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Linha da EDP causou incêndio de Pedrógão Grande (e um segundo fogo nunca foi registado)

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Paulo Cunha / Lusa

Incêndio em Pedrógão Grande

Um novo relatório, encomendado pelo Governo, conclui que o grande incêndio de Pedrógão Grande começou por causa de uma linha de média tensão da EDP que terá entrado em contacto com a vegetação. Essa circunstância terá provocado dois fogos, em locais distintos, sendo que um deles nunca foi registado.

Este relatório encomendado pelo Ministério da Administração Interna à Universidade de Coimbra, no rescaldo do incêndio de Pedrógão Grande, que vitimou 64 pessoas, foi divulgado esta segunda-feira, no portal do Governo.

O documento com quase 250 páginas que foi elaborado pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais (CESIF) da Universidade de Coimbra, afasta causas naturais, como raios ou mão criminosa, e aponta “a convicção fundamentada” de que o incêndio terá sido causado “por contactos entre a vegetação e a linha eléctrica de média tensão” da EDP.

Essa circunstância terá levado a duas “ignições”, em Escalos Fundeiros e em Regadas, conforme aponta o relatório. E quanto ao incêndio de Regadas, nem a PJ, nem a GNR, ou sequer “a senhora Ministra da Administração Interna e o Secretário de Estado da Administração Interna” tinham conhecimento da sua existência, refere o documento.

“O incêndio de Regadas foi menosprezado, tendo até à junção com o incêndio de Escalos Fundeiros, apenas um meio pesado de combate terrestre dedicado. Não há registo oficial deste incêndio, que foi de grande relevância e várias entidades desconheciam até a sua existência”, frisa o relatório, considerando que esta circunstância não permitiu dominar o fogo atempadamente, contribuindo decisivamente para a tragédia.

O CESIF faz ainda questão de responsabilizar a EDP pela “deficiente gestão de combustíveis na faixa de protecção da linha” e alerta que este alegado desmazelo da eléctrica pode ser a origem de outros incêndios pelo país.

EDP diz-se “chocada” e nega conclusões do relatório

“Estamos estupefactos, até chocados com as conclusões do relatório”, é a reacção do presidente do Conselho de Administração da EDP Distribuição, João Torres, perante as conclusões do relatório, em declarações à TSF.

Este responsável assegura, já em declarações à Lusa, que a linha eléctrica estava com a protecção “bem constituída”, refutando, assim, as conclusões do documento elaborado pelo CESIF.

João Torres garante que tinha sido efectuada uma inspecção “muito recentemente”, pelo que diz que a EDP Distribuição está “confortável” e certa de que a linha estava com “a protecção bem constituída”.

“Nós investimos anualmente cerca de cinco milhões de euros na manutenção das faixas de protecção, todos os anos fazemos a inspecção visual, com laser e helicóptero, de 14 mil quilómetros, fazemos um trabalho no terreno em 7.500 quilómetros destas faixas, e é com alguma surpresa que somos apontados como tendo menos cuidado neste trabalho”, afirma ainda o responsável da eléctrica nacional.

Críticas à remodelação no comando da Protecção Civil

Este novo relatório sobre Pedrógão antecipa aquilo que aconteceu, entretanto, neste domingo, 15 de Outubro, com vários incêndios pelo país, no pior dia do ano em termos de fogos em Portugal, com um desfecho trágico de 37 mortes.

O relatório do CESIF questiona também a necessidade da “remodelação profunda” que foi feita no início de 2017 na estrutura de comando da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), considerando que o processo de nomeação dos comandantes distritais “foi concluído demasiado tarde“, muito em cima da época de incêndios.

“A função de comando no sistema nacional ou distrital da ANPC requer qualificações e experiência que não são fáceis de adquirir em pouco tempo”, considera o documento.

“Por muito rico que o nosso país seja em pessoas, com as qualificações e experiência requeridas para o exercício destes cargos, parece-nos que se deveria ponderar a conveniência de substituir ou manter em serviço pessoas com provas dadas, para assegurar a estabilidade do sistema e, por outro lado, de dispor de critérios e escolha muito exigentes para a escolha e nomeação de novos comandantes”, frisa o relatório publicado no portal do Governo.

Aquando da tragédia em Pedrógão Grande, alguns comandantes e ex-comandantes da Protecção Civil questionaram as profundas alterações levadas a cabo no comando da ANPC, acusando que tiveram motivações políticas, com o intuito de nomear “boys” do PS.

O relatório da Comissão Técnica Independente que analisou as circunstâncias do incêndio de Pedrógão Grande aponta também falhas graves no comando de operações da Protecção Civil, nomeadamente no combate inicial ao incêndio.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. A EDP está chocada… então porque é que passados 15 dias dos incêndios de Pedrógão andaram pelo País a fazer limpeza de ramagenst e a podar árvores nas proximidades das linhas de média/alta tensão?
    Aparentemente eles já saberiam de alguma coisa e quiseram limpar responsabilidades.

  2. Não é nenhuma novidade, no concelho de Oleiros já aconteceu por diversas vezes. a ultima aconteceu no inicio desta época de fogos no lugar de Banhado – Oleiros.

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