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Primeiro-ministro desmente Salvini: Itália não vai recensear ciganos

Presidenza della Repubblica / Wikimedia

Giuseppe Conte, primeiro-ministro de Itália

O chefe do Governo italiano assegurou, esta terça-feira, que o recenseamento dos ciganos, que o seu ministro do Interior quer fazer, não se vai concretizar por ser inconstitucional.

“Ninguém quer fazer registos ou recenseamentos baseados em etnias, porque seria sobretudo inconstitucional e é totalmente discriminatório”, declarou Giuseppe Conte, em comunicado.

O texto de Conte, que lidera um Governo de coligação entre a Liga, de extrema-direita, dirigida por Matteo Salvini, e o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E), foi divulgado depois das polémicas declarações do ministro do Interior, que avançou a possibilidade de fazer o recenseamento das comunidades ciganas.

Salvini propôs, na segunda-feira, um recenseamento da comunidade cigana para facilitar, entre outras possibilidades, a expulsão dos que tiverem nacionalidade estrangeira e estiverem em situação ilegal, uma vez que, nas suas palavras, “os ciganos italianos, infelizmente, tens de ficar com eles”. As palavras de Salvini, que tem o estatuto de vice-primeiro-ministro, causaram uma indignação generalizada, inclusive dentro do Governo.

O outro vice-primeiro-ministro, Luigi Di Maio, dirigente do M5E, aliado da Liga nesta coligação, lembrou que o recenseamento de parte da população em bases étnicas é contrário à lei italiana.

A Constituição proíbe qualquer distinção por “sexo, raça, língua, religião, opiniões políticas ou condição pessoal ou social”, recordaram vários políticos e diversas organizações cívicas e próximas dos ciganos.

A Comissão Europeia, questionada sobre o assunto, recordou que não se pode, por regra, “expulsar um cidadão europeu na base de critérios étnicos”.

Em reação às críticas, Salvini reafirmou a sua posição: “Não cedo e vou em frente! Primeiro os italianos e a sua segurança”, escreveu na sua conta pessoal do Twitter.

Para o provar, felicitou-se com a destruição de um acampamento cigano ocorrida em Carmagnola, uma pequena cidade administrada pela Liga, perto do Turim. “Da palavra à ação”, afirmou Salvini, que tinha prometido durante a campanha eleitoral arrasar os acampamentos de ciganos com bulldozers.

Não há números oficiais sobre os ciganos em Itália, mas uma associação próxima desta comunidade estima-os entre 120 mil e 180 mil, na sua maioria com nacionalidade italiana. A oposição de esquerda criticou fortemente a posição de Salvini, acusando-o de desenterrar as leis raciais votadas no período fascista nos anos 1930.

O ex-presidente da região da Lombardia, Roberto Maroni, da Liga Norte como Salvini, quando foi ministro do Interior durante o Governo de Sílvio Berlusconi, entre 2008 e 2011, queria registar as impressões digitais das crianças de etnia cigana, mas o procedimento foi detido pela justiça italiana.

Salvini, de 45 anos, tem ocupado em premência as primeiras páginas desde a sua nomeação para o cargo, no dia 1 de junho. Na semana passada, por exemplo, esteve em destaque pela sua oposição à entrada num porto italiano do Aquarius, um navio humanitário com 630 migrantes resgatados no Mediterrâneo.

O Governo italiano pediu a Malta que acolhesse os migrantes, mas o Executivo maltês defendeu que a responsabilidade era de Itália porque as operações de salvamento ocorreram numa zona marítima coordenada por Roma.

Face ao impasse, Espanha ofereceu-se para acolher os migrantes, tendo o Aquarius efetuado a viagem em direção a Valência escoltado por duas embarcações da Marinha italiana, com as quais repartiu os migrantes que se encontravam a bordo.

Os migrantes atracaram, no passado domingo, no porto de Valência, com uma maior percentagem de patologias do que as esperadas pelos profissionais de saúde, embora sejam consideradas leves.

ZAP // Lusa

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