A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, alertou os investidores para o “risco de liquidez” de fundos associados a criptomoedas estáveis.
Na abertura da conferência anual do Comité Europeu do Risco Sistémico (CERS), em Frankfurt, Christine Lagarde lembrou que as entidades que investem neste tipo de ativos, conhecidos por ‘stablecoins’, devem mitigar o risco de haver uma retirada massiva de fundos dos depositantes, garantindo que têm liquidez suficiente para cumprir rapidamente o reembolso das quantias.
“À primeira vista, estas entidades e atividades podem parecer inovadoras. Mas não precisamos de esperar que amadureçam para perceber que estão a reintroduzir riscos antigos”, apontou, especificando que “o mais evidente é o risco de liquidez”.
As criptomoedas estáveis são ativos digitais, como a Tether e a Circle, que procuram manter um valor estável em relação a uma moeda fiducidária, como o dólar ou o euro, ou em relação a um ou vários ativos.
Como se refere no regulamento europeu relativo aos mercados de criptoativos ‘MiCA’, de 31 de maio de 2023, isso acontece através de “protocolos que preveem o aumento ou a diminuição da oferta de tais criptoativos em função das alterações na procura”.
A presidente do BCE afirmou que “os desafios colocados pelas instituições que investem em ativos de risco, prometendo aos investidores o resgate a curto prazo e pelo valor nominal”, são conhecidos, devendo essas entidades “mitigar o risco de uma corrida” aos investimentos, para garantirem “que dispõem de liquidez suficiente para satisfazer rapidamente os resgates”.
Lagarde sublinhou que é neste contexto que o Comité Europeu do Risco Sistémico “tem vindo a alertar para certos tipos de fundos do mercado monetário”.
O regulamento europeu, lembrou Lagarde, procura abordar este risco de duas formas:
- “em primeiro lugar, os emitentes de stablecoins devem permitir que os investidores da UE resgatem sempre as suas participações pelo valor nominal“;
- “em segundo lugar, os emitentes de stablecoins devem deter uma parte substancial das reservas em depósitos bancários“.
No entanto, “ainda existem lacunas”, de que são exemplo “os chamados esquemas de emissão múltipla, em que uma entidade da UE e uma entidade não pertencente à UE emitem conjuntamente stablecoins fungíveis”, afirmou.
Neste caso, a regulamentação europeia não abrange o emissor que não é da UE.
Segundo Christine Lagarde, a legislação europeia deveria garantir que essas emissões múltiplas não podem operar na UE, a menos que estejam protegidas por legislações igualmente robustas noutras jurisdições e por garantias relativas à transferência de ativos entre entidades da UE e de fora do espaço comunitário.
De acordo com o último relatório sobre o risco de intermediação financeira não bancária, publicado a 1 de setembro, a Administração norte-americana “pode acelerar uma maior interligação” do mercado das criptomoedas aos mercados tradicionais nos Estados Unidos “e, por sua vez, globalmente”, criando riscos para a estabilidade financeira.
Desde que assumiu a presidência dos Estados unidos, Donald Trump assinou ordens executivas com o objetivo de incentivar a utilização de criptoativos como forma de impulsionar o crescimento económico.
// Lusa