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Filhos e enteados na relação Governo-esquerda. Pedro Nuno Santos vai lançando avisos

Manuel de Almeida / Lusa

Catarina Martins, Jerónimo de Sousa, António Costa

A geringonça está enterrada. Atualmente, os contactos entre o Governo e a esquerda fazem-se a ritmos diferentes: com o Bloco, há reuniões sem um ritmo regular; o PCP encontra-se semanalmente com o OE na agenda; enquanto o PAN fala com o Governo, mas sem periodicidade. Face ao desequilíbrio da balança, Pedro Nuno Santos vai lançando avisos.

Depois de o Bloco de Esquerda ter votado contra o último Orçamento do Estado, a relação entre o partido e o Governo já não é o que era e faz-se de encontros muito pontuais. Segundo apurou o Observador, as reuniões acontecem quando o Executivo de António Costa as convoca e nunca de forma regular.

Matérias orçamentais ou negociações sobre apoios económicos e sociais não marcam presença na mesa de negociações entre o Bloco de Esquerda e o Governo – o que, para o partido, é sinal de que o Executivo alimenta a ideia de abertura negocial, mas já não estará a contar com o BE.

Esta não é a versão do Governo, que considera que as reuniões acontecem sempre que se justifica. No futuro, e sempre que for o caso, o Bloco será chamado a São Bento e contará com “disponibilidade total” para conversar, garantiu fonte do Executivo ao diário, acrescentando que os bloquistas nunca pediram nenhuma reunião ao Governo.

O PCP – aquele que é quase como um braço direito – reúne-se quinzenalmente com o Governo para discutir execução do último Orçamento do Estado, que os comunistas viabilizaram. Este é, segundo a mesma fonte, o único partido com o qual existe essa “âncora”, ou essa periodicidade definida.

Tal é explicado pelo grande número de medidas dos comunistas que foram aprovadas no Orçamento anterior – isto significa que, quanto mais medidas incluídas no papel, mais contas a prestar no rescaldo.

Com o PAN e com o PEV, os contactos vão-se fazendo à medida do necessário.

Elogios para o PCP, ironia para o Bloco

António Costa desdobra-se em elogios quando se trata do Partido Comunista Português. A 6 de março, no dia do centenário, o primeiro-ministro parabenizou o PCP no Twitter.

O momento foi aproveitado por Costa para congratular pela “forma franca” como os partidos têm conseguido nos últimos anos “encontrar respostas comuns para os problemas do país e dos portugueses, no respeito da identidade própria de uma esquerda plural”.

Já na quarta-feira, no debate bimestral, Costa pediu a Catarina Martins para que se lembrasse das “excelentes memórias” da legislatura passada (leia-se geringonça) e não se “afastasse” delas, com um tom irónico e algo nostálgico. ,

Segundo o Observador, o governante sublinhou ainda que, no ano anterior, o Executivo acabou a contar apenas com o PCP para as contas orçamentais.

Pedro Nuno Santos sopra avisos (e BE apanha-os)

Na intervenção de Pedro Nuno Santos num evento virtual da Juventude Socialista, vários bloquistas prestaram atenção à declaração em que o ministro insistiu na necessidade de cooperar com a esquerda e de não agir como se o Governo tivesse maioria absoluta. O governante também pediu que a geringonça não se resuma a um “parênteses” na história da democracia portuguesa.

Pedro Nuno Santos insiste que o caminho certo para o PS crescer é apostar numa polarização à esquerda para se estender e conquistar o centro. No Bloco de Esquerda, há quem acredite que seria mais fácil existir a tal polarização à esquerda se a decisão passasse pelo próprio ministro.

Um dirigente frisou ao matutino que “o apoio do PCP e do PAN ao Governo impedem Pedro Nuno de fazer a sua campanha à esquerda no PS”. “Agora, vale o que Costa quer. O tempo está a correr a favor do Governo.”

Liliana Malainho, ZAP //

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