Só o próprio partido votou a favor da moção de censura ao Governo. Duas intervenções do Chega originaram intervenções de Augusto Santos Silva.
A moção de censura ao Governo foi chumbada na Assembleia da República, nesta quarta-feira.
Tal como se esperava, apenas o Chega – partido que apresentou a moção – votou a favor do documento. Os outros dois partidos de direita (PSD e IL) preferiram a abstenção, enquanto os restantes partidos (PS, PCP, BE, Livre e PAN) votaram contra.
Eurico Brilhante Dias, líder parlamentar do Partido Socialista, ainda sugeriu directamente ao PSD que votasse contra: “Não há abstenção que resolva o problema. O PSD deve votar contra e separar as águas” – mas os sociais democratas abstiveram-se.
O primeiro-ministro António Costa entrou no Parlamento e foi logo para junto de Pedro Nuno Santos, ministro que saiu fragilizado do episódio do aeroporto de Lisboa. Nesta sessão, o ministro das Infraestruturas e da Habitação trocou de lugar e sentou-se longe do Chega, no outro extremo da fila do Governo.
Ventura vs. Costa
André Ventura foi o primeiro deputado a falar: “O Governo falhou na sua missão fundamental de restaurar a dignidade de Portugal. Os ministros não souberam dar uma resposta digna a um povo digno. Não é a COVID, nem a troika, nem a guerra a responsável pela crise. É o primeiro-ministro”.
“Esta questão não é feita por nenhum motivo de agenda política, mas pelo caos que os portugueses vivem nos serviços públicos”, continuou, antes de criticar a situação que envolveu Pedro Nuno Santos: “O que aconteceu não foi uma trica entre portugueses. Envergonhou o país. Pediu ‘por favor, não me despeça’. E agora temos um ministro que já não existe”.
António Costa considera que esta moção de censura “é um exercício de oportunidade na competição com os outros partidos da oposição”, admitindo que o pretexto (Pedro Nuno) foi “um erro efetivamente grave, mas tão efémero, que já tinha sido resolvido na véspera da própria apresentação da moção de censura.”
O estado da Saúde em Portugal foi o foco na troca de acusações entre Costa e Ventura, na fase inicial do debate. O líder do Chega acha que o Governo tem provocado “um desastre na gestão pública da saúde”. Pedro Frazão, também do Chega, foi directo: “Temos uma incompetente (Marta Temido) à frente do Ministério da Saúde”.
António Costa defendeu o Governo socialista: “Invertemos a tendência de desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com um reforço financeiro superior a 40% entre 2015 e 2022.”.
Mais tarde acrescentou, dirigindo-se a Ventura: “Tem razão: precisamos de melhor organização, gestão e motivação para os profissionais de Saúde. Mas o orçamento do SNS aumentou 40% e os profissionais 20%”.
E criticou o Chega devido à falta de propostas: “Fala, fala, mas não apresenta nem uma propostazinha. Nós podemos não concordar com as propostas do PCP e do Bloco, mas têm propostas, têm ideias! Tem alguma?”.
Ventura vs. PSD
Depois, André Ventura virou-se para o vizinho PSD, que esteve quase duas horas sem apresentar qualquer declaração, sem intervir no debate: “O principal partido da oposição fica em silêncio neste debate; é uma vergonha e desonra o mandato e quem faz oposição em Portugal”.
Quando alguém do PSD falou, Paulo Rios de Oliveira explicou: “O PSD não quer alinhar neste enorme frete que o Chega fez ao PS. Há um mar que nos separa. Não somos nem seremos os campeões das moções de censura, não pediremos a demissão de ministros todas as semanas nem assumiremos atitudes de forcado numa qualquer tourada parlamentar. Se o Governo merece censura, também censura nos merece o Chega com esta iniciativa”.
“Compreendo que não queiram fazer mais fretes ao Governo: andam há seis anos a fazê-los!”, reagiu André Ventura.
Outros partidos
João Cotrim Figueiredo, líder da Iniciativa Liberal, sublinhou que oposição não é o que o Chega está a fazer: “Uma moção de censura é outra coisa. Menos de seis meses depois das eleições, é um favor ao Governo e ao PS. É colaboração, dar oportunidade ao Governo de se regenerar e fortalecer”. E perguntou a António Costa: “Vai aproveitar a oportunidade para agradecer ao Chega?”.
