O Presidente da República, o presidente da Assembleia da República, o Governo e os representantes dos partidos reúnem-se esta terça-feira com peritos de saúde pública de várias instituições para uma análise da evolução da pandemia de covid-19 no país.
A 20.ª reunião de peritos ocorre na semana em que o Governo vai decidir se Portugal avança para a quarta e última fase do plano de desconfinamento, que está prevista iniciar-se a 3 de maio.
André Peralta Santos, especialista da Direção-Geral da Saúde, começou por fazer uma análise da situação epidemiológica do país.
Com o número de casos e de mortes a diminuir significativamente, “nas últimas duas semanas houve uma tendência estável da incidência a 14 dias.
É um bom sinal”, sublinha Peralta Santos, assinalando, porém, que “nos grandes centros urbanos há tendência de crescimento”.
A cerca de uma semana de se avançar para a última fase do processo de desconfinamento, “todos os grupos etários estão abaixo da incidência com que começámos a 15 de março. exceto o grupo dos 10 aos 20 que está ligeiramente acima”, refere o especialista.
Por outro lado, a população a cima dos 80 anos mantém a tendência decrescente e a diferença, relativamente às restantes faixas etárias, já se mostra muito expressiva.
Relativamente às hospitalizações, Peralta Santos aponta dados “claramente positivos”, nomeadamente o facto de a ocupação dos cuidados intensivos ter baixado das 100 camas ocupadas.
Atualmente, é o grupo dos 50 aos 79 que tem maior incidência na hospitalização, ainda que os números estejam muito abaixo do que já estiveram quando atingimos o “pico”.
O número de mortes também mantém “uma tendência decrescente”.
O investigador destaca Paredes, Penafiel e Paços de Ferreira como focos de “alguma preocupação”. Odemira é a boa notícia, tendo invertido a tendência e estando a reduzir o volume de incidência.
Os municípios que regrediram ou que não avançaram estão a esboçar uma tendência decrescente ao nível da incidência, e os que avançaram apresentam uma linha “estável”, sem recuos, mas também sem aumentos preocupantes.
Ao nível regional, todas as regiões se encontram abaixo dos níveis de risco, embora o Norte esteja com um Rt de 1,05. O especialista alerta que a linha de perigo “pode ser atingida de duas semanas a um mês, se não for invertida com efeito das medidas de contenção implementadas”.
Tendo em conta o efeito da vacinação, nota-se “o benefício e o impacto de atingirmos níveis de cobertura vacinal elevados nos grupos etários para reduzir a incidência”, refere o epidemiologista Baltazar Nunes.
O investigador frisa que a “situação epidemiológica está controlada” e que isso só é possível graças “ao impacto do plano de vacinação, nomeadamente na população com 80 ou mais anos de idade”.
Fazendo uma comparação com o regresso dos alunos às escolas em setembro/outubro de 2020 e em março/abril de 2021, o especialista nota uma “diferença na intensidade das taxas de incidência”.
Baltazar Nunes refere que “os níveis de incidência nestes grupos etários são menores do que no início da abertura do ano escolar em 2020”.
A tendência aumentou em alguns grupos etários, mas “está muito aquém do aumento e incidência” da abertura das escolas de 2020 – o que “mostra que há um resultado bastante positivo” resultante da reabertura faseada.
Variante britânica e indiana
Os casos de covid-19 em Portugal continuam a dever-se sobretudo à variante do Reino Unido e a tendência é para que continue a aumentar.
A prevalência de 83% há cerca de duas semanas está agora nos 89% a 90%, segundo João Paulo Gomes, investigador do Instituto Ricardo Jorge (INSA).
A sequenciação das amostras virais indicam ainda que as restantes variantes, sobretudo de Manaus, Brasil, e da África do Sul também estão a aumentar. Há 73 casos da variante de Manaus, 44 dos quais detetados nos últimos 15 dias, e 64 da África do Sul, 11 durante as últimas duas semanas.
Os peritos do INSA estimam sequenciar 1.800 amostras virais durante o mês de abril, cobrindo 20% a 21% dos casos de infeção e muito acima dos 5% a 10% recomendados pela Comissão Europeia. Só na última semana, foram analisados 550 vírus.
João Paulo Gomes disse ainda que Portugal já tem casos da variante mais recente do coronavírus pandémico: a variante indiana.
