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Humorista acusado de terrorismo por comentário a Je Suis Charlie

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Dieudonné / Facebook

Dieudonné, humorista francês

Dieudonné, humorista francês

O Ministério Público francês abriu um processo ao humorista francês Dieudonné por “apologia do terrorismo”. Em causa está o facto de o polémico artista, conhecido pelas suas piadas anti-semitas, ter dito que se sentia “Charlie Coulibaly”.

O caso foi originado por uma publicação de Dieudonné na sua página do Facebook, depois de ter participado na Marcha que juntou diversos lideres mundiais, em Paris, no passado domingo, para marcar uma posição contra o terrorismo, no seguimento dos atentados em França, nomeadamente ao jornal satírico Charlie Hebdo, onde morreram 12 pessoas.

A publicação foi entretanto apagada, mas é reproduzida pelo jornal francês Le Monde nos termos seguintes:

Depois desta marcha heróica, o que digo… lendária! Instante mágico igual ao big-bang que criou o Universo… Ou, numa medida menor (mais local), comparável ao coroamente de Vercingétorix. Entro, enfim, em casa. Saibam que esta noite, no que me concerne, sinto-me Charlie Coulibaly“.

As palavras de Dieudonné já foram consideradas uma “abjecção” pelo ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, que também disse que espera que sejam severamente punidas. O governante fala numa “irresponsabilidade, um desrespeito”, lamentando a “propensão deste indivíduo para atiçar o ódio e a divisão”.

Dieudonné, por seu turno, lamenta que o Estado continua a complicar-lhe a vida, tratando-o como “o inimigo público número um”, enquanto diz que só tenta “fazer rir”, até da morte, “porque a morte ri-se bem de nós”, atira.

Consideram-me como um Amedy Coulibaly, enquanto eu não sou diferente de Charlie“, defende o humorista, abrindo assim o debate em torno da liberdade de expressão, numa altura em que o tema está mais quente do que nunca.

O racismo, o anti-semitismo, o negacionismo, a apologia do terrorismo não são opiniões, são delitos“, já veio dizer o primeiro-ministro Manuel Valls, citado pelo Le Monde.

Várias autarquias francesas estão a planear interditar os espectáculos de Dieudonné, que já foi alvo de intervenções similares no passado. A justiça chegou a proibir diversas actuações do humorista que já foi condenado, em diversos processos (mais de 80, segundo o próprio humorista), por anti-semitismo, difamação, incitamento ao ódio e discriminação racial.

Em 2014, publicou na Internet um vídeo onde comparava o assassinato do jornalista americano James Foley, decapitado pelo Estado Islâmico, às mortes de Kadhafi, na Líbia, e de Saddam Hussein, no Iraque, concluindo que “a decapitação simboliza o progresso, o acesso à civilização“. E tiradas como “os maiores vigaristas do mundo são os judeus” granjeiam-lhe muitas críticas e processos q.b.. Paralelamente, Dieudonné tem uma legião de fãs e os seus espectáculos costumam ser bastante requisitados.

Agora, arrisca vir a ser condenado a 7 anos de prisão, à luz da Lei que condena a apologia do terrorismo datada de 13 de Novembro de 2014, pelo que escreveu no Facebook.

Susana Valente, ZAP //

7 Comments

  1. Então mas… E os direitos de liberdade de expressão?!
    Parem de se acusar mutuamente… Parem de começar guerras por tudo!!! Parem!!! Se somos livres… A liberdade tem que ser igual para todos…

  2. Enquanto não houver respeito mútuo pelas diversas raças e credos, esqueçam, vão haver sempre guerras.
    A humanidade ainda tem que amadurecer.

  3. Há muito tempo que temos de distinguir entre o bom jornalismo e mau. Não podemos permitir excessos na liberdade de opinião, pois a liberdade de uns começa onde termina a liberdade de outros.

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