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Alexei Navalny estaria a ser vigiado quando adoeceu

O opositor russo Alexei Navalny, crítico do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, que está em coma no Hospital Charité em Berlim, estava a ser vigiado por agentes dos serviços de secretos de Moscovo antes de adoecer, segundo avança um jornal russo.

De acordo com a agência Reuters, o jornal russo Moskovski Komsomolets cita fontes de segurança detalhando os dias anteriores de Navalny, durante uma viagem a Novosibirsk e Tomsk, na Sibéria.

O jornal publicou informação sobre o que Navalny comeu, os veículos em que se tinha deslocado e até ao facto de terem sido reservados mais quartos de hotel do que os necessários para a equipa e de Navalny não ter dormido naquele que estava em seu nome.

A escala da vigilância não é nada surpreendente, estávamos perfeitamente conscientes dela antes”, disse a secretária para a imprensa Kira Iarmish. “O surpreendente é que não se tenham coibido em descrevê-la”.

O responsável pela sua sede de campanha, Leonid Volkov, questionou a necessidade de ter “um enorme número de agentes à civil, de vigiar todos os movimentos, hotéis, encontros” de Navalni. “Peço desculpa mas porquê? Será Navalny um criminoso procurado?

Alexei Navalny voava de Tomsk para Moscovo quando desmaiou na quinta-feira. O avião teve de fazer uma aterragem de emergência em Omsk, na Sibéria ocidental. Navalny ficou internado no hospital de Omsk, onde foi colocado nos cuidados intensivos, ligado a um sistema de apoio à vida.

A porta-voz do opositor russo disse que o político terá consumido veneno no chá que bebeu ao início da manhã de quinta-feira num café do aeroporto, antes de embarcar no avião.

Segundo Kirill Martinov, editor de política do jornal independente Novaia Gazeta, não há explicação para o coma de Navalni que não seja o envenenamento com o objectivo de o matar ou deixar incapacitado. “Os médicos, sob tutela próxima das autoridades competentes, foram dando versões cada vez mais contraditórias e absurdas do que teria acontecido, desde envenenamento com uma substância encontrada nos copos de plástico até uma baixa do açúcar no sangue aguda e espontânea”, escreveu o jornalista.

Inicialmente, os médicos recusaram o transporte de Navalny para um hospital em Berlim, devido ao seu estado de saúde “instável”, tendo essa autorização sido dada posteriormente. A transferência de Navalny num avião com pessoal médico para tratar um possível envenenamento foi paga pelo empresário e filantropo russo Boris Zimin, radicado nos Estados Unidos.

Navalny foi preso a 24 de julho de 2019 na capital russa, em plena escalada do protesto devido à rejeição de candidatos da oposição às eleições locais agendadas para 8 de setembro. Mais tarde, foi condenado a 30 dias de prisão por “repetidas violações das regras de organização das manifestações”.

Nesse mesmo ano, Navalny foi levado às pressas da prisão para um hospital, onde cumpria pena após uma prisão administrativa, com o que a sua equipa disse ser suspeita de envenenamento. Na altura os médicos disseram que ele teve um grave ataque alérgico e mandaram-no de volta para a prisão no dia seguinte.

Principal opositor a Vladimir Putin, o advogado, cujas publicações anticorrupção são amplamente partilhadas nas redes sociais, já sofreu ataques no passado.

Em 2017, Navalny foi pulverizado nos olhos com um desinfetante quando deixava o seu escritório.

Navalny, os seus apoiantes e famílias são regularmente submetidos a prisões, revistas e pressão policial em toda a Rússia. maioria dos oponentes moscovitas atualmente cumpre penas curtas de prisão, enquanto a organização de Navalny, o Fundo Anticorrupção, está sob investigação por “lavagem de dinheiro”.

A justiça russa chegou a congelar a 8 de agosto as contas da organização, depois do Comité de Inquérito russo ter anunciado a abertura de um processo judicial contra aquela entidade liderada por Navalny, acusado de receber ilegalmente cerca de mil milhões de rublos (13,6 milhões de euros). Também as casas de vários colaboradores foram então alvo de buscas.

O fundo de luta contra corrupção, gerido por Navalny, está na origem de vários inquéritos sobre a vida faustosa e a corrupção de membros da elite russa. Ignorado pelos meios de comunicação social públicos, Navalny é muito comentado nas redes sociais, nas quais as suas publicações contabilizam sempre muitas partilhas.

Uma das publicações, que acusa o primeiro-ministro, Dmitry Medvedev, de estar à frente de um império imobiliário, totalizou 31,5 milhões de visualizações no YouTube.

Numa outra investigação, o Fundo Anticorrupção acusa a vice-presidente da câmara de Moscovo, Natalia Sergounina, de desviar milhões de rublos de dinheiro público da administração do parque imobiliário da cidade.

ZAP // Lusa

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