A Sociedade Portuguesa de Pediatria defende a reabertura urgente das escolas especialmente o ensino pré-escolar e nos 1º e 2º ciclos do ensino básico, chamando a atenção para as consequências do fecho no desenvolvimento das crianças.
Numa posição conjunta, a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), a direção do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos e a Comissão Nacional da Saúde Materna, da Criança e do Adolescente, consideram urgente que os decisores equacionem a reabertura das escolas e a integração das crianças em atividades adequadas às suas reais necessidades.
“A aproximação ao normal poderá ter de ser faseada, com avaliação contínua e adequada, mas tem de ser rápida e programada de forma consistente“, referem.
Para aquelas entidades, a urgência é maior no ensino pré-escolar e nos primeiro e segundo ciclos do ensino básico, seja pelo importante papel que o contacto com os educadores e com outras crianças tem no desenvolvimento psicomotor de competências básicas, seja pelo maior impacto no funcionamento em sociedade e pelo menor risco de contagiosidade comunitária.
“A abertura das escolas para as restantes fases de ensino poderá ter de seguir uma progressão gradual, por ciclos de ensino, deixando os mais diferenciados, em que os métodos de ensino não presencial colocam menos dificuldades, para mais tarde. Mas não esqueçamos a necessidade de socialização dos adolescentes, cuja saúde mental está em risco”, sublinham.
Aquelas entidades consideram que os planos definidos para o início do presente ano letivo mostraram-se eficazes, com boa adesão de profissionais escolares e de alunos, não se tendo verificado surtos relevantes com origem nos estabelecimentos de ensino.
Por isso, defendem que o reforço da vigilância epidemiológica, pelos serviços de saúde, permitirá minimizar o risco associado à abertura das escolas, assegurando que uma atuação direcionada permitirá o controlo da disseminação da doença, sem que se torne necessário regressar a medidas mais agressivas.
“As crianças de risco social elevado, que têm na escola momentos de normalidade, de segurança e alimentação adequada, estão ainda mais propensas ao risco causado pelo distanciamento”
Na posição conjunta, lembram que “desde o início verificou-se que as crianças eram pouco afetadas, apresentando em regra doença ligeira, com casos muito esporádicos de doença grave, e cedo se percebeu que, em contraste com outras doenças virais mais conhecidas, contribuíam pouco para a disseminação da doença”.
Para estas entidades, o encerramento das escolas e a obrigatoriedade de permanência em casa das crianças de todos os escalões etários contribui de forma direta para os efeitos que a doença covid-19 tem sobre estas ao nível do desenvolvimento, da aprendizagem, dos comportamentos, das rotinas e no relacionamento familiar e social.
“As crianças de risco social elevado, que têm na escola momentos de normalidade, de segurança e alimentação adequada, estão ainda mais propensas ao risco causado pelo distanciamento. Recordamos que, muitas vezes, é da escola que parte o primeiro alerta que dá início a investigação e medidas de proteção“, referem.
No entendimento da SPP, do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos e da Comissão Nacional da Saúde Materna, da Criança e do Adolescente, todas as alterações e as desigualdades sociais e riscos associados, terão efeito direto na esperança de vida destas crianças e na capacidade de evolução da própria sociedade nos anos futuros.
Professores e diretores querem ser consultados
A Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) e a Federação Nacional de Professores (Fenprof) disseram ao Jornal Económico que o Governo devia ouvir as organizações sindicais antes de tomar decisões sobre o plano de desconfinamento.
“O Governo tem-se recusado a tomar a iniciativa de convocar as organizações sindicais para as ouvir relativamente a questões que têm que ver com a prevenção e segurança sanitária”, disse Luís Lobo, da Fenprof.
Para a Fenprof, é preocupante falar-se de voltar às aulas quando “não há nenhuma indicação da parte do Governo de que no regresso haverá procedimentos diferentes daqueles que existiram no início do ano letivo, ou seja, aumentar o distanciamento entre alunos, reduzir o número de alunos por turma, desencontrar horários”.
A Fenprof defende ainda que a reabertura das escolas deve ser bem planeada para evitar “o descalabro que já houve” em janeiro quando os alunos voltaram às escolas.
“O Governo continua a dizer que não foi pelas escolas estarem a funcionar que a situação epidemiológica no país se agravou, nós não temos nenhum dado que permita fazer essa afirmação. Antes pelo contrário, porque a percentagem de alunos que foi testada recentemente dá uma percentagem de infeção superior à da média nacional, o que quer dizer que o contágio é maior do que fora das escolas”, concluiu.
Já Filinto Lima, presidente da ANDAEP, afirmou que seria “positivo para os especialistas terem uma visão mais global da situação, para depois transmitirem a sua posição ao primeiro-ministro”. Sobre o regresso, Filinto Lima considera que será “faseado, gradual, começará pelas crianças, portanto, pelos mais novos, as creches e o primeiro ciclo”.
O presidente da ANDAEP considera que o regresso “deve ser acompanhado de algumas medidas, como aumentar a testagem e a Direção Geral de Saúde devia priorizar a toma das vacinas aos professores e aos funcionários que neste momento estão em funções nas escolas”.
Esta terça-feira, a ministra da Saúde, Marta Temido, admitiu que “está a ser analisada” a possibilidade de vacinar os professores e funcionários de escolas. Porém, disse ainda que a situação pandémica em Portugal está “longe de estar tranquila” e, por isso, considera que ainda não é altura para falar da reabertura das escolas.
Maria Campos, ZAP // Lusa
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Mais cedo ou mais tarde as pessoas vão perceber que a “saúde” não é mais que um negócio que move muito muito dinheiro pelo mundo fora.