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Extras quase duplicam o salário de deputados

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António Cotrim / Lusa

No ano passado, o Estado terá gasto 3.221.092,76 euros só a cobrir deslocações feitas por deputados. Em 2018, os mesmos gastos já vão nos 1.206.140,86 euros.

Há deputados na Assembleia da República que podem ver o seu vencimento duplicar graças aos apoios e subsídios que lhes são dados pelo Estado, como o das viagens insulares que envolveram em polémica o líder parlamentar do PS, Carlos César, entre outros deputados.

De acordo com as contas do Jornal de Notícias, só durante o ano passado o Estado terá gasto 3.221.092,76 euros a cobrir deslocações feitas por deputados – ir e vir para casa ou em trabalho político no seu círculo eleitoral. Em 2018 os mesmos gastos já vão nos 1.206.140,86 euros.

Muitos dos valores que ajudam a duplicar o salário dos deputados relacionam-se com as viagens que alguns deputados têm de fazer entre os seus círculos eleitorais e a Assembleia da República. É o exemplo de um deputado do Porto que recebe mais de 800 euros por mês (0,32 euros por quilómetro, duas viagens de ida e volta por semana).

Mas a estes valores somam-se outros, como aquele que é atribuído como forma de ajuda ao trabalho de proximidade feito com o eleitorado, que segundo a organização dos trabalhos parlamentares acontece sempre à segunda-feira.

Segundo o jornal, este valor é cedido todos os meses e ronda os 376,32 euros, tendo a particularidade de não necessitar de nenhum comprovativo, isto é, os deputados não precisam de provar que este valor foi utilizado para cumprir a função que lhe é devida.

Como a segunda-feira está reservada ao trabalho de proximidade com o eleitorado, depreende-se que o trabalho parlamentar ocorre entre terça e sexta-feira. Para cada um desses dias, está prevista uma senha de presença no valor de 69,19 euros, dada aos deputados que residam fora da Área Metropolitana de Lisboa (23,05 caso residem dentro desses mesmos concelhos).

Mas, contabilizando senhas de presença, apoio para deslocações e para trabalho com o eleitorado, um deputado eleito no círculo do Porto, por exemplo, pode chegar a receber 2200 euros, mais o seu salário base. Feitas as contas, os deputados podem quase duplicar o seu salário só com subsídios e apoios.

Paulo de Morais, presidente da Frente Cívica, disse ao JN que esta realidade “chega a ser vexatória para a generalidade da população, sobretudo para os dois milhões de portugueses com o salário mínimo”.

“Não há qualquer razão para que a Assembleia da República não tenha um sistema de compensações de despesa idêntico ao de qualquer empresa“, dando aos deputados apenas “direito ao salário e a uma compensação por estarem longe de casa. E ponto.”

Além disso, para Paulo Morais, os deputados só devem ter direito a ajudas de custo mediante a apresentação de comprovativos de despesas. “Com a situação atual, os vários subsídios a que os deputados têm direito são regalias.”

Deputado do PS revela recibos de ordenado no Facebook

Ascenso Simões, deputado do PS, publicou esta segunda-feira de manhã nas redes sociais os recibos de vencimento como deputado na Assembleia da República. Ao Observador, o deputado revela que, na sua opinião, existe “uma deriva de ataque aos deputados e às suas realidades próprias”.

“Dadas as circunstâncias do momento que vivemos, eu devo essa explicação aos eleitores do meu distrito”, afirma o deputado eleito por Vila Real. Ascenso Simões manteve sempre a residência no seu círculo de eleição.

No vencimento que expôs esta manhã no Facebook, o deputado socialista mostra que recebeu, no mês de abril, 1.920,72 euros com os subsídios que os deputados têm direito por deslocação, no seu caso num círculo que fica quase a 400 km de Lisboa. Também mostra a folha relativa à remuneração enquanto deputado, que totaliza 3.693,83 euros líquidos.

Sobre a polémica dos salários dos deputados, o político diz que não é nova. Na sua publicação, Ascenso Simões diz-se “disponível para explicar cada parcela”.

Na primeira folha consta um vencimento ilíquido de 3.624,41 euros, a que se somam ajudas de custo (69,19 euros\dia em 23 dias de presenças em trabalhos parlamentares) no valor de 1.591,37 euros. O deputado explica ainda os 370,32 euros relativos ao regime de exclusividade que surgem “erradamente” indicados como “despesas de representação”.

Já na segunda folha, surgem as despesas com deslocações. As primeiras são relativas a viagens no país em trabalho parlamentar, um valor fixo definido pelo Parlamento de 376,32 euros por trabalho político em território nacional. A parcela maior é relativa às deslocações de ida e volta para o local de residência durante as cinco semanas do mês: 1.371,60 euros.

