundamentais: vacinação, testagem, distanciamento, higienizarão, uso de máscara e ventilação.

A vacinação incompleta, o contacto regular com crianças e/ou pessoas não vacinadas, a frequência de espaços com aglomeração de pessoas e ter fatores de risco para formas graves da doença são considerados fatores que, segundo a especialista, aumentam o risco.

Plano de 4 níveis

A proposta assenta em quatro níveis, sendo que Portugal se encontra atualmente no primeiro. O avanço entre fases deve basear-se na taxa de vacinação e o nível quatro (e último) poderá implicar a imunidade de grupo.

A ventilação e climatização adequada dos espaços fechados, a utilização do certificado digital nos espaços públicos e a autoavaliação de risco são as três regras fundamentais estabelecidas pelos peritos.

Entre o primeiro e o terceiro níveis, as regras gerais são o trabalho remoto ou no exterior sempre que possível; o cumprimento da distância física; uso de máscara em ambientes fechados e em eventos públicos; e ainda “evitar todas as situações não controladas de aglomeração populacional”.

“Com estas medidas gerais, aquilo que nós propomos é que no setor escolar sejam cumpridas as medidas gerais e em termos de atividade laboral exatamente a mesma coisa”, frisou Raquel Duarte.

No caso da restauração, os peritos propõem que seja privilegiada a permanência no exterior.

Ainda assim, e segundo o plano, a limitação de pessoas é para continuar no interior, podendo ir de seis a oito pessoas por mesa “do nível um para o nível três”.

Já no exterior, o número aumenta para dez pessoas na mesma mesa no nível um, 15 pessoas por mesa no nível dois e no nível três prevê-se que não haja qualquer restrição de pessoas.

Nos grandes eventos exteriores e com espaço delimitado, devem estar “bem definidos os circuitos de circulação”. Quando o espaço não puder ser delimitado, os eventos não devem, para já, acontecer.

A utilização da máscara ao ar livre vai cair no nível dois do plano, mas a utilização deverá acontecer sempre que não seja possível manter o distanciamento físico.

Já no que diz respeito a casamentos e batizados, a lotação é limitada a 50% dos espaços interiores no nível um e deve ir aumentando “progressivamente até à lotação máxima”.

Nas praias e parques de campismo, a utilização da máscara deverá ser mantida apenas em locais como os apoios de praia, devendo o distanciamento físico ser mantido em todas as ocasiões.

Quanto às atividades desportivas, são recomendadas as medidas gerais, mas “continua a haver uma proposta de promoção das atividades em ambiente exterior”.

Nos transportes públicos, os peritos defendem que deve ser privilegiada a ventilação. Se não for possível, estes espaços devem recorrer à climatização natural (janelas) e a máscara continua a ser obrigatória.

Vacinação em crianças “é fundamental”

Henrique Barros, investigador da Faculdade de Medicina do Porto, apelou à vacinação das crianças para evitar um pico de novas infeções no inverno.

“O objetivo não pode ser termos um inverno igual aos invernos anteriores, porque controlávamos muito mal as infeções respiratórias. A estratégia tem de ser imaginarmos o que vamos encontrar daqui a alguns meses mas também no que podemos interferir”, começou por afirmar.

“Considerando o frio e 70% da população adulta vacinada no inverno, poderemos ter uma nova onda, mas pequena, com pouco relevo nos internamentos e nas mortes. Podemos prever um inverno no qual a vida se pode aproximar do que era antes”, avançou.

“Por cada diminuição de cinco graus nas temperaturas mínimas médias haverá um aumento de cerca de 30% do número de casos. É fundamental a vacinação de crianças. Se não forem vacinadas haverá um pico inequívoco de casos”, alertou o especialista, salientando que, se as medidas corretas forem asseguradas, o próximo inverno poderá ser “feliz”.

Gouveia e Melo espera pelo aval da DGS

A última apresentação da sessão ficou a cargo do vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task force da vacinação. O responsável voltou a frisar que a meta de ter 70% da população imunizada com a primeira dose da vacina se mantém para o período à volta de 8 de agosto.

Gouveia e Melo informou também que foram recebidas menos vacinas do que as contratadas, mas que está a haver um “esforço” por parte do Infarmed e do Governo para “adquirir vacinas em parceiros europeus”, o que se pode traduzir no fornecimento de “cerca de um milhão de vacinas” da Janssen e da Pfizer na próxima semana.

“Vamos perder cerca de 470 mil vacinas da Astrazeneca porque já não fazem sentido no nosso plano, mas há um esforço – quer do Infarmed, quer do Ministério da Saúde – para adquirir vacinas em parceiros europeus e esse esforço pode trazer ao nosso plano de vacinação neste momento – na semana que passou e nas próximas duas semanas – cerca de um milhão de vacinas, o que é muito importante para a aceleração do processo de vacinação”, revelou.

Relativamente às crianças e jovens, o coordenador da task force disse que a vacinação vai iniciar-se no fim de semana de 14 de agosto nos adolescentes, entre 16 e 17 anos.