Até ao momento, há registo de seis infeções devidas a esta nova variante, todas na região de Lisboa e Vale do Tejo. Segundo o investigador, os seis casos resultam de três introduções distintas.
Importância da vacinação
O vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task force, refere que o processo de vacinação teve uma evolução positiva.
O responsável garante que entre hoje e amanhã, Portugal vai atingir “os 3 milhões de vacinas inoculadas só no continente. A nível nacional já ultrapassamos 3 milhões de vacinas inoculadas”, destaca, acrescentando que no final da semana se estima ter “mais de 22% da população vacinada com a primeira dose”, o que já garante uma “proteção bastante acentuada”.
Sublinha ainda que a faixa etária dos 80 anos está totalmente vacinada, com algumas exceções, sendo que no final da semana estima-se atingir cerca de 100% desta população vacinada.
Gouveia e Melo prevê que na semana de 23 de maio, o país também tenha o grupo dos 60 anos para cima coberto pela vacinação.
No terceiro trimestre, as duas vacinas com limitações de idades podem retirar ao plano 2,7 milhões de doses de vacinas, afirmou Gouveia e Melo. A meta dos 70% de proteção pode ser atrasada por este motivo, admite o vice-almirante.
Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, sublinha que a vacinação tem sido essencial para os resultados atuais. “Sem vacina, podíamos imaginar um retorno de um pico de infeção semelhante ao que aconteceu há alguns meses”, afirma.
O especialista considera que a vacinação poupou internamentos, infeções, vidas e sofrimento, por isso, é “fundamental continuá-la”, acrescentado que o risco de morte é “cerca de 5 vezes mais baixo do que no início da pandemia”.
Mesmo com as variantes mais letais e potencialmente mais transmissíveis e uma presença maciça da variante britânica, é possível “garantir aqueles valores em que acreditamos e que, por setembro, se tudo correr normalmente, esperamos não ter casos”, afirmou o especialista.
“Substância e clareza”
Marcelo Rebelo de Sousa, também presente na reunião do Infarmed, agradeceu aos intervenientes pela “substância e clareza”, bem como “a todas as equipas” que têm ajudado os responsáveis políticos a tomar as suas decisões.
O Chefe de Estado sublinhou que “o progresso da vacinação, que merece ser destacado, vai acompanhando a par e passo muita da gestão da pandemia e da própria evolução da pandemia”, diz, notando que isso foi referido em praticamente todas as intervenções dos peritos.
Marcelo saúda também a decisão de aumentar a primeira dose no maior número de pessoas (como fez o Reino Unido) em vez de privilegiar a segunda dose em caso de escassez de vacinas no plano imediato.
Ferro Rodrigues corrobora a intervenção de Marcelo, dizendo que especialistas foram “esclarecedores”.
Por fim, António Costa segue a mesma linha e refere que “as intervenções foram particularmente claras e ajudam a tomar as decisões que temos de tomar esta semana”.
A fase atual da pandemia permite dar descanso aos decisores para pôr fim ao estado de emergência.
O Presidente da República fala esta terça-feira ao país, às 20h, confirmou fonte de Belém.
Coronavírus / Covid-19
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“Marcelo saúda também a decisão de aumentar a primeira dose no maior número de pessoas (como fez o Reino Unido) em vez de privilegiar a segunda dose em caso de escassez de vacinas no plano imediato.” Boa! Como os outros fazem m.rd., vamos fazer também. Com esta decisão vai-se acabar por perder o pau e a bola, ou seja, Vamos ter uma data de gente vacinada com a primeira dose e sem a segunda porque, entretanto ainda não veio vacinas. É contar com o ovo no dito cujo da galinha. é que depois o vacinado vai ter de ser vacinado de novo porque o tempo entre as duas doses foi ultrapassado. Desperdício de vacinas qua ainda são raras! Mas o Marcelo saúda! Também vai saudar quando a coisa der para o torto.
Estão todos a contar com a vacinação para conseguir dar a volta á total falta de cuidado da população e, depois, dão uma facada nessa ferramenta! Boa! Mas, quando o confinamento tiver que regressar, vão todos dar uma de Jorge Jesus. A culpa não é minha! É das variantes (que não se controlaram preventivamente)! Boa!