Já as deslocações para trabalho político no distrito chegaram a 172,80 euros (36 cêntimos por quilómetro, pela distância que vai da sede do distrito até à sede do concelho onde reside, ida e volta), escreve o Observador.

ZAP //

16 Comments

  1. Compreendia-se se realmente trabalhassem no duro. No entanto o que passa cá para fora é a constante oposição entre as ideias uns dos outros. Sei que se pode viver de muitas formas possíveis, bem ou mal, mas o que é melhor para uns é sempre péssimo para outros. Não percebo. Depois estas vergonhas como se fossem seres superiores e não fossem à casa de banho como os outros.

  2. Quanto a mim, a mesma vergonha de sempre. Para eles “dar” um aumento ao povo é de 5 euros e já é com muito “custo”, depois metem uma taxa que tira esses 5 euros e ainda mais um pouco. Gente que nada faz, e ainda ganham mais do que ja é injusto para um politico que tem um exagero de bonificações, etc. Como disse uma vergonha!

  3. Extras que não têm qualquer justificação!Apenas um vencimento e mais nada e já é demais para a porcaria de exemplos que dão!!!

  4. E são só eles ??? Então e os os suplementos dos juízes? E casas de função? E os suplementos dos médicos, militares, policias etc…???

  5. Quem paga por tudo isto ganha o ordenado minimo, lutando diariamente para manter a dignidade humana, com direitos constitucionais sonegados, ( como o direito à habitação…) acham que vivem ainda na epoca vitoriana, ( com escravos) O 25 de abril ñ foi senão: A malga era pequena e dela só mamavam 2 ou 3, depois desse dia começaram os sem vergonha a mamar tudo!
    Tenham vergonha e façam como Edipo de Tebas:
    Ao ver que tinha morto o próprio pai, e casado com a propria mãe, dela tendo filhos, furou os próprios olhos e nunca mais voltou a Tebas.
    Com jovens em idade útil para trabalhar a dormir na rua, cheques dentistas dados a crianças com dentes de leite e ñ a adultos, etc…
    Portugal está condenado à extinção!

  6. Chego à conclusão de que: “Quem menos trabalha é quem mais recebe.” Têm bons ordenados, motorista, despesas de deslocação, ajudas de custas de habitação, enfim … nós os comuns dos mortais é que temos de sustentá-los. Portugal deveria copiar os bons exemplos da Europa (Suiça).

    • Sim. A Suíça é um belíssimo exemplo. Bem se vê que nunca lá foi. Se soubesse quanto ganham os gestores dos bancos onde todos os criminosos mundiais escondem o dinheiro, mandava já apagar esse comentário.

      • Quanto sei os bancos suíços são privados logo o salário dos gestores não são de origem pública.

        A partir deste ano passou a haver troca de informações com as entidades competentes sobre o dinheiro nos bancos suíços logo já não é o paraíso de antigamente.

        Portugal tem muito que aprender com a Suíça, nem tudo é perfeito mas ao menos recebesse um salário que permite viver com dignidade e todos os gastos públicos são declaradas ao povo, onde fazem plenários com a povoação e justificam para onde vai cada verba.
        Regra geral as obras públicas são feitas no tempo definido e com o orçamento definido ao contrário de Portugal…

        Estou a viver na Suíça por isso sei do que falo…

  7. Infelismente é o Portugal que é dos pequeninos pois não são todos iguais aos olhos do governo, senão vejamos por exemplo os professores que teem de se deslocar da sua area de residência alguns umas dezenas e até centenas de quilómetros se querem sobreviver sem as tais ditas ajudas.
    Este país é uma maravilha para alguns que a meu ver nem são os mais necessitados, enfim é o pais que temos em desgoverno para milhares e governado só e apenas para alguns.

  8. Ainda há para aí uns camelos afirmando que os deputados estão mal pagos !!!
    Uma autêntica vergonha, num país com o salário mínimo abaixo dos 600 euros e o salário médio pouco acima dos 800 euros.
    Mas veja-se os “moralistas” bloquistas e comunistas… algum deles abre a boca sobre estes valores obscenos somados a alcavalas imorais ?!? Pudera… eles também comem nesta gamela !
    Enquanto estes salários forem desta grandeza, os deputados não disputam os lugares acreditando no interesse público e numa missão de soberania, mas simplesmente como um modo de terem uma boa vida sem fazer um chavo. Há deputados que passam uma legislatura completa sem tomar a palavra uma única vez, sem fazer parte de qualquer comissão…
    Está chegada a altura de reduzir o número deste “mamões” para metade. 150 deputados chegava e sobrava para se porem em pé quando o “chefe” manda.

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