Depois de, logo no primeiro dia da sua visita a Portugal a propósito da Jornada Mundial da Juventude, ter abordado diretamente o tema dos abusos sexuais na Igreja, o Papa Francisco reuniu-se em privado com um grupo de vítimas desses abusos.
O Papa Francisco recebeu esta quarta-feira, na Nunciatura Apostólica, em Lisboa, um grupo de portugueses vítimas de abusos na Igreja.
“Na tarde de hoje, após o final dos encontros institucionais e com a Igreja, o Papa Francisco recebeu na Nunciatura um grupo de 13 pessoas, vítimas de abusos por parte dos membros do clero”, adianta a Santa Sé num breve comunicado.
Segundo o mesmo documento, as 13 pessoas estiveram “acompanhados por alguns representantes de instituições da Igreja portuguesa, responsáveis pela proteção dos menores: Rute Agulhas, coordenadora do Grupo VITA, Paula Margarido, presidente da Equipa de Coordenação Nacional das Comissões Diocesanas, e Pedro Strecht, coordenador da ex-Comissão Independente”.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças, que apresentou o seu relatório final em fevereiro, validou 512 testemunhos, apontando a um número de 4815 vítimas, entre 1950 e 2022.
O encontro, que não fazia parte da agenda oficial da visita do Papa Francisco a Portugal, “decorreu num clima de intensa escuta e durou mais de uma hora, concluindo-se pouco depois das 20:15”, nota ainda o comunicado da sala da imprensa da Santa Sé.
Segundo a agência Ecclesia, o Papa Francisco tinha abordado o tema, na homilia da celebração de Vésperas a que presidiu no Mosteiro dos Jerónimos, evocando os “escândalos” que afetam a Igreja Católica e o “sofrimento” das vítimas.
“Às vezes o nosso mau testemunho e os escândalos desfiguraram o rosto da Igreja e chamam-nos a uma humilde e constante purificação, partindo do grito de sofrimento das vítimas, que se devem sempre acolher e escutar”, disse Francisco, num encontro com bispos, membros do clero e de Institutos de Vida Consagrada, seminaristas e agentes de pastoral da Igreja Católica.
Aos presentes, numa intervenção em espanhol, Francisco alertou que o risco, face a estes acontecimentos, é cair na “resignação e pessimismo”, pedindo para que enfrentem “as situações pastorais e espirituais”, e dialoguem “com abertura de coração para experimentar novos caminhos a seguir”.
No início do encontro, D. José Ornelas dirigiu uma saudação ao Papa, realçando o percurso percorrido pela Igreja Católica em Portugal no tema da proteção de menores.
“Continua a solicitar também a nossa atenção particular a defesa do bem das crianças e o compromisso de defendê-las de toda a espécie de abusos”, disse o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
Em abril, após a publicação do relatório final da Comissão Independente, a Igreja Católica criou o Grupo Vita para acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis, que funciona em articulação com as comissões diocesanas de proteção de menores
ZAP // Lusa
Jornada Mundial da Juventude - JMJ 2023
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