/

Morreu o ex-coordenador do Bloco João Semedo

15

José Sena Goulão / Lusa

O antigo coordenador do Bloco de Esquerda João Semedo

O ex-coordenador do Bloco de Esquerda morreu esta terça-feira, aos 67 anos, depois de anos de uma batalha contra o cancro, revelou aquela estrutura partidária, através de uma nota de pesar publicada no site Esquerda Net.

O BE transmitiu hoje “as mais sentidas condolências” pela morte do seu antigo coordenador João Semedo, considerando que a perda “é de todos os que partilharam o seu ímpar e diversificado percurso, que com ele lutaram, aprenderam e conviveram”.

“O Bloco de Esquerda informa que morreu esta manhã João Semedo, com 67 anos, médico e militante político, e transmite à sua mulher, ao seu filho e a toda a família as mais sentidas condolências”, lê-se numa nota enviada à agência Lusa.

O partido considera que “a perda de João Semedo é de todos os que partilharam o seu ímpar e diversificado percurso, que com ele lutaram, aprenderam e conviveram, na política e na vida”.

“Como é de todos o orgulho e a alegria de o terem tido a seu lado”, enaltece.

O BE sublinha ainda que “a doença prolongada e as crescentes limitações da voz não impediram” João Semedo de “manter a atividade política”.

“Nos últimos meses da sua vida, João Semedo publicou um livro com António Arnaut, que também faleceu em maio deste ano, para uma nova Lei de Bases da Saúde e deu força e conteúdo ao Movimento ‘Direito a morrer com dignidade'”, recordam.

Fonte do BE adiantou à Lusa que o partido decidiu cancelar a agenda para hoje.

O velório do ex-coordenador do BE realiza-se esta tarde, a partir das 17h00, na Cooperativa Árvore, no Porto, confirmou à agência Lusa fonte oficial do partido, não havendo ainda informações sobre o funeral.

“Homem de causas” e defensor do SNS

O Presidente da República lamentou a morte de João Semedo, recordando-o como um “homem de causas”, defensor do Serviço Nacional de Saúde, e afirmando que o país sentirá a sua falta.

Numa nota divulgada no portal da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa “lamenta a morte de João Semedo e envia à família as mais sentidas condolências”.

O chefe de Estado – que se encontra em Cabo Verde, na ilha do Sal, para participar na XII Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) – já ligou à coordenadora do BE, Catarina Martins, a dar as condolências, adiantou à Lusa fonte da Presidência.

“Médico de profissão e defensor do Serviço Nacional de Saúde, João Semedo foi um homem de causas, politicamente empenhado desde muito jovem, com um ativismo político anterior ao 25 de Abril. Militante do PCP durante muitos anos, partido que abandonou no início da década de noventa, chegou mais tarde a coordenador do Bloco de Esquerda”, refere o Presidente da República, na nota hoje divulgada.

Marcelo Rebelo de Sousa considera que “foi pelas escolhas que fez” que João Semedo “se destacou, sempre com uma afabilidade acentuada, convencendo pelo exemplo, afirmando-se pela força do seu pensamento lúcido e clarividente”.

“Até a morte encarou com a firmeza e a bondade que o caracterizava, tendo afirmado numa das suas últimas entrevistas que viveu como quis e que de nada do que é importante se arrependeu. O país sentirá a sua falta, o Presidente da República honra a sua memória”.

 

“Homem de diálogo” que deixa uma “imensa saudade”

O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, recorda o ex-dirigente do Bloco de Esquerda como um “homem de diálogo e de convicções” e que deixa uma “imensa saudade”.

Ferro Rodrigues afirma, numa mensagem colocada no site do Parlamento que Semedo, “como dirigente e coordenador do Bloco de Esquerda contribuiu decisivamente para a consolidação do partido e para a atual solução de Governo”, com o Executivo minoritário do PS com o apoio parlamentar dos partidos à esquerda.

Enquanto ex-deputado do BE durante vários anos, deixa no Parlamento “uma imensa saudade” e “foi sempre um homem de diálogo e de convicções”, lê-se na mensagem de Ferro Rodrigues, que disse ter recebido a notícia da morte de João Semedo com “muita tristeza”, apesar de não ser inesperada.

O presidente da Assembleia lembra ainda o médico e ex-militante comunista como “uma das principais personalidades políticas da última década e meia” e a sua “defesa cívica e política do Estado Social, e em particular do serviço nacional de saúde” como algo que “perdurará como exemplo na memória de todos”.

“Foi um combatente pela liberdade”

“O PS e os socialistas receberam com profunda tristeza esta notícia. João Semedo foi um combatente pela liberdade, um democrata e um resistente até ao fim por várias causas. O PS envia as mais sentidas condolências à sua família e ao Bloco de Esquerda”, referiu Maria Antónia Almeida Santos à agência Lusa.

A porta-voz do PS salientou que, enquanto médico, João Semedo “foi um humanista que entregou a medicina ao serviço da política”.