As crianças entre 12 e 15 anos serão vacinadas com a primeira dose nos dois fins de semana a seguir, caso a Direção-Geral da Saúde aprove.

“Em 14 de agosto, vamos iniciar a vacinação dos adolescentes dos 16 e 17 anos. Entre os 12 e os 15 anos será nos dois fins de semana a seguir, se a DGS acordar da importância da vacinação desta faixa da população”, explicou Gouveia e Melo.

Segundo o líder da logística em torno do processo de vacinação, esta “ainda é uma faixa muito significativa” da população portuguesa, representando cerca de 1,5 milhões de pessoas até aos 15 anos.

“É uma quantidade muito elevada de pessoas suscetíveis ao vírus e com uma grande mobilidade, por causa das escolas e dos infantários, e um grande contacto comunitário”, lembrou Henrique Gouveia e Melo.

O coordenador da task force disse ainda que pediu à DGS a redução do intervalo entre primeiras e segundas doses, a fim de aumentar mais rapidamente a proteção da população.

“Pedimos à DGS para encurtar o intervalo para as segundas doses, porque, uma vez que vamos avançando nas primeiras doses para percentagens quase finais de vacinação, é importante reduzir o intervalo para as segundas doses dentro do que são as recomendações das vacinas, porque, ao fazermos essa redução, aumentamos fortemente a protecção contra o vírus”, explicou.

“Em termos de influência da vacinação na incidência, (…) há uma correlação geográfica. A vacinação condiciona a incidência e isto é bastante positivo, porque conforme vamos avançando na vacinação, o vírus tem menos margem de manobra”, observou, adiantando a sua expectativa de que, a partir do final de agosto, com 70% da população com vacinação completa, “a incidência vai ter uma grande quebra”.

Liliana Malainho, ZAP // Lusa

12 Comments

  1. “Portugal não está em condições de desconfiar totalmente”, Liliana não será “Portugal não está em condições de desconfinar totalmente”

  2. A utilização da máscara ao ar livre vai cair no nível dois do plano, mas a utilização deverá acontecer sempre que não seja possível manter o distanciamento físico.

    Mas esta gente não sabe as leis em vigor !!

    A lei actual diz claramente que o uso de máscara é obrigatório quando não se consegue manter o distanciamento.
    Não precisamos do nível dois, a menos que a lei altere no nível 2 e em vez de obrigatório passe a dizer recomendado.
    Caso contrário o nível dois é a lei atual.

      • Que eu saiba nunca se vacinaram crianças com vacinas experimentais, sem efeitos a longo prazo conhecidos, e com efeitos a curto prazo mais graves nas crianças e jovens que nos adultos (usos casos de problemas cardíacos após a toma da vacina ocorreram em menos de 20 anos).

        Mas continuem a comparar esta experiência feita à pressa com as vacinas tradicionais como se, por partilharem o nome, fossem a mesa coisa.

      • Se a vacina tem um efeito de 95% então os mais velhos que a tomem.
        Em crianças e jovens até aos 18 a infeção raramente se transforma em doença portanto dar uma vacina aos jovens para proteger os idosos (aqueles a que você chama velhos) é moralmente errado. Ainda para mais porque os idosos que neste momento não tem vacina, é porque não querem.
        Diga lá porque raio tem os meus filhos de vacinados só porque os idosos se recusam, é porque o governo não pode obrigar os idosos mas pode obrigar as crianças!

        Eu digo obrigar as crianças porque é o que vai acontecer, a vacina vai ser facultativa, mas não tenha dúvidas que a próxima surpresa em setembro ou outubro é o governo não permitir o acesso às escolas de alunos sem a vacina, eles não podem obrigar a vacina, mas à semelhança do que acontece hoje, quem não tiver as vacinas em dia não se pode matricular.

        Vacinem os idosos, deixem lá as crianças em paz

      • As pessoas vacinadas continuam a poder contrair e infectar os outros. O único benefício da vacina será, eventualmente, ter menos sintomas quando se apanhar Covid.
        As crianças, com seus sistemas imunitários muito mais “alerta”, poderiam sim atingir imunidade de grupo, coisa que os vacinados nunca terão. Depois há o perigo de, por conta dessa imunidade, as crianças poderem desenvolver doenças auto-imunes quando vacinadas. Não se esqueça que esta “vacina” não é como as outras, usa rna mensageiro e é experimental. Acha bem usar as crianças como cobaias? Mesmo que fosse para não infectarem os mais velhos (que não vai ser)?

      • Uma pequena correção, apenas um em cada 10000 vacinados volta a apanhar o vírus.(números da DGS e OMS)
        Se a população adulta toda se vacinar o vírus pode ficar sem hospedeiros para se reproduzir, os mais novos acabam por se imunizar sem se aperceber.
        O problema não é vacinar os jovens é vacinar todos os adultos, incluindo os países com menos condições.
        Como não podemos … nem devemos, fechar fronteiras e isolarmo-nos do mundo, a nossa prioridade deveria ser ajudar os outros países a atingir imunidade.

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