“Charlie Hebdo indestrutível e universal!” É deste modo que o jornal satírico francês assinala os 10 anos do atentado terrorista de que foi alvo em Janeiro de 2015, e onde morreram 12 pessoas.
No dia em que se assinalam 10 anos do trágico atentado que matou oito elementos da redacção do Charlie Hebdo em Paris, o jornal satírico francês publica um número especial com 32 páginas e 300 mil exemplares impressos que inclui reportagens, entrevistas e cartas dos leitores.
Mas o destaque vai para uma série de caricaturas sobre o tema #RiredeDieu (rir de Deus na tradução para Português) que foram recolhidas no âmbito de um concurso internacional lançado em 2024, junto de ilustradores de imprensa de todo o mundo.
Estes ilustradores foram desafiados a “desenharem a sua raiva contra a influência de todas as religiões nas suas liberdades”.
O resultado foram 350 desenhos, dos quais o jornal publica 40, tendo sido escolhidos “os mais eficazes e os mais bem executados”, como descreve o jornal francês Ouest-France que teve acesso ao número especial.
76% dos franceses defendem caricatura como liberdade de expressão
O Charlie Hebdo publica ainda, neste número especial, os resultados de um estudo do Instituto Ifop para a Fundação Jean-Jaurès que foi realizado em 2024, e que indica que 76% dos franceses estimam que “a liberdade de expressão é um direito fundamental” e que “a liberdade de caricatura faz parte” dessa liberdade.
Entre os inquiridos, 62% também são favoráveis ao “direito de criticar de maneira ultrajante uma crença, um símbolo ou um dogma religioso”.
“Se queremos rir é porque queremos viver. O riso, a ironia, a caricatura são manifestações de optimismo. Aconteça o que acontecer, dramático ou feliz, a vontade de rir nunca desaparecerá”, salienta o cartoonista Riss no seu editorial no jornal.
Increvable !
Notre numéro spécial 7 janvier de 32 pages :
👉 Sondage Ifop : les Français sont pour la caricature
👉 Les résultats de notre concours #RireDeDieu
👉 Caricatures de Mahomet : récit d’une manipulation
👉 L’histoire des miracles de Charlie à l’usage des mécréants pic.twitter.com/wv8ETkKpML— Charlie Hebdo (@Charlie_Hebdo_) January 6, 2025
dessin de @cocoboer dans le @Charlie_Hebdo_ numéro 1695 du 7 janvier 2025#CharlieHebdo pic.twitter.com/4xlDsZvQms
— Sara Afonso 🎗️ (@saraafonsoCRR) January 7, 2025
O ataque terrorista de 7 de Janeiro de 2015 matou 12 pessoas, oito das quais pertenciam à redacção do Charlie Hebdo, incluindo os desenhadores Cabu, Charb, Honoré, Tignous e Wolinski, a psicanalista Elsa Cayat, o economista Bernard Maris e o revisor Mustapha Ourrad.
Il y a 10 ans, notre pays était durement frappé. Des policiers, des jeunes manifestants leur joie de vivre, des Français juifs, des journalistes, des dessinateurs étaient touchés. Tout ce qui fait ce que nous sommes.
Le président de la République @EmmanuelMacron a voulu que… pic.twitter.com/T8nZr8ur0z
— Rachida Dati ن (@datirachida) January 7, 2025
O ataque foi realizado pelos irmãos Kouachi, cidadãos franceses inspirados pela Al-Qaida, depois de várias ameaças feitas ao jornal satírico devido à publicação de caricaturas do profeta Maomé em 2006.
O ataque gerou uma onda de dor e de apoio ao jornal a nível mundial, dando origem ao slogan “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie) que foi amplamente partilhado nas redes sociais.
Após o atentado, o Charlie Hebdo republicou, por várias vezes, as caricaturas de Maomé apesar das críticas do mundo muçulmano e das muitas ameaças de organizações terroristas islâmicas.
These are the Charlie Hebdo Cartoons that terrorists thought were worth killing over. pic.twitter.com/V6B24kf8FM
— Neo Petrović (@NatasaZaza) January 7, 2025
Director que decidiu publicar caricaturas não se arrepende
Os 10 anos do ataque estão a ser assinalados nesta terça-feira, em França, com a presença do actual presidente francês, Emmanuel Macron, e do anterior, François Hollande, que estava no poder aquando do atentado.
Também participam nas cerimónias vários ministros, a presidente de Câmara de Paris, Anne Hidalgo, bem como familiares das vítimas.
O ex-director do Charlie Hebdo, Philippe Val, que decidiu publicar as caricaturas de Maomé, refere ao jornal Le Parisien que não se arrepende dessa decisão.
Antes da publicação, Val diz que convocou uma reunião “com toda a equipa do Charlie para pedir a sua opinião e se apenas um não quisesse, não teríamos publicado”, assegura.
“Mas não me arrependo, tinha de ser feito”, sublinha ainda, frisando que “a luta ainda não acabou” e que “as coisas não estão melhores hoje”.
Val também relata que vive “sob protecção desde esse dia”, há 10 anos.
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