“Como deputado foi um lutador sempre leal. Apesar das diferenças, foi um político com quem sempre deu gosto partilhar e discutir as nossas posições. Tocou no coração de pessoas de todo o espetro político”, apontou Maria Antónia Almeida Santos, que na anterior legislatura desempenhou as funções de presidente da Comissão Parlamentar de Saúde.

Maria Antónia Almeida Santos afirmou depois que “todos os que tiveram a sorte de privar” com João Semedo “vão ter muitas saudades”. “Vamos respeitar o seu legado político. Vamos lembrar sempre o seu exemplo na luta pela dignidade da vida humana”.

Político que lutou “sempre por causas e convicções”

“O dr. João Semedo era alguém que vou guardar na minha memória como uma pessoa que estava na vida pública por causas e convicções e em circunstância alguma por qualquer interesse pessoal. Isso hoje vai escasseando cada vez mais e, portanto, tenho um grande respeito por toda a gente que está assim na vida pública”, destacou Rui Rio.

“Pese embora as grandes diferenças ideológicas que tínhamos, eu acho que o dr. João Semedo faz realmente falta à política portuguesa“, salientou.

Rio conhecia pessoalmente João Semedo “há muitos anos” e recordou que, quando foi presidente da Câmara Municipal do Porto, o antigo deputado do BE colaborou num programa de combate à toxicodependência na cidade.

A última vez que os percursos de ambos se cruzaram foi no âmbito do movimento criado por João Semedo, “Direito a morrer com dignidade”, pela despenalização da eutanásia, causa também apoiada pelo presidente do PSD.

“Naturalmente que não tive qualquer problema em colaborar com alguém que tinha a mesma convicção que eu, independentemente de termos alinhamentos partidários diferentes”, afirmou Rio, reiterando o respeito que manterá pela memória de João Semedo “pela forma como se dedicava à causa pública, sempre por convicções”.

“Amor à liberdade, respeito, convicções e coragem”

“No dia da sua morte, e celebrando a sua vida, quero falar daquilo que está para além das divergências na política, que é o amor à liberdade, o respeito, as convicções, a coragem, e esses são valores que eu reconheço na vida do João Semedo, permanecem na minha memória, e hoje curvo-me perante essa memória”, disse à Lusa Isabel Galriça Neto, deputada e dirigente do CDS-PP.

A deputada, que é médica, e foi recentemente um dos rostos contra a despenalização da morte assistida, sublinhou que além das “profundas divergências” que tinham, existiu sempre respeito mútuo e o antigo coordenador do Bloco foi “um bom amigo”.

Galriça Neto defendeu que a vida de João Semedo incorporou a “ideia de construção do bem comum” e da necessidade de, com coragem, de lutar por valores.

O PCP também enviou hoje, através de uma breve nota, condolências à família e ao Bloco. “Perante a notícia do falecimento de João Semedo, o PCP endereça à família e à direção do Bloco de Esquerda, as suas condolências“, é a única frase do documento enviado à comunicação social.

ZAP // Lusa

Siga o ZAP no Whatsapp

15 Comments

  1. Que Deus o tenha, mas apesar das suas convicções e da sua força interior a luta pelo SNS nunca iria dar em nada porque o SNS tem os dias contados. É um serviço mau/péssimo, sempre com listas de espera enormes e em alguns casos específicos (seviço de urgências por ex.) já se paga mais do que no privado com um bom seguro de saúde. Ou seja, é bom na teoria mas chega-se à prática e cai tudo por terra, há muito que melhorar até que se torne um serviço realmente útil e prático.

    • É conveniente aos agentes com interesse no sector privado da saúde que as pessoas pensem que o SNS está condenado e que é inevitável que assim seja. Maltratado que tem sido, o SNS é ainda a “jóia da coroa” do 25 de Abril. Pode não ser bom, mas é infinitamente melhor (e globalmente muito mais barato) do que não o ter, tanto em teoria como na prática. Cabe a nós (cidadãos eleitores e contribuintes) zelar para que não só não se extinga, como seja progressivamente melhorado. Sim, é possível!

    • De “Esclarecido” tens muito pouco!…
      O SNS é “mau/péssimo”?!
      A comparar com quê?!
      Paga-se mais do que no privado?!
      Andas mesmo a “comer do sono”…
      Enfim….

  2. Este é um ano triste, com o falecimento de duas figuras maiores da política portuguesa, exemplos raros de dedicação à causa pública (primeiro António Arnaut, agora João Semedo). Parte o homem, fica o exemplo. Que sirva de inspiração a muitos!

    • Figuras maiores da política portuguesa ? Hahaha, Mas há alguma figura grande na política ? Deves ser mesmo “pequenino” no tamanho e na mente

      • Vindo de alguém incapaz de ir além de chavões alarves estilo “os políticos são todos iguais”, é uma observação cómica, e que diz mais sobre quem a profere do que sobre o destinatário.

  3. Tratar a saúde como mercadoria é um método socialmente aceito de assassinato, mas para o dia do juízo final ainda é um homicídio.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.