Paula Santos, do Partido Comunista Português, afirmou que a moção de censura não resolve “nenhum dos problemas que afectam os trabalhadores, já que as suas políticas só contribuiriam para o seu agravamento”.
No Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares seguiu o caminho de Cotrim e falou na “cara de alívio” de António Costa, devido à moção de censura, onde “não há nenhum conteúdo sério que valha a pena discutir”.
Rui Tavares, do Livre, afirmou que esta moção “fútil” serviu apenas para “descredibilizar as moções de censura”, falando sobre a “chaga do populismo” e fazendo uma comparação com jogos de vídeo: “É como um miúdo à frente de uma consola com muitos botões. É preciso carregar em todos, sobretudo se disserem perigo”.
Santos Silva interveio
Inês Sousa Real, do PAN, criticou uma moção e censura “absolutamente ineficaz” e explicou: “O PAN não alinha com golpes de propaganda”.
A porta-voz do PAN foi o alvo de Bruno Nunes, deputado do Chega, mais tarde: ”A senhora é uma flor muito bonita no meio do campo, um dia destes vem uma vaca e come-a” – uma frase que originou a intervenção de Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, que classificou como “excessiva” esta intervenção.
Santos Silva voltou a intervir quando André Ventura se queixou de o Chega ter sido impedido de falar, minutos antes, ao contrário do PSD. “Conforme-se com o peso nesta Assembleia que o povo soberano lhe deu”, respondeu o presidente.
Novidades de Costa
O primeiro-ministro aproveitou esta sessão para deixar algumas novidades.
Uma delas foi o facto de que o aumento extraordinário das pensões, que será feito com retroactivos até Janeiro deste ano, será concretizado amanhã, sexta-feira. Os pensionistas vão receber até 70 euros em retroactivos.
Em relação à Saúde, nesta quinta-feira são abertos quatro concursos: construção de 58 unidades de saúde, reabilitação de 194 instalações dos cuidados de saúde primários, de 34 unidades móveis de saúde para territórios de baixa densidade e de mais de 700 viaturas para cuidados de saúde ao domicílio.
Para o ano há mais
Já na fase final do debate, André Ventura voltou a falar e voltou a pegar numa expressão famosa e avisou que, nos próximos anos, o Chega poderá apresentar novas moções de censura: “Connosco não passarão e, enquanto continuar a aumentar impostos e a rir-se da pobreza, virá a este Parlamento todos os anos, se for preciso, enfrentar uma moção de censura do Chega”.
A legislatura é recente mas esta já foi a segunda moção apresentada pelo Chega. A anterior, em Abril, foi de rejeição e também foi chumbada.
No geral, enquanto primeiro-ministro, António Costa enfrentou até agora três moções de censura. As duas anteriores foram apresentadas pelo CDS-PP.
Este sorriso é acanalhado. Está a levar no pêlo, e parece que está a gostar. Que hipocrisia!
Este sorriso deslambido contrasta fortemente com a cara de caso que o seu ministro há dias lhe proporcionou. Como a política é um carrocel de fantasias. E no meio de tudo isto fica o povo, aquele que chia e sofre. Meus Deus, que mundo este!
Santa inocência. Sr. João e Sr. Pompeu, sabem se esta foto foi tirada agora? E em que contexto?
Antes das críticas têm de se informar.
Foi assim demonstrado para que serve a AR, nunca para resolver problemas do Povo, sempre para as lutas,ganâncias, manobras,dos Políticos, uma grande falta de respeito pelo povo, apoiados pela chamada comunicação Social,que de comunicação Social não tem nada,são apêndices dos poderes do sistema,logo de seguida a TVI deu antena ao chega, ao Ventura,dando-lhe oportunidade de se limpar do gozo que deu em direto aos Portugueses, já á muito concluí que os Partidos tradicionais não prestam mas os pequenos que vamos experimentando são muito piores, conclusão é fácil,não vai para a política gente boa, honesta, que queira trabalhar, só gente tipo profissionais de saúde,que direta ou indiretamente matam mais que o Putin.