Quando o Império Romano entrou em declínio e deixou de conseguir cunhar e distribuir moeda, as comunidades locais resolveram o problema — com moedas falsas, toscas e de baixo valor, que não tinham intenção de enganar, mas facilitar o comércio quotidiano — e que eram toleradas por Roma.
Um novo estudo, publicado no início deste mês na revista Vegueta, revela como as moedas falsificadas foram fundamentais para sustentar a economia nos séculos finais do Império Romano.
A investigação, focada no então chamado territorium gerundensis (região sob jurisdição da cidade de Gerunda, atual Girona, na Catalunha), analisa estas imitações e o seu impacto na vida quotidiana da época.
Nos séculos IV e V d.C., o Império Romano enfrentou uma crise profunda, marcada por guerras, invasões e crescente fraqueza administrativa, que dificultou a produção e distribuição de moeda oficial.
Foi então que surgiram as moedas imitativas — peças produzidas localmente que copiavam os desenhos das moedas romanas mas eram feitas com materiais mais baratos e de qualidade inferior.
Embora possam inicialmente parecer fraudulentas, na verdade desempenharam um papel crucial: manter o comércio a funcionar quando o estado já não conseguia fornecer moeda suficiente.
A cunhagem imitativa serviu uma economia monetizada que teve de responder à escassez premente de nova cunhagem, explica Marc Bouzas Sabater, investigador da Universidade de Girona e autor do estudo, citado pelo LBV.
Estas imitações, longe de serem rejeitadas, circularam ao lado de moedas oficiais e até com peças de reinos bárbaros, como os Vândalos, ou moedas bizantinas.
O estudo analisou 185 moedas imitativas encontradas em sítios arqueológicos por toda a região, desde cidades como Ampúrias até vilas rurais como Vilauba.
As falsificações eram visivelmente menores que as originais, com pesos que podiam ser metade ou menos. Por exemplo, enquanto uma moeda oficial de bronze pesava cerca de 1,65 gramas, as suas imitações mal ultrapassavam um grama.
Os rostos dos imperadores e os símbolos nas moedas apareciam mal definidos, com características exageradas ou linhas simples em vez de detalhes finos.
O desenho mais frequentemente imitado mostrava um soldado romano a espetar um cavaleiro bárbaro caído — um símbolo de vitória bastante usado na época. Moedas de imperadores como Magnêncio ou Constâncio II também foram copiadas.
O estudo distingue entre dois tipos de imitações: por um lado, havia as peças grosseiras feitas com moldes simples, que surgiram para compensar a escassez de cunhagem oficial e não tinham intenção de enganar, mas sim facilitar o comércio quotidiano.
Por outro lado, havia as falsificações “profissionais”, moedas melhor elaboradas que eram quase indistinguíveis das originais e visavam passar por genuínas, embora fossem menos comuns na região estudada.
Embora a falsificação fosse punível por lei, a escassez de cunhagem oficial fez com que as autoridades, na prática, tolerassem estas imitações. O objetivo não era a fraude, mas preencher o vazio deixado pela cunhagem oficial, nota o estudo.
As moedas imitativas apareceram em momentos críticos no final do século IV após reformas monetárias que reduziram a produção oficial, e no século V durante as invasões bárbaras e a desintegração do Império Ocidental.
Uma descoberta fundamental é um tesouro de moedas descoberto em Santa Margarida d’Empúries, contendo uma variedade de moedas oficiais, imitações e até algumas moedas vândalas estavam misturadas.
Este tesouro, datado de meados do século V, mostra que as falsificações ainda estavam em uso décadas após os seus modelos originais terem deixado de ser cunhados.
A presença massiva destas moedas revela duas coisas: que a economia ainda estava ativa, já que a necessidade de moedas—mesmo falsas—indica que o comércio e os mercados não tinham colapsado; e que o estado tinha perdido o controlo.
As denominações imitadas mostram claramente que copiavam tipos de moedas muito comuns e de baixo valor na área, destaca o estudo. Por outras palavras, o que estava a ser falsificado era o que as pessoas usavam todos os dias—moedas pequenas para compras quotidianas, não peças de ouro reservadas às elites.
Segundo Bouzas Sabater, as moedas imitativas foram um remendo temporário mas eficaz para uma economia que já não podia depender de Roma.
A cunhagem imitativa serviu uma economia monetizada que teve de responder à escassez premente de nova cunhagem. Isto porque, principalmente as transações diárias, que tinham de ser realizadas em moedas de bronze, foram as mais afetadas pela escassez de moeda, conclui o autor do estudo.
Afinal, mesmo um império em declínio podia manter-se de pé — ainda que à custa de moedas falsas.
Quando leio “peças bizantinas” só posso deduzir que ee referem ao Império Romano do Oriente! Nunca houve um Império conhecido como “Bizantino”! Essa é uma designação contemporânea! Até 1453 os ditos Bizantinos entendiam pertencer ao Império Romano do Oriente, parte do Império Romano no seu todo. Foi o Império que mais tempo durou na História.